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Rodrigo e Vanessa vão se casar


postado em 23/11/2019 04:00

Leonardo Gontijo
Fundador do Instituto Mano Down, irmão do Dudu do Cavaco, com síndrome de Down

Nós, do Instituto Mano Down, estamos em festa. Pela primeira vez, um casal de nossos educandos irá realizar o sonho do casamento. Não seria motivo para comemorar com tanta ênfase não fossem o histórico e as barreiras que as pessoas com Down enfrentam para ter essa oportunidade que muitos desejam. Assim como nós, os pais de Rodrigo e Vanessa estão radiantes. Não imaginavam que seus filhos chegassem a tanto.

Mas, sim, eles podem. Há bem pouco tempo, não mais do que 30 anos, os médicos decretavam a sentença da criança com a trissomia do 21 (T21), a conhecida síndrome de Down, ali mesmo, no quarto da maternidade. Inúmeros pais, incluindo os meus, quando meu irmão Dudu nasceu, ouviram barbaridades do tipo “prepare-se, pois seu filho não vai andar nem falar”; “ele (ou ela) não vai passar dos 10 anos de idade”.

Mas as estatísticas estão sendo contrariadas a cada ano que passa. Além de viver mais, as pessoas com Down também já estão vivendo melhor e construindo seu próprio caminho. Recentemente, a Luisa, uma parceira do instituto, formou-se como a primeira relações-públicas com síndrome de Down do Brasil. E, agora, o casamento de Rodrigo e Vanessa nos prova isso, mais uma vez. Por meio do nosso projeto Talento Apoiado ele é empregado de uma construtora e tem recursos financeiros próprios para suprir as necessidades do casal. Ela, além de participar de várias de nossas atividades, está aprendendo receitas práticas para o dia a dia em nossas aulas de culinária.

A base para esse ganho de autonomia é a própria família. A partir do entendimento do estímulo precoce e da confiança em nosso trabalho é que chegamos aos nove anos do Instituto Mano Down, contabilizando milhares de atendimentos e oferecendo oportunidades de desenvolvimento para crianças, jovens e adultos com a T21 e demais pessoas com deficiência. As famílias que acreditam e apoiam seus filhos com Down, passado o susto inicial da notícia quando o bebê nasce com a síndrome, verão neles um imenso potencial pela frente.

Os medos e inseguranças são naturais, mas é preciso ultrapassá-los. Uma dessas preocupações, especialmente a partir da adolescência, é quanto à questão da sexualidade da pessoa com Down. Se estamos falando de casamento, é preciso, também, abordar esse tema, considerado um grande  tabu. Não falar sobre o assunto ou deixar de explorá-lo com respeito e seriedade é desconsiderar algo intrínseco da natureza humana. Ao contrário da crença antiga de que a deficiência os tornaria eternas crianças,  as pessoas com Down não são assexuadas. Tampouco são seres com a sexualidade exagerada.

Assim como amam, se emocionam, aprendem, são responsáveis, se divertem, têm, sim, uma sexualidade como outros homens e mulheres sem a síndrome. Muitos deles  são mesmo mais espontâneos e verdadeiros com os sentimentos do que a maioria de nós. Mas, em princípio, o que há de errado nisso?

O que importa lembrar é que eles têm direito a ocupar seu lugar no mundo e celebrar suas próprias conquistas, como vemos no casamento de Rodrigo e Vanessa, apaixonados desde a infância. Ainda bem que a lei brasileira de inclusão, que era uma barreira contra o desenvolvimento das pessoas com síndrome de Down, alterou o Código Civil e, hoje, essas pessoas não são mais legalmente consideradas incapazes e podem se casar.

De conquista em conquista vamos avançando. Continuemos sonhando e realizando para que um dia o casamento entre pessoas com Down não precise ser notícia na imprensa. E pelo que foi alcançado até aqui, agradeço aos pais, educadores, equipe, todos que acreditam no que fazemos e aos apoiadores que tornam isso possível. E, claro, um brinde aos noivos.
 


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