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Os livros de economia estão superados


01/05/2023 04:00

Rodolfo Coelho Prates
Doutor em economia e professor da Escola de Negócios da PUC-PR

Há alguns dias, o presidente Lula disse que os livros de economia estão superados ao refletir sobre uma nova forma de contabilizar os gastos em educação e em saúde. Essa afirmação causou um imenso alvoroço, como se a frase estivesse revivendo o ideal nazista de queimar livros considerados inimigos do povo alemão ou como se desconsiderasse todo o conhecimento de uma ciência para reviver a idade das trevas.

A parte de todo esse alvoroço, Lula está certo, pois os livros de economia, e também de toda ciência humana, já nascem superados. Nascem superados não como conhecimento teórico, mas como compreensão empírica de uma economia cada vez mais complexa e dinâmica.

Em algumas áreas do conhecimento, o objeto o qual é estudado não se altera drasticamente com o tempo, pelo menos diante da perspectiva temporal humana. Por outro lado, nas ditas ciências humanas ocorre justamente o inverso. A cada momento temos uma nova sociedade. Como já dizia o filósofo Heráclito, o homem ao retornar ao mesmo rio, nem é o mesmo rio, tampouco o mesmo homem. A economia que Adam Smith descreveu no seu livro “A riqueza das nações” está muito distante da economia vivida por David Ricardo e imensamente longínqua da atual economia.

As ideias mudam não apenas por conta de uma compreensão mais acurada dos fenômenos econômicos, mas também pela própria alteração qualitativa e quantitativa de tais fenômenos que são observados, estudados e engessados nos livros. E sempre a realidade é maior e mais complexa do que os livros contam. Estes, vêm a reboque, um pouco atrasados, quando não muito.

É o que ocorreu com uma das mais prestigiadas obras da economia do século 20, “A teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, escrita por John Maynard Keynes, e que influenciou fortemente várias gerações de economistas. Em 1929, nos Estados Unidos, iniciou a Grande Depressão, cujos impactos se alastraram aos quatro cantos do mundo. O então governo de Franklin D. Roosevelt deu início ao chamado New Deal em 1933, com um conjunto de medidas intervencionistas, como o controle sobre bancos, a construção de grandes obras de infraestrutura visando a geração de empregos e a criação de uma previdência social, por exemplo. Keynes se inspirou no programa do New Deal para formular sua teoria.

No Brasil, na época em que o principal bem produzido era o café, cujo destino eram os mercados europeus e norte-americanos, a crise de 1929 foi dramática. Nesse contexto, em 1931, já sob o governo de Getúlio Vargas, milhões de sacas de café foram queimadas, mas depois de colhidas e transportadas até determinados locais, garantindo emprego e renda para a classe trabalhadora cafeeira e para o restante da economia nacional. Mais uma vez, no Brasil houve um exemplo de política keynesiana antes de Keynes.

Mais recentemente, Alan Greenspan, presidente do FED, o Banco Central Americano, disse, diante da crise do subprime de 2008, que os modelos econométricos adotados não foram capazes de prever a crise. Não porque os modelos estavam baseados em uma realidade passada e em teorias já defasadas.

Esses três exemplos são apenas alguns dos inúmeros que existem relacionados ao relativo atraso dos livros, das teorias e do conhecimento sobre determinado aspecto da economia e da sociedade. Portanto, para entendedores, a frase de Lula não gera estranhamento, até porque também já está consolidado nos livros econômicos que gastos em educação é investimento em capital humano, capaz de elevar a produtividade e, por sua vez, o crescimento econômico.

No entanto, o que deveria causar estranhamento é a obsessão de seguir cegamente o que está nos livros sem constatar a imediata realidade. Tomar decisões baseadas apenas na teoria é um ato parcialmente falho, mas gera conforto e segurança ao agente decisor. Roosevelt e Vargas, como grandes estadistas que foram, compreenderam intimamente a realidade que estavam imersos e anteciparam as teorias econômicas que posteriormente foram criadas. E isso é o que falta ao Banco Central e também aos governos.


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