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Estado de Minas

Pais resgatam brincadeiras de rua para afastar filhos de games e celulares

Em meio a avanços tecnológicos, pais indicam passatempos populares ao ar livre como alternativa aos celulares, computadores, tablets e televisão


postado em 25/02/2020 19:56 / atualizado em 25/02/2020 20:03

Pinturas, massas de modelar, pique-esconde e bola são algumas das atividades que fazem parte da rotina dos pequenos(foto: Filipe Lopes/Divulgação Curumim Cultural)
Pinturas, massas de modelar, pique-esconde e bola são algumas das atividades que fazem parte da rotina dos pequenos (foto: Filipe Lopes/Divulgação Curumim Cultural)
Quem tem mais de 40 ou 50 anos lembra como era juntar a turma de amigos para pular amarelinha, andar de carrinho de rolimã, brincar de pega-pega, jogar pião ou queimada. São brincadeiras que fazem parte do imaginário de muitos adultos, mas que hoje raramente são vistas nas ruas. Em tempo de modernidade e avanços tecnológicos, as conhecidas telas de celulares, computadores, tablets e televisão substituem os passatempos antigos. No entanto, são cada vez mais frequentes os exemplos de pais que incentivam os filhos a brincarem ao ar livre. 
 
É o caso da professora Ana Beatriz Magalhães, 27 anos, que motiva diferentes brincadeiras com os filhos e evita o uso da televisão. Mãe do Samuel, 4, e Ricardo, 2, ela conta que optou por restringir a tecnologia no lar. “Nos primeiros dois anos de vida do meu segundo filho, ainda deixávamos a TV ligada enquanto brincávamos com o mais velho. Mas resolvemos cortá-la de vez. Só ligamos e acessamos eletrônicos quando as crianças estão dormindo”. Ela explica que a mudança de hábito foi dífícil e lenta. “Mas, após um tempo, percebemos o quão ruim era o tempo gasto na frente da tela”, conta. 
 
Pinturas, massas de modelar, pique-esconde e bola são algumas das atividades que fazem parte da rotina dos pequenos e ajudam no desenvolvimento da criatividade. “Busco incentivá-los a brincarem juntos, criando novos jogos. Quando um adulto não pode estar presente, ensino o respeito que devem ter um com o outro. A ausência dos pais não os deixa sem ter o que fazer, pelo contrário, inventam mais coisas para fazerem juntos”, frisa Ana Beatriz. Ela explica que o fato de morarem em apartamento não atrapalha o divertimento. “Eles descem todos os dias para brincar na quadra ou embaixo do prédio. Não há necessidade de ir para uma casa”, complementa. 

De acordo com a professora, os passatempos são os momentos de maior aprendizagem e desenvolvimento na fase inicial da criança. “Para nós, pais, ensinar brincando é muito melhor do que falar e decorar fatos e coisas. A interação entre os irmãos e primos é sensacional, e não precisamos interferir toda hora na relação entre eles”, ressalta. Ana acrescenta que, além da relação entre os filhos, a retirada das tecnologias influenciou em seus papéis como pais. “Acho que a tela nos tira a obrigação de sermos pais. Ao retomar a nossa vocação, notamos o quão importante é cuidar, de fato, dos bens concedidos por Deus para nós. Pede esforço, dedicação, atenção e amor. Ao final do dia, estamos exaustos, porém, felizes. Uma felicidade que só quem ama de verdade consegue vivenciar”, acredita.
 
Nostalgia
 
Pai da Sofia, 9, e Ulisses, 4, o gerente de projetos sociais Bruno Lopes, 34, conta que promove atividades diversas com os filhos. As brincadeiras mais frequentes entre eles chegam a ser nostálgicas para alguns: carrinho de rolimã, jogo da velha, balanço e bambolê. “O ar livre e materiais reaproveitados sempre fazem parte de nosso brincar. Em tempos de chuva, o jogo simbólico, ou o faz de conta, e a contação de histórias são nossas brincadeiras”, relata. Ele diz que ensina para as crianças, através dos jogos, maneiras de lidar com problemas. “Não é na força, não é na violência. Demonstro que não adianta apertar com força os encaixes do quebra-cabeças. O problema só vai ser resolvido se as cores e as linhas se encaixarem”,  salienta.
 
Por compreender que os brinquedos populares e as brincadeiras tradicionais têm um papel fundamental na saúde física e mental e no desenvolvimento de habilidades dos filhos, Bruno restringe o uso de objetos digitais. “Quando as crianças saem do seu lar para brincar, de imediato podemos associar a um afastamento do sedentarismo. Na rua, ela vai ter contato com outras crianças, vai precisar conversar, negociar, e lidar com a perda”, realça. O gerente explica que entre as principais mudanças no desenvolvimento dos pequenos, estão as habilidades de manipulação de objetos e autonomia para resolver problemas. “Eles também têm ótimos resultados em socialização, em qualquer ambiente em que chegam, cada um com sua particularidade”, completa Bruno.
 
Curumim Cultural
 
Todas as atividades realizadas pelos filhos Sofia e Ulisses são consequência do Curumim Cultural (Comum Idade Cultural), projeto de Bruno, que visa ao resgate de brinquedos populares, brincadeiras tradicionais e jogos de rua. A iniciativa começou em 2015, quando o morador de Samambaia percebeu que as crianças da região não tinham o costume de se divertir ao ar livre. “Passei a brincar na rua para influenciar meus filhos, e logo depois motivei os pequenos moradores da minha quadra”, lembra. Aos poucos, Bruno incrementou outros jogos, brinquedos e brincadeiras, até a ideia se transformar em projeto.
 
Além de influenciar a vida dos pequenos moradores, os pais também foram estimulados pelo projeto. “Eles amam a proposta de reviver momentos da infância deles em comunhão com suas crianças”, observa o responsável pelo Curumim Cultural. A proposta também foi levada às escolas. “Lá, gestores e professores são provocados a atuar no brincar de forma mais atenta e consubstanciada, aumentam-se as pesquisas, os estudos e a atuação no lúdico. E, em outro ponto, escolas específicas também reforçam os laços entre instituição de ensino, família e comunidade”, reforça. 
 
Vencedor do prêmio Viva Voluntário, em 2018, o Curumim Cultural atua com diferentes organizações e ações. O perfil dos participantes é livre. “Costumo contar que Ulisses andou com seis meses de gestação, ou seja, ainda no ventre de sua mãe, e comigo em um carrinho de rolimã”, brinca Bruno. Os brinquedos e brincadeiras são para todas as idades, e, para participar, é preciso estar atento à agenda do programa nas redes sociais.
 
*Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura
 
Recomendações ao uso de telas 
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em momentos de inatividade, recomenda-se que os pais ou responsáveis leiam ou contem histórias.
 
Crianças com menos de um ano:
 
Devem estar fisicamente ativas várias vezes ao dia, de várias maneiras, particularmente por meio de brincadeiras interativas no chão.
 
Não se recomenda que passem tempo diante de telas de dispositivos eletrônicos. 
 
Com um a dois anos de idade:
 
Passar ao menos três horas em uma variedade de atividades físicas em qualquer intensidade.
 
Para crianças de um ano de idade, não se recomenda nenhum período de tempo em frente a uma tela. Para aquelas com dois anos de idade, o tempo não deve ser superior a uma hora.
 
Com três a quatro anos de idade:
 
Devem gastar ao menos três horas em vários tipos de atividades físicas, em qualquer intensidade. 
O tempo dedicado a atividades sedentárias em frente às telas não deve exceder uma hora.


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