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Ameaças a Maduro


postado em 31/01/2019 05:03

(foto: QUINHO)
(foto: QUINHO)

De acordo com velhos companheiros que o conheceram na juventude, o presidente Nicolás Maduro comporta-se, hoje, como o mau motorneiro que já foi no começo dos anos 1980 no metrô de Caracas. Profundamente incapaz para exercer o cargo em que Hugo Chávez o colocou, numa disputa caseira para bloquear a ambição pelo poder de Diosdado Cabello (a quem "el comandante" odiava, mas sem conseguir diminuir-lhe a influência no partido), Maduro teve, no entanto, a capacidade de construir uma aliança com a cúpula do Exército, entregando-lhe o comando real do país em troca do respaldo integral à sua presidência. O resultado é de todos conhecido: a Venezuela conduzida à ditadura e à falência com uma inflação de 1.370.000% em 2018 e previsão, pelo FMI, de chegar aos 10.000.000% este ano.

A pressão internacional está aumentando e não pode ser ignorada, mas as cartas seguem sobre a mesa. Maduro, na atual queda de braço com a Assembleia Nacional que decidiu empossar  Juan Guaidó como presidente interino do país, deu sorte a partir do momento em que seus mais evidentes inimigos passaram a ser dois governos claramente identificados pela comunidade internacional como cultores de uma direita assumida: dos Estados Unidos, os primeiros a reconhecer Guaidó, e do Brasil, que sem necessidade de ser tão apressado tornou-se logo o segundo. Com isso, o apoio de poderosas potências de esquerda, mesmo que distantes – Rússia e China –, veio de imediato. Na região, a única sustentação de valia é a de Cuba, com a presença em território venezuelano de centenas de agentes de segurança e inteligência, pois Bolívia e Nicarágua pouco mais podem fazer a não ser dar-lhe apoio moral.

Neste imbróglio há, no entanto, um ponto fraco que, se explorado a fundo, pode criar problemas econômicos reais e insuperáveis para o atual governo venezuelano. Trata-se da Refinadora de Petróleo e Comercializadora de Gasolina, Lubrificantes e Petroquímicos (Citgo), que desde 1980 pertence integralmente à estatal Petroleos de Venezuela (PDVSA). Tendo sido ainda mais forte no passado, a Citgo, cuja sede é na Eldridge Parking, em Houston, Texas, hoje tem nos Estados Unidos três refinarias, 48 terminais de armazenamento e distribuição, além de 6.000 postos de gasolina. Tem 3.700 empregados diretos e produz 800 mil barris por dia, sendo a quarta maior empresa do país em sua categoria. Embora esse volume represente apenas 4% do consumo total de gasolina dos Estados Unidos (20 milhões de barris/dia), é inegável que tem um peso importante no mercado interno dos EUA.

Cerca de metade da cada vez mais escassa produção petrolífera venezuelana – que detém as maiores reservas provadas de petróleo do mundo – vem sendo usada para abater os juros da dívida externa com Rússia, Índia e China. A Citgo, que chegou a faturar US$ 34 bilhões ao ano nos EUA, atualmente enfrenta problemas com execuções de dívidas por operações no mercado norte-americano (a canadense Crystallex acionou a Justiça contra a PDVSA), mas o que arrecada tornou-se mais e mais fundamental para o governo venezuelano por se constituir na sua quase única fonte de dinheiro vivo em dólares.

Outra fonte de preocupação é que 49,9% do valor em mercado da Citgo foi comprometido, em 2016, como garantia de empréstimo de US$ 1,5 bilhão tomado à poderosa estatal russa Rosneft. Caso a PDVSA não consiga resgatar o empréstimo, a Rosneft tornar-se-á a sócia majoritária da empresa em território americano, pois, para tanto, o seu bilionário proprietário, Igor Sechin, tido como aliado próximo de Vladimir Putin, teria apenas que adquirir no mercado um pequeno lote adicional de ações. Tal hipótese, que  apavora diversos setores nacionalistas nos EUA, levou um grupo de investidores a pedir, em outubro último, autorização ao Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro americano (OFAC) para assumir a parcela da Citgo que cabe à russa Rosneft. No Congresso, os senadores Robert Menendez e Marc Rubio expressaram com vigor suas preocupações perante o secretário do Tesouro, Steven Munchin. Ignora-se tanto a posição do presidente Trump em relação a essas negociações quanto da Rosneft para saber se está aberta a uma oferta de compra de suas ações.  Em paralelo, destacados funcionários governamentais têm falado acerca da hipótese de transferir as reservas e o dinheiro movimentado por empresas venezuelanas nos EUA não mais para o governo de Maduro, e sim para Juan Guaidó. Já a União Europeia optou por esperar um pouco mais, concedendo uma semana ao governo Maduro para que convoque eleições, mas tendo de ouvir a inevitável resposta: "Quem são eles para exigir que façamos qualquer coisa dentro da Venezuela?".  

Todas essas possibilidades dependem de uma serie de equacionamentos legais e do fortalecimento interno da opção Guaidó, algo que analistas experientes e conhecedores do comportamento recente do bolivarianismo não consideram como provável. O povo segue sem poder autônomo de reação e o caminho da guerra civil, apesar da fome cada vez mais presente, está fora de cogitações.


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