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Estado de Minas MENINOS DA GUERILHA

Testemunha pode ser peça-chave para desvendar sequestro de menino feito pelo Exército

Giovani, filho de um militante com uma camponesa, foi levado do Araguaia por militares nos anos 1970. Seu paradeiro é incerto


postado em 23/09/2013 06:00 / atualizado em 23/09/2013 08:37

Pedro Martins com José Viana: Se tem alguém que sofreu com essa guerra foi esse rapaz aí (foto: Alessandra Mello/EM/D.A Press)
Pedro Martins com José Viana: Se tem alguém que sofreu com essa guerra foi esse rapaz aí (foto: Alessandra Mello/EM/D.A Press)

Piçarra (PA) Uma técnica em enfermagem pode ser a peça-chave para desvendar uma história contada e recontada pelo camponeses, principalmente os mais velhos, do Araguaia, na região localizada entre Pará e Tocantins, palco do maior foco de resistência à ditadura durante o regime militar. Maria da Tomazona, referência ao nome de sua mãe, conhecida no lugar apenas pelo nome de Tomaza, seria a testemunha do sequestro pelo Exército de um menino de 4 anos, batizado de Geovani, filho de Maria Viana da Conceição, a Maria do Xambari, com o mais famoso militante da Guerrilha do Araguaia, Osvaldo Orlando da Costa. Geovani teria sido levado dos braços da mãe em Araguaína, no Tocantins – na época Goiás –, também localizada na beira do Rio Araguaia, por militares do Exército, que chegaram à cidade em um helicóptero e foram levados até Maria Viana por um morador de São Geraldo do Araguaia, já falecido, de nome Celestino.


Essa história foi contada por Tomazona, no início deste ano, para dona Maria de Lurdes Pacheco Cruz, 54 anos, mulher de Pedro Martins da Cruz, 74 anos, pai adotivo de José Viana, 47 anos, único dos cinco filhos de Maria Xambari que não desapareceu durante a guerrilha. Segundo Zezinho Barqueiro, como é conhecido na região, além dele e de Geovani, sua mãe tinha três filhas (Maria, Yeda e Carlânia).

Maria da Tomazona, segundo dona Lurdes, foi quem tomou conta de Maria Xambari quando, já doente (tinha câncer de mama), ela “foi fugida do Exército” se esconder em Araguaína com seu caçula, Giovani. “Eu pedi o telefone dela, mas Tomazona não me deu. Disse que era para eu passar o meu para ela que ela ia me ligar um dia desses para contar mais sobre o sumiço do Giovani, mas nunca me ligou e não tenho endereço dela. Nem seu nome completo”, conta Lurdes, que mora com o marido em um povoado no município de Piçarra, no Pará, também às margens do Rio Araguaia.

Como era muito amigo da família de Maria Xambari, o menino foi confiado a seu Pedro quando ela fugiu. Dos outros ninguém sabe o destino. A reportagem tentou, sem sucesso, localizar o paradeiro de Maria da Tomazona, em Araguaína, cidade com cerca de 163 mil habitantes.

Na época solteiro, seu Pedro contou com a ajuda de parentes para cuidar do garoto, que, de um dia para o outro, ficou sozinho no mundo. “Se tem alguém que sofreu com essa guerra foi esse rapaz aí”, afirma, apontando para Zezinho, que economiza palavras quando o assunto é a guerrilha. O barqueiro disse se lembrar com clareza e muita saudade de Giovani e dos outros irmãos. “O povo daqui diz que ele era filho do Osvaldão. Já chegaram a falar que eu poderia também ser filho dele. Não sei”, afirma. Conta ainda que fez de tudo para que o “finado Celestino” desse a ele pistas do paradeiro de Giovani. “Ele sabia da história, mas sempre me dizia que ia morrer sem contar para ninguém. De vez em quando eu o atravessava de barco aqui, mas nunca contou nada”, afirma Zezinho, que ganha a vida fazendo a travessia de São Geraldo do Araguaia, no Pará, para Xambioá, que fica na outra margem do Araguaia, já no estado de Tocantins. Em Xambioá a população aponta outro possível filho de Osvaldão, o marceneiro Silmar Alves Rodriguez, que não foi encontrado pela reportagem. Sua mãe teria também tido um romance com o guerrilheiro, cuja figura é uma espécie de mito na região.

Líder

Com quase dois metros de altura, negro, dançarino de primeira, campeão de boxe pela equipe do Botafogo, simpático, bom de prosa e de tiro, Osvaldão era adorado e temido na região do Araguaia. Mais importante líder da guerrilha, o militante, nascido em Passa Quatro, Sul de Minas, em 27 de abril de 1938, era também um dos mais procurados pelos militares e foi um dos últimos a ser assassinado pelo Exército, em 1974, aos 36 anos. Ele teria sido morto com um tiro por um morador da região que colaborava com o Exército. Seu corpo foi amarrado a um helicóptero e exibido aos moradores da região, antes de os militares desaparecerem com ele.

 


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