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Estado de Minas

Coronavírus: Jornalista que mora em Milão orienta brasileiros a não errar como os italianos

Liziane Guazina cita medidas equivocadas que governo e sociedade civil do país europeu cometeram


postado em 12/03/2020 19:25 / atualizado em 12/03/2020 20:38

Jornalista vive em Milão, na região mais afetada pelo vírus na Europa(foto: Reprodução/Flickr)
Jornalista vive em Milão, na região mais afetada pelo vírus na Europa (foto: Reprodução/Flickr)

“Hoje não posso sair da cidade, nem da minha casa. Não posso encontrar outras pessoas, a menos que seja com um metro de distância, e devo usar máscara, mesmo não estando doente em lugares públicos. Há mais de 20 dias minha filha não vai à escola. Milhares de pessoas estão vivendo assim.” O relato é da jornalista brasileira Liziane Guazina, que mora em Milão, cidade do Norte da Itália, onde a propagação do vírus Covid-19, mais conhecido como coronavírus, é a mais intensa. 

Até a tarde desta quinta-feira, o país europeu já tinha registrado 1.016 mortes e 15.113 casos confirmados por causa do vírus. Em 12 dias, o número de casos passou de 248 para mais de 10 mil casos.    

Em depoimento, a jornalista contou um pouco como o país está lidando com o novo coronavírus e como autoridades deixaram a situação chegar no momento de caos vivido pelos italianos atualmente. Para tentar controlar a disseminação do vírus, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, decretou quarentena em todo o país. 

Por lá, pessoas são aconselhadas a sair de casa apenas em situações emergenciais. Todas as atividades comerciais não essenciais estão proibidas de funcionar. Somente podem abrir as portas lojas de alimentos, farmácias e serviços postais e bancários.  

No depoimento, Liziane lembra o fato de que a Itália foi o primeiro país da Europa a bloquear voos da China e a fazer controle na chegada ao território. “Mas os italianos do Norte, especialmente os milaneses, não consideravam o coronavírus um assunto relevante. Cansei de ouvir: "é só uma gripe forte. Não mata ninguém", comenta a jornalista.

De acordo com ela, no início, os italianos preferiam tratar o assunto de uma forma patriótica e regionalista, sempre com frases de efeito e superação. "Milano saberá sair dessa!, diziam amigos, vizinhos." #Milanononseamola seria a hashtag do momento, quando os primeiros casos começaram a aparecer. Como a jornalista conta, um diretor da escola onde sua filha estuda chegou a fazer piada do caso.

As coisas só teriam começado a mudar em 20 de fevereiro, depois que o governo confirmou o primeiro caso autóctone (quando o vírus é transmitido por pessoas da própria região), em Codogno, na Região da Lombardia. “O paciente 1, com 38 anos, executivo, atleta, com ótima condição física, viajou para inúmeras cidades. Hoje se sabe publicamente que o vírus entrou na Itália não vindo diretamente da China, como até o governo Conte acreditava, mas da Alemanha, país que teve o primeiro caso de Coronavírus na Europa”, completou.

Ao contrário do que acontece no Brasil, lá, os pacientes com suspeita de coronavírus eram atendidos em hospitais que não tinham o protocolo adequado para a situação. “(No início da semana passada), não tinha mais espaço em UTI para todo mundo, o sistema público de saúde mais equipado e rico da Itália estava tensionado a tal ponto que poderia “crollar” (desabar)”.

Em meio ao caos epidemiológico, ainda surgiu tempo para crises políticas no país europeu. “A tensão aumentou com governadores da Lega (direita) dizendo que não iriam implementar medidas de contenção”. Além disso, para piorar a situação, a secretaria de Comunicação da Região da Lombardia vazou para a imprensa medidas ainda mais restritivas pelo governo. Com isso, segundo a jornalista, 25 mil pessoas saíram do Norte em direção ao Sul,  “em um êxodo que acabou por levar ao lock down total da Itália e a uma série de problemas, inclusive revoltas nas cadeias.”

Liziane também levanta um ponto importante em relação aos grupos suscetíveis à contaminação pelo Covid-19. Por mais que o vírus apresente maior risco para a população idosa, a falta de serviços hospitalares pode ocasionar também na morte de pessoas jovens. Na Itália, há casos de pessoas infectadas que desenvolveram pneumonia  grave, precisaram de ventilação mecânica e UTI, mas não tiveram acesso. 

“Temos de aprender com os erros e acertos no caso italiano: não subestimar a emergência sanitária que vai colocar em risco o sistema de saúde. Amigos e amigas, imaginem o que pode acontecer nos hospitais cheios das grandes cidades brasileiras, em UTIs sem condição de atendimento, com cortes de orçamento e o governo que está ai. Fiquem atentos”, finaliza.

* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie


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