Alana Azevedo
Chief People of Culture na Flash
As mulheres, que já ocupavam uma parcela menor do mercado de trabalho em relação aos homens, viram seu espaço diminuir ainda mais por conta da pandemia. Conforme mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se entre 2012 e 2019 tivemos o constante crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, a pandemia fez com que essa sequência se quebrasse e virasse um prejuízo de pouco mais de 5%. Tínhamos, no terceiro semestre de 2019, 53% de trabalhadoras empregadas. Em 2020, esse número caiu para 45,8% – na comparação com o mesmo período.
Podemos elencar dois grandes fatores para maior perda de postos de trabalhos ocupados por mulheres: fechamento de escolas e creches que, de forma compulsória, colocou a mulher novamente no papel de cuidadora do lar, e a falta de uma rede de apoio. Questões que forçaram muitas de nós a abandonarem seus postos de trabalho e, então, cuidar integralmente de nossas casas. Como segundo fator, e talvez até o mais importante de todos, é a chamada “segregação ocupacional por gênero”.
Os setores que mais nos empregam, as profissões que são erroneamente tidas “para mulheres”, foram os que mais sofreram perdas com a pandemia, a necessidade de isolamento social e o encolhimento da economia, enquanto os ocupados por homens, como a construção civil, foram mais resilientes. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que em alojamento e alimentação, um setor ocupado em 58,3% por mulheres, a queda foi de 51%, enquanto nos serviços domésticos, em que quase 86% dos profissionais são mulheres, a queda ocupacional foi de 46%.
Entre as mulheres com filhos de até 10 anos de idade, as quais são muito dependentes das escolas para que possam trabalhar, a taxa ocupacional regrediu 7,8%, enquanto para os homens foi de 4,2%. Os avanços na equiparação de trabalho entre homens e mulheres correm graves riscos. É extremamente importante que não somente os governos, mas que também empresas pensem políticas de incentivo a reinserção de mulheres no mercado.
Com o poder de compra do brasileiro diminuindo, o pouco que sobra para as famílias não basta para arcar com uma creche particular, uma vez que as filas de espera para as públicas são enormes. Por consequência, as mulheres acabam cada vez mais presas aos trabalhos do lar, o que impede seu reingresso ao mercado. Até como forma de atrair, reter e engajar talentos, as empresas podem fornecer auxílio-creche para homens e mulheres com filhos, o que, além de tudo, ajudará para que mais mulheres voltem mais “tranquilas” ao mercado.
Não podemos esquecer que mais de 20% daquelas que se tornam mães não voltam para o mercado de trabalho, ou que mesmo aquelas com filhos na casa dos 10 anos estão deixando o mercado por causa das dificuldades impostas pela pandemia. Se nós, empresas e líderes, nada fizermos, continuaremos a retroceder mais e mais, fazendo com que as nossas conquistas ao longo das últimas décadas não passem de um distante sonho.