(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

O agro, a mineração e a renda média

Se olharmos para o passado dos EUA, da União Europeia, da Rússia e da China, veremos que o Estado foi, sim, indutor do desenvolvimento


13/11/2022 04:00


Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

O que incomoda mais o brasileiro é a coexistência de setores modernos com a pobreza extrema. Há muita gente passando fome.

Marta Watanabe, de São Paulo, mostra um Brasil rural e concentrado. O superávit comercial da agropecuária brasileira atingiu US$ 53 bilhões no período de janeiro a setembro deste ano e supera os US$ 47,7 bilhões de saldo positivo da balança total brasileira no mesmo período de 2021.

A indústria extrativa contribuiu no período com o superávit, mas em menor escala: US$ 32,6 bilhões, enquanto a indústria de transformação ficou com déficit de US$ 36,9 bilhões. Os números fazem parte do boletim do Índice de Comércio Exterior (Icomex) distribuído pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

O superávit comercial de 2022 mostra uma mudança de posições em relação ao ano passado entre os setores da agropecuária e o da indústria extrativa na composição do saldo comercial total do país, de acordo com os números do boletim. Enquanto o saldo positivo da agropecuária avançou 36% em relação ao superávit de janeiro a setembro de 2021, o da indústria extrativa encolheu 37% na mesma comparação.

Com a alta do preço do minério de ferro a patamar recorde no decorrer do ano passado, o saldo da indústria extrativa alcançou US$ 51,5 bilhões nos mesmos nove meses do ano passado, revela o boletim. Em 2022, são os preços que também ajudam, desta vez, o setor agropecuário. Segundo dados do Icomex, os preços e exportação de produtos do setor subiram em média 37,5% em 2022 contra o ano passado, ainda de janeiro a setembro.

A alta de preços mais do que compensou a queda de 2% no volume de exportações na comparação do mesmo período. Na indústria extrativa, em razão do ajuste no preço do minério de ferro, o preço médio de exportação caiu 1,8% e a quantidade embarcada também teve recuo, de 6,7%, sempre nos mesmos meses.

Na indústria de transformação, destaca o boletim, os três setores com maiores superávits são todos intensivos em recursos naturais e elevaram os seus saldos positivos, na base de comparação de 2021 e 2022. São eles: produtos alimentícios (US$ 38,6 bilhões), metalurgia (US$ 22,5 bilhões) e fabricação de celulose, papel e produtos de papel (US$ 7,4 bilhões).

O aumento de preços da importação superou o das exportações, mas a queda no volume importado e o aumento no exportado garantiram o aumento do superávit comercial. Além desses três setores, mais seis segmentos registraram superávits e, com exceção dos têxteis, todos aumentaram seus saldos, mas com valores abaixo de US$ 1 bilhão. O boletim analisou o total de 23 setores.

Os maiores déficits dentro da indústria de transformação foram dos setores de produtos químicos (US$ 42,9 bilhões), equipamentos de informática (US$ 20,5 bilhões) e fabricação de máquinas e equipamentos (US$ 10,8 bilhões). São setores de ponta e, nesse caso, as variações nos índices de preços de exportações superaram as das importações, exceto para produtos químicos, e o volume importado foi maior que o exportado, exceto para máquinas e equipamentos, destaca o boletim do FGV Ibre.

A situação do país é dramática. Esse quadro está a demonstrar uma tendência preocupante, qual seja, a de o país caminhar para ser uma potência agropastoril e extrativista (mineração) com a virtual paralisação (crescimento vegetativo) da indústria de transformação a importar outputs de ponta...

Os produtos de ponta temos que importá-los, porquanto é significativamente mais barato do que fazê-los aqui.

Há um mercado interno sem renda e a exportação não é de qualidade nem de valor agregado. Noutras palavras: estamos mais para o subdesenvolvimento e condenados a ser eternamente um “país de renda média”.

O nosso tempo para dar o salto rumo ao mundo desenvolvido está no fim! Temos, se tanto, já com uma população de 220 milhões de pessoas, de 5 a 10 anos para deslanchar investimentos públicos e privados e criar empregos com carteira assinada e consequentemente renda e aposentadorias impactando positivamente o mercado financeiro. Como os romanos, dizemos “tempus fugit”.

O governo que se diz neoliberal pouco fez para intervir no mercado, tal qual é, no rumo do que deveria ser. Contudo, se olharmos para o passado dos EUA, da União Europeia, da Rússia, que desde 2017 teve que se desenvolver sozinha, e da China, veremos que o Estado foi, sim, indutor do desenvolvimento. No caso dos EUA é de se ler o livro “Tempos muito estranhos” (Roosevelt, de 1932 até 1945, fez de um tudo para desenvolver o setor privado americano).


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)