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Carta a um procurador da Lava-Jato


postado em 15/09/2019 04:00

Antônio Polankzyk
Engenheiro e ex-presidente de  Siderúrgica Belgo-Mineira

 

Nos últimos cinco anos, raramente eu e meu sobrinho nos encontramos e, nessas ocasiões, não ouvi uma palavra sobre suas atividades profissionais. Mas vi pela imprensa o fruto de seu trabalho e de seus colegas promotores da Lava-Jato. Vi como expuseram à luz do dia o maior esquema de corrupção da nossa história. Aplaudi e me emocionei com a condenação e prisão de ladrões que usaram seus cargos para enriquecer e desmoralizar a função pública.

Como antecipou Sérgio Moro, a reação dos políticos logo começou a aparecer. Inicialmente, de forma episódica, culminou com a aprovação pelo Congresso da Lei de Promoção da Impunidade, ou Lei do Abuso do Poder, enquanto o projeto anticrime apresentado por Moro dorme em alguma gaveta. E o presidente da República parece ter se esquecido de sua bandeira de combate à corrupção.

Da boca para fora, empresários, políticos, imprensa e até ministros do STF se mostram contrários à corrupção e apoiam a Lava-Jato. Assistimos, entretanto, aos esforços para arranhar a     imagem de Sérgio Moro e desmoralizar Deltan Dallagnol. Soltar o chefe da quadrilha parece ser o objetivo de lideranças e de parte expressiva do povo brasileiro (e da Igreja Católica). De uma hora para a outra, o modus operandi da Lava-Jato passa a ser criticado, como se para prender bandidos fosse necessário usar luvas de pelica e deixar de lado os recursos disponíveis do Coaf, na PF e na PGR. Agora, o Supremo vem com firulas jurídicas para anular o processo do Bendine, abrindo a porteira para soltar todos os condenados da operação.
Provas e restituição de valores roubados já não valem mais. A ordem sequencial dos depoimentos de criminosos é mais importante. Onde estamos? A atuação dos sacripantas do STF me envergonha, agride a inteligência humana e abala o meu senso de justiça. Deve ser inveja, dor de cotovelo, porque em pouco tempo a Lava-Jato condenou mais de uma centena, enquanto o STF só conseguiu concluir um processo em 10 anos.

As delações, confissões, restituições de di- nheiro público, condenações no Brasil e no exterior parecem não valer nada. Mais importante do que os fatos reais são as interpretações dos mi- nistros do STF. A divulgação de conversas telefônicas tornou-se mais importante do que a roubalheira. A essa frustração segue-se uma visão maior: você e seus colegas da Lava-Jato escanca- raram a convivência imunda entre alguns políticos e empresários. Podem gritar e espernear: não tem volta. A verdade, enfim, apareceu.

Há anos, matei uma cobra e vi que o rabo continuava a se mexer. Mas a cobra já estava morta. Lembra-se de quando a vovó Carolina carneava um porco ou torcia o pescoço de uma galinha? A galinha continuava a se debater e o porco a gritar, mas ambos acabavam na panela. Do mesmo modo, as reações dos condenados, de seus advogados e de parte da imprensa, incluindo famosos comentaristas da TV, são apenas tremores de morte do maior esquema de corrupção da história do Brasil. Podem gritar e espernear, mas está acabado.

Estou enormemente orgulhoso pelo que fize- ram. Vocês mudaram o modo do relacionamento entre políticos e empresários, o público e o privado. Podem até condenar o Dallagnol, demitir o Moro, acabar com a Lava-Jato, soltar os criminosos, endeusar o chefe da quadrilha, mas nada mudará a realidade. O rei está nu. Corruptores e corrompidos expostos à luz do sol. O STF e seu presidente não poderão mais esconder os fatos debaixo de uma peneira. O Brasil nunca será o mesmo depois da Lava-Jato.

"Então, no outono de sua vida, quando um neto te perguntar o que fizestes, poderás responder em poucas palavras: combati o bom combate, mantive a fé na lei".


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