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O fim do complexo de vira-lata


14/06/2021 04:00

Eduardo Amat Silva
Economista e professor de economia do Centro Universitário Unihorizontes

O complexo de vira-lata foi o termo criado pelo jornalista Nelson Rodrigues por volta de 1950. Sua ideia básica é que o brasileiro, de modo geral, se considera inferiorizado quando ele se compara à realidade de outros países. Tal ideia já vem de muito tempo no cotidiano brasileiro e também por diversas vezes, sempre, foi criticado por muitos. Contudo algumas atitudes ao serem observadas demonstram não uma inferioridade, mas sim uma superioridade em relação aos outros países, surgindo o questionamento se, de fato, tal complexo ainda se faz presente na realidade brasileira.

Ao analisar alguns acontecimentos no país nos últimos 50 anos, cabem algumas observações, sob a ótica deste complexo. Por exemplo, quando da crise do petróleo, com aumentos expressivos no preço do barril, ocorrido na década de 1970, o mundo inteiro vislumbrou um período recessivo, com uma diminuição no ritmo da atividade econômica. Porém, no caso brasileiro, o país não aderiu a essa visão, achou conveniente em dar continuidade às suas elevadas taxas de crescimento, fazendo tudo que estivesse ao seu alcance, com vista a esse objetivo, já que acreditava que tal crise seria passageira e junto a isso a necessidade de se dar legitimidade ao governo à época.

Em 2008, quando da crise dos subprimes, que diz respeito à concessão de empréstimos imobiliários de alto risco, ocorridos nos Estados Unidos, que afetou todo o sistema bancário norte-americano promovendo uma forte repercussão econômica mundo afora, haja vista que poderia gerar uma quebra no fluxo de pagamentos internacionais, aí sim, afetando toda a economia mundial, com resultados imprevisíveis. Porém, no caso brasileiro, disseram se tratar de uma marolinha, também não aderindo ao temor vindo dos outros países, já que seus efeitos pouco seriam sentidos no Brasil, visto que, ainda, surfávamos nas ondas das commodities e estávamos imunes a esses efeitos.

Em 2020, com a pandemia mundial da COVID-19, com a grande maioria dos países tomando as devidas providências para combatê-la, dentro da realidade de cada um, buscando minimizar os seus efeitos econômicos e sociais. A OMS dando alertas contínuos sobre a relevância do problema. Em suma, um cenário preocupante parecia estar formado no mundo inteiro. Porém, no Brasil, mais uma vez, não havia tanta relevância pois se tratava, de fato, de uma gripezinha ou de uma simples conversinha, apenas isso, algo que seria facilmente combatido e resolvido, ainda mais para um país, como o nosso, em vias de crescimento.

Pois bem, ao se analisar os efeitos dessas crises, sob a ótica econômica, passa a ser interessante observar os resultados esperados de cada uma delas. No caso da crise do petróleo, houve como consequência a década perdida, tratando-se da década de 1980, em que o país apresentou elevadas taxas de inflação e crise no pagamento da dívida externa, um quadro que foi extremamente prejudicial à economia, ao longo de vários anos. No caso marolinha, assim como da COVID 19, ocorreram quedas acentuadas no PIB e elevadas taxas de desemprego, além de muita agitação social. Em suma, o script continuava o mesmo, apenas mudando os atores e a época.

Assim, é interessante observar a questão dos “inhas”, que parece ser, por algumas vezes, uma unanimidade no pensamento das autoridades brasileiras quando tais eventos vêm apresentar efeitos em nível global. Quanto ao Brasil, presume-se que esse passará incólume a tais circunstâncias, ironizando a parábola da montanha que pariu um rato, que no caso brasileiro acabou por ocorrer o contrário. Assim, a necessidade de apresentar o Brasil que como se estivesse fora do alcance destes problemas, enquanto o mundo inteiro sofre os seus efeitos, chega a ser surreal, embora deva ter suas devidas justificativas, sejam elas quais forem.

O fato é que, por muitas vezes, parece se pensar que o Brasil é um ponto fora da curva, que somos superiores a qualquer tipo de mazela mundial e que esses problemas não nos dizem respeito, nem nos afetam. Depois da suposta tão elevada superioridade a todas as crises, vem a questão se ainda é pertinente o complexo do vira-lata, pois já foram dadas provas da nossa quiçá sapiência em relação à condução dessas, embora também já pode ter sido observado que tal posicionamento não está de acordo com os resultados esperados. Assim, novos antigos tempos vão surgindo no caminho.


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