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A saúde mental em tempos de pandemia

Neste momento de medo e de incertezas, a saúde mental de todos deve ser preservada


postado em 13/04/2020 04:00

Humberto Correa
Professor titular de psiquiatria da UFMG, membro da 
Academia Mineira de Medicina, presidente da Associação 
Mineira de Psiquiatria e presidente das associações Brasileira 
e Latinoamericana de Prevenção do Suicídio
 
Os seres humanos convivem, desde sempre, com doenças infecciosas, mas a globalização e o avanço tecnológico permitem, agora, a rápida disseminação, tanto dos patógenos quanto das informações.
A COVID-19 foi reconhecida como pandêmica. Além da gravidade dessa infecção, somos, ainda, bombardeados com informações dúbias, às vezes até deliberadamente falsas, acerca de fatores relacionados com a sua transmissão, sua origem geográfica, número de infectados, sua taxa de mortalidade, tratamentos eficazes ou não, sem falar da politização de tudo acima, contribuindo para gerar ansiedade e insegurança em toda a população.
 
Vivemos tempos de medo e de incerteza. Nestes momentos em que sentimos que nossa própria vida, ou de nossos próximos, está ameaçada, temos a tendência a negligenciar a saúde mental, com a falsa crença de que ela pode esperar. Ledo engano. A saúde mental é o pilar de nossa vida, de cada um, individualmente, e de todos nós enquanto sociedade e humanidade.
 
O medo é uma resposta adaptativa de defesa que envolve vários processos biológicos e psíquicos, preparando o indivíduo para lidar com uma situação ameaçadora. Entretanto, quando ela é crônica ou desproporcional, torna-se prejudicial, aumentando o estresse e a ansiedade e sendo origem de várias doenças psiquiátricas, intensificando os sintomas das doenças preexistentes. Resultado: durante epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior do que o de pessoas afetadas pela própria infecção.
 
Some-se a tudo isso, a quarentena, essencial para o gerenciamento neste momento de crise sanitária, mas que cobra seu preço em termos de adoecimento mental, tanto em curto prazo quanto em longo prazo. Naturalmente que o fato de não aderir à quarentena, com a consequência de rápida e maciça disseminação do agente infeccioso, levaria a um número maior de doentes e mortos, e, ainda, a um maior estresse psíquico.
 
Daí, não devemos nem podemos negligenciar os efeitos dessa quarentena sobre o psiquismo, em uma ampla gama de aspectos, tendo, inclusive, aumentado o risco de adoecimento mental. Necessitamos estar preparados, agora e nos próximos meses ou anos, para lidarmos com os efeitos psíquicos dessa quarentena, isolamento social, perdas e lutos.
 
Preocupação especial deve ser dada à saúde mental dos profissionais de saúde e médicos que estão atuando diretamente no enfrentamento da COVID-19. Não somos heróis, muito menos deuses, mas seres humanos, com os mesmos medos e inseguranças de todos. Estudos mostram que em situações ditas "normais", médicos já têm mais depressão, mais dependência química e suicidam mais do que a população em geral. Nesse momento de risco de contaminação, de estresse, sobrecarga de trabalho, a saúde mental tende a se fragilizar.
 
Finalmente, não nos esqueçamos dos pacientes psiquiátricos acometidos de doenças mentais graves, que, neste momento, estão em maior risco de entrarem em crise, e que, além de serem do grupo de risco para COVID-19, poderão não ser capazes de entender ou cooperar com a necessidade de isolamento e quarentena. Tais pacientes, certamente, necessitarão de mais leitos de internação em ala psiquiátrica, muitas vezes em enfermarias, em condição de isolamento. Diminuir o número desses leitos poderá fazer com que essas pessoas se tornem um possível foco de contaminação da doença.
 
Pelo descrito acima, vemos com imensa preocupação a notícia do fechamento do tradicional Hospital Galba Veloso, bem como de seus atendimentos de urgência e emergência. O argumento da administração é de que esses leitos serão usados para o atendimento da COVID-19. Serão mesmo?
Trata-se de um antigo hospital, com mais de 60 anos, criado para fins de tratamento de doenças mentais. Transformar essa estrutura para receber pacientes clinicamente graves, infectados pela COVID-19, demandará muitos recursos financeiros e muito tempo. Quando a atual pandemia da COVID-19 acabar, provavelmente essas obras ainda nem estarão concluídas, se é que serão mesmo iniciadas neste momento. Corremos o risco de desassistir nossa população em termos de sua saúde mental, e por nada!
 
Não precisamos e não devemos fechar leitos psiquiátricos e serviços atualmente funcionando e que são essenciais neste momento de crise. Esses pacientes, que são vítimas, além de suas doenças, de um estigma milenar, são a parte mais frágil de nossa sociedade. Temos a obrigação de protegê-los, ainda mais agora!
 
Neste momento de medo e de incertezas, a saúde mental de todos deve ser preservada. Temos que ter serviços de saúde mental que ajudem nossa população a não só passar por esta crise, mas também que a ajude nos curto, médio e longo prazos a se reconstruir na fase pós-pandêmica.
Precisamos, ao mesmo tempo, de políticas públicas para o enfrentamento do COVID-19, e também de todas as suas repercussões atuais e futuras na saúde mental de todos nós.
A saúde mental não pode esperar! 


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