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Estado de Minas editorial

Multiplicidade de pensamentos

A própria literatura denuncia a atrocidade. Três obras referenciais tratam de livros queimados: "Dom Quixote", "Fahrenheit 451" e "O nome da Rosa"


25/06/2021 04:00

Governos passam, o Estado e as instituições ficam. Esse preceito, por si só, já deveria bastar para impedir o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, de banir 5,3 mil livros da instituição, mais da metade do acervo da entidade. O dirigente se dá o direito de fazer sua cruzada ideológica para censurar autores clássicos respeitados e a diversidade cultural tão necessária para qualquer país democrático, sem fazer ampla consulta à sociedade civil. Pelas redes sociais, Sérgio Camargo vem usando o termo “livramento” para justificar sua decisão de doar obras que, segundo ele, passaram por “rigorosa avaliação”, e contêm “dominação marxista” e “perversão sexual”.

Não são apenas livros de autores considerados de esquerda, como Karl Marx, Antonio Gramsci, Eric Hobsbawm, Nelson Werneck Sodré e Caio Prado Jr que estão na mira. Há também obras de outros autores importantes, como o sociólogo e economista alemão Max Weber – um dos maiores intelectuais da história –, o economista brasileiro Celso Furtado, o escritor britânico H.G. Wells e o autor russo Nikolai Gógol e sua obra-prima “Almas mortas”, um dos maiores clássicos da literatura mundial.

Na quarta-feira, o juiz Erik Navarro Wolkart, da 2ª Vara Federal de São Gonçalo (RJ), concedeu liminar a uma ação popular movida pelo advogado Paulo Henrique Lima, militante de movimento negro e de um coletivo da Universidade Federal Fluminense, e determinou que Camargo não faça a doação dos livros, sob pena de multa de R$ 500 para cada item doado. O magistrado foi claro: a decisão do presidente da Palmares deve passar “por uma discussão mais ampla e plural”, porque pode haver “lesão irreparável aos valores das comunidades negras e da sociedade brasileira como um todo”.

O juiz afirmou também, com argumentos exemplares: “A multiplicidade de pensamentos, ideias e opiniões, ainda que diametralmente opostas, serve para a construção de uma sociedade reflexiva, plural, questionadora e inclusiva, cabendo a cada leitor examinar tudo e reter o que entender pertinente, após uma análise crítica a respeito. Livros e escritos pertencem mais a quem os lê do que aos próprios autores ou detentores dos volumes. Para tanto, livre acesso à vasta coleção de obras parece fundamental”.

Mesmo assim, Sérgio Camargo insiste e diz que vai recorrer: “A Palmares apresentará recurso contra a liminar. Caso seja vitoriosa, fará a doação das obras marxistas, bandidólatras, de perversão sexual e de bizzarias (sic). Descobertas após triagem no acervo, tais obras contrariam e corrompem a missão institucional da fundação, definida por lei”, escreveu ele em seu perfil no Twitter.

Essa “queima” de livros que Camargo quer fazer tem tristes precedentes na história da humanidade, desde tempos remotos, como o incêndio da célebre biblioteca de Alexandria, no Egito, a destruição de manuscritos astecas e maias durante a colonização da América e os ataques da Inquisição espanhola. E a própria literatura também denuncia essa atrocidade. Três obras referenciais tratam de livros queimados: o clássico “Dom Quixote” (Miguel de Cervantes), “Fahrenheit 451” (Ray Bradbury) e “O nome da Rosa” (Umberto Eco). Todas essas obras ficarão para a posteridade, para o bem da sociedade.


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