Márcio Florêncio Nunes Cambraia
Embaixador e especialista da Fundação da Liberdade Econômica
A diplomacia se dedica primordialmente às relações entre os Estados que compõem o sistema internacional. Com origem remota nas cidades-Estados gregas e nos Estados italianos do Renascimento, a diplomacia implementa a política externa dos Estados. Do simples envio de um representante para negociar uma trégua com outro país, a diplomacia foi paulatinamente adquirindo a dimensão complexa que tem hoje. No Congresso de Viena de 1814/1815, quando as potências reorganizaram o cenário geopolítico europeu e, portanto, mundial, após a derrota da França napoleônica, foram estabelecidos ritos, símbolos e linguagem que caracterizam a diplomacia atual. Esses avanços consolidaram-se na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961.
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As funções clássicas da diplomacia são representar, informar e negociar. Nos tempos atuais, têm se tornado cada vez mais multifacetadas por causa da globalização, da ampliação das comunicações, do crescimento das relações comerciais e financeiras, da proliferação das organizações internacionais governamentais e não governamentais, bem como a disseminação de novos temas, como a defesa de direitos humanos, a proteção de minorias, o meio ambiente, o terrorismo e os movimentos migratórios.
Ademais, tivemos uma proliferação de estados como resultado da descolonização e, posteriormente, com a derrocada da União Soviética. Registre-se também a formação de grandes blocos políticos e comerciais e a escalada armamentista.
Esse mundo mais complexo implica maior pressão sobre a atividade diplomática; embora as relações internacionais continuem sendo basicamente interestatais, a diplomacia tem se adaptado ao surgimento e à afirmação de novos atores e novos valores no cenário internacional.
Desafio recente foi a pandemia de COVID. Embora epidemias letais tenham existido antes, como a terrível gripe espanhola de 1918, o atual surto foi agravado, em seu espraiamento, pelo exponencial aumento do trânsito de pessoas no mundo, depois da Segunda Guerra.
O serviço diplomático brasileiro enfrentou a nova ameaça em três áreas. O acompanhamento, com obtenção e processamento de informações sobre a evolução da pandemia em todos os continentes, por meio de rede de embaixadas e consulados, de ampla capilaridade. Outra dimensão foi a assistência e repatriação de brasileiros que se encontravam no exterior no auge da pandemia e tiveram que enfrentar fechamentos de fronteiras, suspenções de transportes, frequentemente sem recursos e em ambiente estranho. Além disso, coube aos diplomatas participarem da luta pela obtenção de vacinas e equipamentos hospitalares. Foi uma luta desigual, porque os países mais ricos apressaram-se a obter vacinas, a qualquer custo, para a proteção de suas populações.
A diplomacia brasileira desdobrou-se, valendo-se de habilidade reconhecida internacionalmente, e do patrimônio de uma tradição de relações diplomáticas universalistas, sem exclusões. Assim, em momento crucial, tínhamos canais desobstruídos com os principais fornecedores.