Thiago Gonsalves
Sócio do escritório Pedro Miguel Law, especialista em direito do trabalho
Em 11 de janeiro último, os trabalhadores que prestam serviços à montadora Ford, sediada em algumas regiões do Brasil, receberam uma notícia triste. A empresa está colocando um fim às suas filiais, encerrando as atividades e deixando uma série de trabalhadores desempregados. Esse processo já havia se iniciado em 2019, quando a produção em São Bernardo do Campo, após 52 anos de atividades, encerrou suas operações.
O fato é que a Ford irá se despedir do Brasil apenas como fabricante, mas continuará atuante como importadora de carros em nosso país. Com o passar do tempo, o mundo ganhou proporções em termos de evolução e a indústria automobilística passou a ter que se adaptar ao novo cotidiano. A modernização e a robotização surgiram para elevar o nível da produção, porém atingiram diretamente os trabalhadores, que se tornaram vulneráveis à situação. Apesar de toda essa evolução e competição entre homem e robô, essa não foi a questão principal para tal medida, mas sim a alegação de que a pandemia afetou a empresa e sua economia, além da queda brusca nas vendas dos automóveis aqui fabricados.
Depois de 100 anos de atividades no Brasil, não só a região do ABC foi afetada com o fechamento da fábrica, mas sim todas as unidades atuantes no país, como a filial de Camaçari, na Bahia, Taubaté, em São Paulo, e também a filial sediada em Horizonte, no Ceará. Cerca de 5 mil funcionários serão afetados. A empresa informa que vai colaborar com os sindicatos na elaboração de um plano para minimizar os impactos do encerramento da produção. O governo de São Paulo vai elaborar um plano para dar apoio à recolocação dos trabalhadores demitidos.
Conforme noticiado pela própria Ford, todo esse processo de encerramento faz parte de um planejamento na reestruturação da empresa pelo mundo, e não só o Brasil será afetado, mas também outros países sofrerão com a decisão. Em seu comunicado, a Ford alegou que, “desde a crise econômica de 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas e que a matriz, nos Estados Unidos, tem auxiliado nas necessidades de caixa, o que não é mais sustentável”.
Como se pode ver, a questão econômica que vem se arrastando há anos e a pandemia que assolou o mundo no último ano são as principais queixas e fundamentos para a determinação da empresa em colocar um fim nas suas atividades no Brasil, o que acaba sendo uma perda considerável ao nosso país, visto que muitos trabalhadores sofrerão sem seus empregos.
Inicialmente, sabe-se que a Ford tomou a decisão de encerramento e essa medida afetará não só trabalhadores brasileiros, mas também os argentinos. Ao todo, a empresa informa que tem aproximadamente 6.171 funcionários no Brasil, mas ainda não há uma margem da quantidade afetada em nosso país. O que se sabe é que entre trabalhadores brasileiros e argentinos, cerca de 5 mil perderão seus empregos, um tremendo baque não só relacionado aos novos desempregados, mas também à economia, que perderá diversos consumidores.
Infelizmente, não foi só o Brasil que sofreu com a decisão da Ford em demitir funcionários. Outros países também foram afetados com a decisão, o que já vem ocorrendo há alguns anos. Desde 2018, a Ford já vem enfrentando um processo em sua estrutura empresarial. Com isso, diversas demissões de funcionários ocorreram pelo mundo e tanto a Europa quanto os Estados Unidos sofreram com os cortes de trabalhadores. Além disso, algumas filiais também encerraram suas atividades. Austrália e França sofreram tanto quanto o Brasil sofre hoje, infelizmente.
Enfim, parte dessa crise econômica está atrelada ao grande número de desempregados no Brasil, o que torna a situação um tanto quanto importante e merecedora de atenção. Os brasileiros não podem sofrer com a falta de oportunidade e o grande número de desistências de nosso país. Algo há de ser melhorado.
