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Estado de Minas

Turismo consciente em meio à pandemia


20/04/2021 04:00



Rebecca Wagner
Presidente da Agência de Desenvolvimento 
de Monte Verde e Região (Move) 

Há mais de um ano, o Brasil identificou o primeiro caso de coronavírus e, desde então, vive a pior crise sanitária de sua história. Há mais de um ano, vivemos em luto por nossos amigos e nossas famílias, em um momento que inspira cuidados e responsabilidade para salvar.

Em razão disso, no mês passado, estados e municípios passaram a adotar medidas mais restritivas como estratégia para tentar impedir o colapso dos sistemas de saúde. Em São Paulo, deu-se início à chamada “fase emergencial” no dia 15, acrescentando mais de 4 milhões de pessoas em restrições adicionais. Já o governo de Sergipe prorrogou as medidas restritivas até 15 de abril, com a recomendação de escalonamento do comércio. Em Minas Gerais, por sua vez, a administração estadual implantou a onda roxa no período de 15 de março a 17 de abril, com regras ainda mais rígidas, incluindo o fechamento total do turismo.

Monte Verde, distrito de Camanducaia (MG), localizado na Serra da Mantiqueira e que vive do turismo (um dos setores mais prejudicados pela crise econômico-sanitária), provou que as consequências da pandemia poderiam ser abrandadas com consciência, cuidados, segurança e parcimônia, sem uma radicalização prejudicial aos meios de sobrevivência da população.

No segundo semestre de 2020, a vila foi reconhecida pelo Ministério do Turismo como exemplo nacional no âmbito da retomada do turismo em seu processo de reabertura consciente e segura: criou protocolos diferenciados de atendimento em todos os estabelecimentos, cada qual com a sua particularidade, e seguiu regras e decretos elaborados pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, das esferas municipal, estadual e federal. Monte Verde acabou provando, diante de um cenário nacional de pânico sanitário e de total desregulação financeira e social, que é possível manter a economia da cidade ativa e cumprir cada protocolo imposto pelas autoridades de saúde sem colocar a população em risco.

Mesmo assim, o distrito, como outros municípios que se destacam no segmento, sofreu um grande impacto com o lockdown no inverno de 2020, período de alta temporada.

E a situação se agrava, neste momento, com a prorrogação do fechamento do setor, mais uma vez atingindo o montanhoso distrito no alvo. Apesar de todo o suporte oferecido pela administração de Camanducaia, a estimativa é que o fechamento do comércio tenha causado um prejuízo de cerca de R$ 15 milhões ao município. Só em Monte Verde, temos, aproximadamente, 740 empresários, sendo 80% deles de pequeno porte, sem contar a região.

Com as práticas de controle e as restrições previamente acordadas, entre as quais a conscientização de seus habitantes, visitantes e trabalhadores, Monte Verde é uma prova cabal de que é possível haver um equilíbrio entre as medidas de isolamento e o funcionamento de uma cidade. Embora entenda o momento de desespero, com o Brasil como epicentro do novo coronavírus, o distrito será prejudicado pela sequência do decreto que radicaliza as medidas restritivas por, de fato, o poder público não ser capaz de apresentar qualquer plano de contingência que diferencie as regiões caóticas daquelas que estão sob controle.

Obviamente, é impossível não fazer coro à preocupação maior, que é a de se salvar vidas e de não se opor às orientações das autoridades de saúde. Ao contrário, é preciso que se defenda em uníssono a atuação em conjunto entre os três poderes, população e segundo e terceiro setores para ajudar no que for preciso. Porém, a incompetência de quem se propõe a governar para diferentes camadas, sem se lembrar das particularidades, coloca em risco, da mesma forma, a sobrevivência das pessoas diretamente atreladas ao funcionamento do comércio e do turismo.

O retorno seguro e gradual, como o “Modelo Monte Verde”, provou que o turismo consciente é um dos setores que podem ser equilibrados à manutenção da população em segurança. Os planos de contenção de alastramento do vírus deveriam respeitar as características regionais, não apenas em benefício próprio, mas, ainda, para que a engrenagem econômica do Brasil funcionasse, dando alento e subsistência a milhões de trabalhadores e suas respectivas famílias. Permitir o exercício do trabalho também é um meio de salvar vidas.


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