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Estado de Minas editorial

O desvirtuamento de uma rede

É importante resgatar a essência do LinkedIn como uma plataforma profissional que promove a conexão e o compartilhamento de conhecimentos relevantes


26/06/2023 04:00
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As redes sociais foram criadas para conectar pessoas e grupos que não podem, por algum motivo, estar juntas ou não tinham, até então, contato direto. Infelizmente, sabemos que o uso das redes depende das intenções de cada um dos indivíduos ou setores sociais representados. Facebook, Twitter e outras redes foram invadidas nos últimos anos por agentes do ódio, que fazem questão de espalhar mensagens de desagregação. Infelizmente, outra rede muito utilizada em todo o planeta, o LinkedIn, também enfrenta esse tipo de situação.
 
Originalmente criado como um espaço para conectar profissionais e compartilhar conquistas e conhecimentos do mundo do trabalho, o LinkedIn tem sido desvirtuado. Por lá, tragédias, problemas e dificuldades pessoais acabam se tornando material para textos motivacionais e corporativos vazios de empatia e respeito, embalados em um discurso pretensamente positivo. O exemplo mais recente ocorreu na semana passada, quando as buscas pelo submarino Titan, que havia desaparecido com cinco pessoas a bordo, que tentavam chegar nos destroços do Titanic, dominaram o noticiário.
 
Não tardou para que alguns usuários da rede vissem nisso uma oportunidade de capitalizar em cima da tragédia alheia. A partir de quinta-feira, quando partes do veículo foram localizadas no fundo do mar, confirmando a morte dos seus passageiros, no que se acredita ter sido uma implosão causada pela pressão da água, a publicação de postagens se intensificou ainda mais.
 
O teor dos textos criados varia entre supostas lições que empresas e gestores podem aprender a partir do desastre do Titan e usuários que usam o acidente do submarino para falar de si mesmos, vendendo e divulgando uma imagem de profissionais bem-sucedidos tendo a tragédia como pano de fundo. Os aparentes erros de condução da empresa OceanGate, responsável pelo submergível, serviram de combustível em uma fogueira que já estava acesa.
 
Quem utiliza as redes para explorar eventos trágicos para promover uma suposta mensagem motivacional revela uma falta de empatia e sensibilidade impressionante. Parece óbvio – e é – dizer que é profundamente desrespeitoso se aproveitar a morte de indivíduos para fins de autopromoção e ganho pessoal, ignorando a dor e o sofrimento que suas famílias estão enfrentando.
 
Além disso, a manipulação de tragédias para promover uma imagem corporativa positiva é uma prática no mínimo questionável e, obviamente, antiética. Ao vincular a morte de pessoas ao sucesso profissional, posts motivacionais deturpam a realidade e criam uma cultura tóxica, em que a busca incessante por conquistas é colocada acima do bem-estar humano.
É importante resgatar a essência do LinkedIn como uma plataforma profissional que promove a conexão e o compartilhamento de conhecimentos relevantes. Assim, é possível vislumbrar duas soluções para esse problema, infelizmente, nenhuma de fácil aplicação. A primeira, que seria a mais óbvia, é claramente a mais difícil: apelar para o bom senso dos usuários, para que evitem a exploração de tragédias como material para as publicações motivacionais e adotem uma postura ética, promovendo valores de respeito, compaixão e empatia. A outra saída é esperar que todo universo corporativo presente no LinkedIn – empresas, marcas e recrutadores – se posicionem contra esse tipo de texto nocivo e pernicioso.
 
Enquanto essas atitudes não mudam, o LinkedIn infelizmente tem de enfrentar esse tipo de desvirtuamento do seu objetivo original – e isso em uma das redes mais acessadas por profissionais do mundo inteiro. Por isso, é preciso fazer um apelo à razão. Para que haja a preservação de um ambiente que pode continuar a ser de extrema serventia para quem precisa se situar no mundo corporativo e buscar novas oportunidades de trabalho.


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