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Estado de Minas editorial

Ceticismo ambiental

No Brasil, o descompromisso com o meio ambiente não se resume ao governo


02/11/2021 04:00

O Brasil ampliou a meta de redução das emissões de gases de efeito estufa, de 43% para 50%, até 2030, como anunciou o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), mas o ceticismo é grande. São muitos os questionamentos em torno da base de cálculo usada pelo governo para chegar a tal meta. Não à toa, fala-se em pedalada ambiental, numa analogia às pedaladas fiscais, artifícios que fazem as contas públicas parecerem em melhor estado do que, efetivamente, estão.

As metas são calculadas com base nos inventários feitos, periodicamente, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Os indicadores são atualizados pelas métricas definidas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Os cientistas acreditam que o governo usou, para a nova meta, o terceiro inventário, de 2005, com emissões líquidas de 2,8 milhões de toneladas de CO². No quarto inventário, o mais recente, a referência é de 2,4 bilhões de toneladas de CO². Ou seja, o país poderá aumentar as emissões em 400 milhões de toneladas de CO² até 2030 fora da meta. É a mesma promessa feita no Acordo de Paris, em 2015.

Esse tipo de manobra é péssimo para a imagem do país e só aumenta a desconfiança em relação ao compromisso real do Brasil em diminuir o aquecimento global. Parte do descrédito poderia ser revertido se o ministro do Meio Ambiente informasse, claramente, que parâmetros usou para a nova meta. Ele, porém, optou pelo silêncio, estimulando as especulações. Para quem acompanha as ações do governo na questão ambiental, não se trata de nenhuma surpresa. Desde que tomou posse, a administração Bolsonaro não entregou o que prometeu nas questões climáticas.

O desmatamento na Amazônia e no cerrado continua a todo vapor. A invasão de terras indígenas por garimpeiros ocorre sob os olhos da Polícia Federal e das Forças Armadas. As queimadas e o comércio ilegal de madeiras fizeram com que, em 2020, o Brasil fosse na contramão do planeta. Enquanto o mundo reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 7%, no país, elas aumentaram 9%. Não será à base de metas ambiciosas, mas não factíveis, que o governo dará sua contribuição para que se evite o colapso e se desarme a bomba-relógio à qual se referiu o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

No Brasil, o descompromisso com o meio ambiente não se resume ao governo. Também no Congresso há um movimento a favor dos devastadores. Projetos em tramitação propõem a regularização do desmatamento ilegal até 2028. É um atestado de idoneidade, com o aval do Palácio do Planalto, aos grileiros, que têm avançado sobre a Amazônia. Portanto, sem um compromisso fechado de nação, o país será parte dos problemas, e não das soluções, como ressaltou o presidente Jair Bolsonaro em um discurso gravado, de menos de três minutos, apresentado na COP-26.

Apesar da desconfiança dos especialistas, o enviado especial para o Clima do governo dos Estados Unidos, John Kerry, deu um voto de confiança ao governo brasileiro em relação à nova meta: “Isso adiciona um impulso crucial ao movimento global para combater a crise climática”. Qualquer aumento na meta de redução das emissões de gases de efeito estufa é bem-vindo. Mas que isso não fique apenas em uma carta de intenções. O mundo tem pressa.


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