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Estado de Minas EDITORIAL

Educar contra o machismo

Respeito é palavra e comportamento-chave para a transformação de uma sociedade conturbada


11/03/2023 04:00 - atualizado 10/03/2023 22:21


 
O Congresso Nacional instituiu, por meio da Lei 11.489/2007, o Dia Nacional de Mobilização de Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Mas os homens tornaram o marco legal letra morta. Não se engajaram nessa luta para eliminar as tragédias cotidianas que enlutam famílias e deixam um rastro de crianças e adolescentes órfãos de mãe. O machismo doentio, tóxico e letal ainda se mantém enraizado. A cada seis horas, uma mulher é morta por ser mulher no Brasil.

Mudar esta realidade não é fácil nem depende exclusivamente das feministas, nem das organizações sociais, nem só de políticas públicas. A transformação passa, necessariamente, pelos homens, pelas escolas e, antes de tudo, pela educação na família.

Um velho ditado popular ensina que "costume de casa vai à praça". Filhos que testemunham uma relação de agressões no ambiente doméstico, em que o pai agride a mulher, estão propensos a repetir as mesmas deploráveis atitudes quando adultos com a namorada ou companheira. Cabe ao homem interromper esse círculo danoso à saúde física e mental de sua família. Cabe ao pai educar os filhos com base na cultura de paz. Cabe ao pai mostrar que, por meio do diálogo, é possível superar as naturais divergências de um casal. Atitudes que o colocam como um ser inteligente e que o tornam, verdadeiramente, um homem indispensável à vida de todos.

A mulher também tem papel relevante nesse processo. Ela é capaz de suprimir da educação dos filhos os resquícios do machismo, o falso conceito de que o homem é um ser superior e o único capaz de prover as necessidades da família. Nesses tempos modernos, a mulher tem protagonismo dentro do lar, seja por ter emprego e contribuir para a manutenção da casa, seja por sua formação profissional, seja pelo seu talento, que vai além das atividades domésticas.

Em várias capitais há grupos de homens que discutem os danos decorrentes do machismo e do patriarcalismo, a violência doméstica e tantos outros hábitos que depreciam a mulher, com apoio psicossocial. Eles buscam fazer a diferença no universo masculino com a reeducação dos seus iguais. Debatem o quanto estão ultrapassados visões e comportamentos que ignoram ou subestimam a capacidade do sexo oposto. São homens lúcidos que condenam essa onda de agressões e feminicídios. 

Reconhecem a necessidade de (re)educação de todos, deixando no passado valores que sublimavam o masculino, coisificavam as mulheres e vedava a todas elas os espaços de fala e de poder. Para eles, respeito é palavra e comportamento-chave para a transformação de uma sociedade conturbada, que ignora ou despreza a boa conversa para contornar os impasses ou as diferentes formas de compreensão dos fatos e da realidade.

Embora o número desses grupos seja muito modesto, eles são sinal de que é possível reverter a calamidade do avanço dos “machosfera”, que inoculam ódio contra a mulher e tentam perpetuar valores ultrapassados e radicalmente inadequados aos valores civilizatórios indispensáveis ao desenvolvimento humano. 

A iniciativa dos homens sensatos e que reconhecem suas limitações pode ser potencializada por políticas públicas atraentes para ampliar o debate sobre as diferentes expressões de violência. Sugere que o debate deve extrapolar os grupos e chegar às escolas e a todos os cenários possíveis, a fim de mostrar os danos provocados pela desarmonia dentro e fora dos lares. Mas não só isso. Ainda cabe ao poder público patrocinar, por meio de ações, projetos e iniciativas que promovam o empoderamento das mulheres e adolescentes, com o intuito de tornar real a igualdade de gênero. Um basta à violência é uma construção de todos. Homens, mulheres e instituições de Estado, juntos, podem extirpar o machismo e o patriarcalismo.


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