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Estado de Minas

A verticalização das cidades


postado em 01/08/2019 04:05

O adensamento populacional nas grandes cidades oferece inúmeros desafios aos planejadores urbanos. Ainda que não exista uma equação fácil para conciliar as demandas práticas da civilização humana com as da sustentabilidade, muitas vezes defensores de uma ou outra visão utilizam argumentos hostis uns contra os outros. Ou seja, os práticos na resolução dos problemas urbanos, sociais e econômicos defendem o adensamento das cidades, inclusive através da verticalização, enquanto outros segmentos a demonizam como mero instrumento de especulação e de imposição de força econômica.
Longe de querer afirmar que a verticalização das cidades só traga vantagens, podemos e devemos ir além da crítica à especulação, mesmo porque ela é muitas vezes exagerada. É verdade que mais construções costumam atrair mais construções, de maneira que esse ciclo é alimentado e alimenta o encarecimento dos terrenos urbanos, progressivamente disputados. Essa valorização é uma das principais motivações para a verticalização dos empreendimentos, por possibilitar que o custo dos terrenos seja rateado por um número maior de unidades imobiliárias nele construídas. Com isso, a verticalização também democratiza o espaço urbano, ao franquear uma localização conveniente e bem-estruturada, para um número maior de pessoas.
É importante enxergarmos que a verticalização pode trazer várias vantagens para as grandes cidades, como, por exemplo, evitar a impermeabilização do solo. Um mesmo edifício vertical, caso tivesse suas unidades imobiliárias dispostas lado a lado na horizontal, certamente ocuparia uma extensão muito maior de terreno natural, impactando a absorção de águas pluviais. Nesse cenário, as cidades ocupariam muito mais espaço que os atuais, não apenas em função da maior área ocupada pela projeção dos edifícios, mas também pelas vias urbanas que seriam necessárias para lhes dar acesso. A infraestrutura urbana, traduzida em redes de água, esgoto, energia, comunicação, e transporte, teria que ser muito mais capilarizada, com seus custos certamente mais elevados, tanto os de implantação quanto de manutenção, elevando o consumo de energia, produção de rejeitos e os níveis de poluição. Uma maior ocupação de terreno natural implicaria, ainda, impactos negativos sobre a vida selvagem e na redução de área de florestas e de áreas cultiváveis. Por outro lado, ao concentrar os imóveis em construções verticalizadas, é possível reservar mais espaço público ao nível da rua para praças, calçadões ou jardins, favorecendo a experiência urbana ao nível da visão e do alcance do cidadão, ou seja, o nível do solo.
As edificações verticais, conquanto demandem fundações e estruturas mais robustas – e mais caras –, ao mesmo tempo são mais bem planejadas, uma vez que investimentos de maior vulto demandam um maior apuro técnico. Um número crescente e expressivo de torres verticalizadas busca as mais exigentes certificações ambientais como Leed e Aqua, entre outras, para sua validação ambiental, independentemente das obrigações legais, normalmente menos restritivas. Por essas razões, as torres verticalizadas podem ser mais longevas que construções horizontais erguidas com menor critério, com um impacto ambiental positivo a ser considerado.
Outro aspecto relevante das torres é o de favorecerem a circulação vertical, em vez da horizontal. O uso de escadas, em pequenos percursos, é hoje entendido e até incentivado como uma alternativa saudável para pequenos deslocamentos. Mesmo a opção pelos elevadores no deslocamento vertical pode ser vista como positiva. Os elevadores são considerados, estatisticamente, o meio de transporte mais seguro do mundo quando comparados com outros sistemas de transporte típicos das cidades, como o metrô, monotrilho ou ônibus, ainda que, como estes, demande consumo de energia para se viabilizar.
As torres verticalizadas, embora impactem visualmente o horizonte, também podem contribuir para enriquecê-lo através de uma arquitetura elaborada e até mesmo com apelo turístico, o que muitas vezes é relevado a um segundo plano nas edificações horizontais. As torres também são capazes de oferecer vistas panorâmicas interessantes, proporcionando aos seus usuários perspectivas impressionantes e inspiradoras da paisagem. Até mesmo o que poderia ser um ponto negativo das cidades verticalizadas, como a alegada redução progressiva da metragem dos imóveis residenciais e comerciais compactados nas torres, pode nos ensinar que é possível viver bem, ou até melhor, com menos. Além de estimular a criatividade na ocupação, o espaço economizado no âmbito privado beneficia os locais onde ele é realmente necessário, ou seja, o espaço da coletividade, compartilhado por pessoas diferentes para o lazer, trabalho, preservação ambiental e produção de alimentos.


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