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Estado de Minas

O sonho do crescimento sustentável

A harmonia entre os três Poderes da República está tão confusa, pela interferência entre eles, que merece um capítulo à parte


24/06/2023 04:00
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Gilson E. Fonseca
Consultor de empresas

A primeira crise econômica depois da euforia do chamado “milagre brasileiro” nos anos 1970 aconteceu em 1982, seguidos 40 anos, outra crise em 2008. Com vários solavancos na economia, o Brasil vem caminhando sem crescimento sustentável. Nossa expansão vegetativa é muito grande, daí a maior necessidade de expansão da economia. No início de 1970 a população era de 90 milhões de habitantes, hoje já bate os 210 milhões, ou seja, mais do dobro. Até há pouco tempo perto de 2 milhões de pessoas se lançavam, por ano, ao mercado de trabalho. Hoje, diminuiu um pouco, como indicam estatísticas que o aumento populacional é de 0,83% ao ano.
 
A indústria brasileira decresceu 20% na última década, segundo o IBGE, fechando 800 mil postos de trabalho. É demasiadamente frustrante, pois a tendência mundial é depositar na indústria a força econômica. Se não fosse o agronegócio que contribuiu com 30% do PIB em 2022, nossa economia estaria em frangalhos. Sabe-se que 1% de crescimento do PIB só gera cerca de 500 mil empregos formais, além do que a automação e a inteligência artificial geram mais perdas de empregos que ganhos.
 
Vários fatores têm atrapalhado ou até mesmo impedido o crescimento econômico: política tributária anacrônica, falta de recursos para investir, corrupção endêmica, infraestrutura precária etc.. A dívida total do país (externa e interna) está na casa de 73% do PIB e só a federal beira 60% (RS 5,8 trilhões). Há comentaristas econômicos que tentam mitigar a preocupação da dívida brasileira, argumentando que a dos Estados Unidos ultrapassa 100% do PIB. Ora, é uma comparação tosca, já que esse país é o mais rico do planeta, e tem a infraestrutura toda pronta (saneamento, energia, estradas, aeroportos etc.).
 
O governo federal escolheu o Banco Central como culpado da Taxa Selic de 13,75% (mantida pelo Copom em junho) travar o crescimento, mas não faz o “dever de casa”. Ninguém nega que ela é alta, sobretudo para o próprio governo, que é o maior tomador de crédito. Entretanto, não se pode baixá-la com uma canetada, pois juros e inflação são irmãos siameses. O assunto é complexo, se a taxa de juros for baixa há fuga de capitais externos, onde o Brasil depende muito deles. Outro empecilho é o governo federal recorrer às atitudes ideológicas, como mostrar-se contra a venda de estatais, mesmo as deficitárias. O motivo é porque elas servem como cabide de empregos. Não por acaso a criação de 37 ministérios para abrigar tantos “companheiros” em todos os órgãos da União, aumentando o custo da folha de pagamento. A gastança está aos olhos de todos: viagens sem critérios, número exagerado de pessoas nas delegações e despesas em acomodações de luxo, como se o Brasil fosse rico. Como ter superávit primário para investir?!
 
A harmonia entre os três Poderes da República, prevista na Constituição de 1988, está tão confusa, pela interferência entre eles, que merece um capítulo à parte e é mais preocupante do que parece, porque, além de outros desarranjos, gera a nociva insegurança jurídica. Essa contingência afugenta investimentos internos e externos. Nada pior para um país que o descumprimento das leis pelas próprias autoridades e a falta de bons exemplos por parte delas. Só nos resta esperançar ou continuar sonhando.


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