(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Pisa mostra que brasileiros não leem

Metade dos alunos relataram ter faltado um dia de aula nas duas semanas anteriores à prova


postado em 03/02/2020 04:00


Paula Cruz Pereira
Graduanda em letras na Universidade de Brasília (UnB) e bolsista do CNPq

Foi divulgado o relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2018 e os resultados confirmam o que todos temiam: brasileiro não lê. A avaliação, realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) com estudantes de 15 anos de 80 países, teve foco em leitura em sua última edição. No Brasil, foram 10.691 jovens amostrados – correspondendo a uma representatividade de 68% da população elegível para o exame. Destes, o relatório mostra que apenas 2% atingiram níveis máximos de proficiência (nível 5 ou 6) em qualquer das áreas avaliadas (leitura, matemática e ciências). E, o que é mais grave, o desempenho médio na prova não apresenta mudança significativa desde 2009.

Em leitura, 50% dos alunos superaram o mínimo de proficiência (nível 2): foram capazes de identificar a ideia principal de um texto de tamanho moderado, buscar informações com base em solicitações explícitas e refletir sobre o objetivo e características visuais simples de textos quando explicitamente inquiridos (Inep). Esse é o mínimo definido para que o participante possa “compreender, usar, avaliar, refletir sobre e envolver-se com textos, a fim de alcançar um objetivo, desenvolver seu conhecimento e seu potencial, e participar da sociedade”. Metade dos jovens de 15 anos não atingiram esse mínimo.

É fato que uma série de questões socioeconômicas e culturais permeiam o assunto. O próprio Pisa revela que 50% dos alunos relataram ter faltado um dia de aula nas duas semanas anteriores à aplicação da prova. O IBGE mostra que livrarias somem do mapa mais rápido do que videolocadoras. E na Retratos da Leitura no Brasil de 2015, falta de tempo e falta de gosto são autodeclaradas as principais razões para não terem lido mais. Mas a pergunta que fica é: o que se pode, efetivamente, fazer frente a isso?. A meu ver, a resposta está nas escolas. E não apenas no que tange à falta de acesso a livros e recursos, influência da internet e meios digitais, baixa qualificação e valorização de professores, ou o cânone literário questionável, mas na própria abordagem metodológica e pedagógica.

As famigeradas aulas de literatura do ensino médio falam dos tipos de cantigas do trovadorismo, do bucolismo em Marília de Dirceu – uma historiografia completa. Mas qualquer um que se dá ao trabalho de ir a uma sala de aula observa que se lê pouco texto de fato. Todorov, em “A literatura em perigo” (2007), preocupa-se com a estranha inversão por meio da qual o estudante europeu é apresentado à literatura não mediante a leitura dos próprios textos literários, mas intermediado por alguma forma de crítica, teoria ou história literária. Herdamos mais ou menos esse problema.

As perguntas que emergem interessam e são muitas: em que momento a literatura se dissociou da leitura? E por que, quando se fala em literatura, pensamos antes em estudos teóricos e historiográficos do que simplesmente em livros?. Não tenho as respostas, mas me parece que quisemos dar um passo maior que a perna. Não faz sentido ensinar a análise de um texto antes de lê-lo, e as consequências dessa metodologia aos avessos aparecem nas provas de proficiência de leitura Brasil afora. É necessário, urgentemente, reconfigurar a relação do brasileiro com o texto. E a escola precisa mostrar o caminho.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)