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Cola no mestre ou na inteligência artificial?

É necessário encontrarmos um equilíbrio entre o aprendizado tradicional, baseado no contato com os mestres, engenheiros e a prática


03/05/2023 04:00

Cícero Sallaberry
Sócio-fundador da Construflow e gestor de grandes contas da Trutec

Ingressei na engenharia civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2004, já sabendo qual área gostaria de seguir. Queria ir para a obra porque gostava do dinamismo de um canteiro e, também, por ouvir do meu pai a seguinte dica: “Na obra, é onde toda a teoria tem que ser colocada na prática e o aprendizado acaba sendo maior”. Nas primeiras aulas da faculdade, essa dica foi se tornando mais específica: “Cola no mestre que ele que tem experiência e sabe tudo que acontece na obra”. No primeiro estágio, novamente a mesma dica do engenheiro responsável pelo empreendimento: “Cola no mestre, ele que vai te ensinar tudo que precisa saber para ser um bom profissional”.
 
A história nos mostra que a cultura do “colar no mestre” representa nos aproximar dos mais experientes e, com o tempo, ir absorvendo sua sabedoria e experiências. Na China, a tradição de respeitar os mais velhos é muito forte e está enraizada na cultura há séculos. Esse respeito é baseado em uma filosofia antiga chamada “Confucionismo”, que enfatiza a importância da ordem social, da hierarquia e da obediência aos mais velhos.
 
É atribuída a Confúcio a frase “Ao servir seus pais, um filho os reverencia na vida diária, os faz felizes, cuida deles na doença e mostra uma grande tristeza na sua morte”. De acordo com o filósofo, o respeito aos mais velhos é uma das características essenciais de uma boa sociedade.
 
Outro exemplo é na Grécia Antiga, onde a tradição oral era muito importante e muitas histórias e ensinamentos eram passados de geração em geração. O filósofo Sócrates, conhecido como o “pai da filosofia”, acreditava que a sabedoria só poderia ser adquirida por meio do diálogo e da conversa com os mais velhos e experientes.
 
Concordo, respeito e sigo esses ensinamentos do aprendizado não somente com os mais velhos, mas também com as pessoas presentes no meu cotidiano.
O que me incomodava na época – e que um dia cheguei a questionar ao engenheiro da obra – era o motivo de eu ter que passar um ciclo inteiro de um empreendimento, que equivale a cerca de três anos, para aprender os macetes de fundações, estrutura, alvenaria, reboco, instalações e acabamentos. Eu queria um livro para ler em três meses e aprender tudo o que estava na cabeça das pessoas envolvidas naquele empreendimento.
 
Em 2004, o acesso à internet na obra não era tão disseminado e as pesquisas nos buscadores também não eram tão efetivas como eu gostaria. Para ter uma ideia, o primeiro iPhone foi lançado somente em 2007. Hoje, o Brasil tem mais celulares inteligentes (242 milhões) do que habitantes (214 milhões), segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
Os smartphones ainda não eram tão populares, e conseguir a resposta para uma pergunta não era algo prático como nos dias de hoje. Não havia uma maneira simples de encontrar respostas para dúvidas recorrentes como: “Por onde começo a marcação de uma alvenaria?”, “Qual o peso de uma barra de aço 12mm?”, “Qual a diferença de caibro e sarrafo?”, “Qual a altura de uma tomada baixa?” e “Qual o traço para contrapiso?”. Para respondê-las, era realmente necessário recorrer ao mestre da obra ou ao engenheiro.
 
Hoje em dia, com a evolução das tecnologias e a popularização da internet, temos acesso a uma quantidade enorme de informações disponíveis a um simples clique. A IA (inteligência artificial), por exemplo, é capaz de processar grandes volumes de dados e oferecer respostas rápidas e precisas para nossas perguntas e está ao alcance de nossas mãos. Não à toa, o ChatGPT, lançado pela OpenAI em 2022, conquistou 100 milhões de usuários ativos mensais em janeiro, em menos de dois meses, e se tornou o aplicativo de consumo de crescimento mais rápido da história, conforme comentário do banco suíço UBS.
No entanto, esse acesso fácil e rápido à informação também traz alguns desafios. Com tantas informações disponíveis, muitas vezes é difícil saber o que é verdadeiro e o que não é. Prova disso, mais da metade (62%) dos brasileiros não sabem reconhecer uma notícia falsa, segundo o estudo “Iceberg digital”, realizado pela Kaspersky, empresa global de cibersegurança.
 
Além disso, a IA é limitada pela sua programação e pode não ser capaz de entender nuances ou contextos mais complexos. Outro aspecto importante é que, embora a IA possa oferecer informações precisas, ela não pode substituir completamente a experiência e sabedoria acumuladas pelos mais experientes.
A interação humana, o diálogo e a troca de experiências ainda são importantes para o desenvolvimento pessoal e social. Afinal, máquinas não têm empatia e não compreendem essas pequenas – e tão importantes – nuances humanas. Ou seja, é necessário encontrarmos um equilíbrio entre o aprendizado tradicional, baseado no contato com os mestres, engenheiros e a prática, e as ferramentas tecnológicas disponíveis. A IA não substitui a experiência humana, afinal, essa é uma vivência única que os algoritmos ainda não conseguem – e, talvez, jamais conseguirão – reproduzir.


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