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Estado de Minas

Hackers, o mau cheiro. Bê, o bom amigo


postado em 29/07/2019 04:06

O que mais se comentou e deu manchete na semana passada (escrevo na quinta-feira) foi a prisão, pela Polícia Federal, de quatro hackers, palavra da moda, que teriam invadido a privacidade do celular de várias autoridades, entre elas o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Eles, os invasores, teriam participado da gravação de conversas de Moro, quando juiz federal em Curitiba, com os procuradores federais que investigavam, e ainda  investigam, o escandaloso caso da Lava-Jato. A descoberta e a prisão dos hackers, um feito notável e pioneiro dos policiais federais, pode e deve desmoronar o esquema contratado e pago por alguém com o objetivo de invalidar tudo o que se apurou até agora. E tirar da prisão os que foram condenados pelo juiz famoso e por tribunais, por assalto aos cofres públicos e de empresas públicas. Entre os corruptos condenados e presos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A investigação teria conseguido detectar movimentação e depósitos bancários de mais de R$ 600.000 nas contas de dois dos integrantes do bando, além de compra de dólares, euros e armas, bem acima da capacidade financeira de todos eles. O bom trabalho precisa e vai continuar, pois muita coisa ainda não foi esclarecida. Quem contratou os hackers? Logicamente, eles não fariam o que fizeram a não ser motivados por uma altíssima recompensa financeira. O que eles fizeram com a gravação? Teriam participado da gravação de supostos diálogos entre Sérgio Moro e os procuradores federais que investigam os corruptos envolvidos na Lava-Jato? Diálogos, certamente, falsificados e editados para comprometer o juiz e para arquivar tudo o que foi apurado, anulando as sentenças de prisão já executadas. 

Um dos bandidos presos, dizem que era o líder do agrupamento, resolveu confessar o que se denomina crime cibernético à PF. Confirmou a invasão dos telefones, a participação dos demais companheiros no trabalho sujo, mas continua desmentindo o recebimento de qualquer quantia em recompensa. Mesmo assim, abriu o caminho para que tudo seja desvendado. A polícia não revela tudo o que ele contou, apenas informou que houve a confissão. O país está precisando mesmo de uma faxina total dos que até agora agiam criminosamente na clandestinidade. Muitas explosões e implosões estão sendo esperadas. Que venham logo.

A canalhice, a velhacaria, a falta de caráter, a corrupção que já foram reveladas e comprovadas pelo Ministério Público e pelo Judiciário independentes parece que não chegaram ao limite do suportável. Muita sujeira vai emergir do lixo agora descoberto pela PF. Haja olfato para aguentar tanto mau cheiro.  

Bê, o bom amigo 

Agora, depois de tanta podridão, uma história amena e pura. Para arejar. 

Ele chegou muito pequeno. Foi o que me impressionou. Cabia na palma da mão da Fabiana, minha neta, que conseguiu trazê-lo para nossa casa,  doado por uma amiga. Ela o escondeu em seu quarto. Havíamos perdido, antes, o Rintintin e a Lady, histórias bonitas e tristes que contarei, com a da Diana, em um outro dia, para não ultrapassar o espaço e o limite de caracteres que posso preencher. Rachel sofreu muito com as duas perdas e não queria enfrentar mais sofrimento. Um dia, ela descobriu o Bê, Bernardo no registro, no quarto da neta. E se apaixonou pelo pequenino e alegre yorkshire. Brincava com ele, ria de suas artes, a casa com Bê se tornou mais feliz ainda.

Ele conquistou todos. Com o passar do tempo, ocupou o lugar, sem exagero piegas, de meu melhor, mais fiel, mais constante amigo. Cresceu, mas como todos da mesma raça, sem extrapolar os limites do seu DNA. Já adulto, seu tamanho, de comprido, pouco iria além de dois palmos. Com pelugem bem farta, de fios castanho-claros, quase louros, esbanjava leveza, graça, beleza. Corria por toda a casa, explorava, com minúcias, os jardins enormes do Morro do Chapéu, seu recanto preferido nos fins de semana. Seu brinquedo favorito era uma bola, que me pedia sempre, trazendo-a para meus pés, para jogar com ele, como se goleiro fosse. Foi assim até os 10 ou 12 anos, o que corresponde, segundo os que entendem do assunto, aos nossos  70 ou 80 anos. Um senhor, portanto. Um senhor inglês, pois seus ancestrais são de lá. E que senhor educado e amigo. Minha neta, ao se casar, não quis levá-lo para sua casa, para deixá-lo, com o filho pequeno, o também  educado e bonito yorkshire Eduardo, Du, herdeiro das características e hábitos do pai, para me fazer companhia na casa que ficou vazia, como acontece com todas as casas, com todas as famílias, com o passar impiedoso do tempo.

Sempre ao meu lado, ele acompanhava a leitura de jornais, os programas de televisão, o teclar do notebook. Nunca dormia antes, esperava, no final já denotando cansaço, mas nunca impaciência, até o apagar da luz de meu quarto, para deitar, ao lado da minha, na cama que dividia com o filho.  Era tão bom pai que se afastava do prato de ração para que o filho comesse primeiro. Em fevereiro ele partiu. Tinha ido, com o o Du, tomar banho em um petshop. Com o pulmão já enfraquecido, coração idem, não resistiu a um secador exagerado na temperatura e à precariedade do atendimento de urgência.

A despedida foi triste. Foi levado em silêncio emocionado pelo Jorge, pela Roseli, pela Irene, solidários na tristeza, e por seu filho, sem entender o que acontecia e que ainda o procura todos os dias. Ele parecia dormir tranquilo, dentro de bonita caixa de madeira, deitado  sobre uma manta, coberto por outra, as que sempre usava em dias frios. A terra o cobriu, como nos cobrirá um dia. Dorme, hoje, no canteiro mais florido do recanto de que mais gostava, no jardim mais bonito no alto da montanha que ele tanto amou.


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