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Um gigante de pés de barro


05/09/2021 04:00

José Renato de Castro Cesar
Indigenista. Administrador. Escritor. Doutorando em 
ciências ambientais e conservação pela UFRJ
 
O Brasil é um gigante do agronegócio. Mas, é um gigante de pés de barro. Não sou em quem diz. São alguns cientistas renomados, meus professores. Mas, para que não fiquem dúvidas quanto ao futuro incerto, seja na economia global, seja quanto aos cuidados com o meio ambiente e a essa maldita (des)governança política, explicarei.

Somos dependentes do mercado internacional de adubos. E, sem adubos, o agronegócio não pode fazer frente à economia de escala, tão almejada pelos que sonham com recordes de produtividade e de produção. Purtroppo, também, os nossos agroboys não se importam com o meio ambiente e com a equidade social.

Mas, sendo a nossa dependência de importação de adubos tão grande, o risco de no futuro acontecer um gargalo qualquer, nos torna um “gigante de pés de barro” – ou seja, a qualquer momento, nossa economia rural pode ruir, ou pode ficar encravada (como já está ficando), dependente dos interesses de megaempresas globais e de especulações por commodities nas mãos de quem pouco se importa se nosso povo passa fome ou não.

A quantidade de nitrogênio, fosfato e potássio que utilizamos nos solos (pobres em fertilidade) e que importamos dos países ricos (detentores da tecnologia de produção de adubos) torna nosso agrobusiness dependente de negociações internacionais. Nosso povo esbanja, desperdiça e não estuda e é orgulhoso e se acha “entendido em agricultura e agronegócio”. Um povo que desmata, polui, usa o fogo de forma errada e acaba com as águas, saliniza o solo e destrói a natureza. Não sabem, sequer, o que é biodiversidade.

Virou piada de mau gosto a agricultura bra- sileira. Muitos ficaram ricos às custas dos desmatamentos e da poluição dos rios (acidificação das águas e do solo) e eutrofização de lagos, pequenos cursos d’água e nascentes. Nossas águas têm diminuído. Nossos rios estão morrendo. Nossa “felicidade hídrica” virou historieta de poeta mórbido, a ponto de sermos ridicularizados pelos agrônomos de gravata que circundam os governantes e que ditam, com a famosa “dama do veneno”, os rumos irracionais da agricultura nacional (o mote não é meu). Mas não precisa ser assim. Existe, graças a Deus, outro caminho.

E o caminho é a agroecologia e a salutogênese (creio, também, que bem poucos sabem do que se trata) via produção de adubos com ajuda da natureza. Os povos originários nos ensinaram quanto a isso. A célebre terra preta do índio se tornou um paradigma mundial que pode salvar o planeta da poluição dos solos e das águas e na mitigação das mudanças climáticas (hoje tão em voga e urgentíssima!). A agroecologia e o manejo agroflorestal ensinados pelos povos indígenas podem nos libertar da dependência econômica e acabar com a fome, desde que políticas regionais e locais de desenvolvimento rural sejam colocadas em prática, livres dos interesses de grupelhos políticos que querem (sempre) se locupletar com os trabalhos alheios.

Mas como, professor, fazer isso? Digo-lhes, ora: através de programas regionais de incentivo financeiro aos produtores rurais, pequenos, médios e grandes, que podem aprender a produzir terra preta nova em larga escala. Mas o que encrava o país não é só isso. É a inominável e irracional classificação do Incra quanto aos produtores marginais – que não possuem o “módulo rural mínimo” para fazer jus aos empréstimos rurais. Enquanto não corrigirmos mais essa “falcatrua” social, adeus crescimento econômico. 


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