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Quando o muro caiu

O desafio do mundo é o da liberdade com garantias mínimas de uma vida digna


postado em 20/11/2019 04:00

Daniel Medeiros
Doutor em educação histórica pela UFPR e professor de história no Curso Positivo

O Brasil se preparava para o segundo turno das eleições presidenciais, entre o metalúrgico socialista Luís Inácio Lula da Silva e a incógnita liberal salvacionista Fernando Collor de Melo, quando a televisão anunciou a queda do muro de Berlim. Era 9 de novembro e o jornalista, em cima do muro cercado de gente eufórica comemorando o fim da parede de concreto e da divisão simbólica que separava o "paraíso" comunista do "inferno" capitalista, dizia: "Vejo a história acontecendo diante dos meus olhos". No entanto, as pessoas que queriam romper o muro, fazer desaparecer o muro, apagar o muro (mas não esquecer o muro) não viam nada disso como a vitória do capitalismo, mas como a vitória da liberdade contra a violência brutal e desumana do totalitarismo. Mesmo assim, os capitalistas comemoraram como se fosse por eles (e para eles) que o muro caiu. Há 30 anos. 
 
Hoje, diante dos recordes de desigualdade social, nada do que vemos permite dizer que foi isso o que realmente aconteceu. Da mesma forma que a vitória das ideias de Collor não sobreviveram a uma investigação do Congresso, a queda do muro só foi capaz de trazer novas perguntas ao mundo. E agora, sem muro, o que fazer para que a grande praça pública abrigue todos, atenda a todos com o mínimo de dignidade? Pois é sabido que os países chamados de comunistas proporcionavam o mínimo de bens, embora seja óbvio que pão é fundamental para a fome, mas a fome de ninguém acaba com o pão. Continua com a vontade de criar, expressar-se, viajar, maravilhar-se, discursar, inventar, criticar, manifestar, ou mesmo ficar quieto em seu canto. Acontece que sem o pão, com a barriga roncando, e sem saúde, com o corpo todo doendo, aí as outras fomes se calam. O desafio do mundo é o da liberdade com garantias mínimas de uma vida digna. E nesse aspecto há, ainda, muitos muros levantados, muros verdadeiros, como os da Cisjordânia e da fronteira do México, muros invisíveis, como os que separam a pobreza da cidadania, a cidadania dos serviços públicos, os talento
s da boa escola, os gênios do apoio, os cientistas de verbas e as minorias de reconhecimento.
 
Há 30 anos, o muro de Berlim caiu e um intelectual norte-americano, Francis Fukuyama, disse que a história havia terminado, que não haveria mais conflitos capazes de transformar o mundo e que, "agora", navegaríamos em um mar de economias liberais contínuas, uma marolinha aqui, uma chuva mais forte ali, mas todos os barcos teriam como destino os mesmos portos. E, 30 anos depois, nenhuma paisagem é mais conhecida do que a do mar revolto da economia mundial, da ascensão dos governos nacionalistas, dos discursos autoritários contra imigrantes fugidos das guerras em seus países – guerras alimentadas pelas políticas armamentistas das mesmas nações que tentam evitar a entrada dos fugitivos. Também há fortes ventos no comércio, com novas medidas protecionistas, sobretaxas, acordos bilaterais, guerra comercial. Tudo aquilo que o capitalismo negava e pregava ser coisa do outro lado do muro. Mas o muro caiu. Mas o muro não caiu. Ou são as pedras do muro caído ainda a atravancar o caminho.


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