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Estado de Minas

Há dois anos, psicólogo de Brasília convive harmoniosamente com uma jiboia


postado em 06/11/2011 12:12 / atualizado em 06/11/2011 12:14

Genillson cria a jiboia desde que o réptil tinha seis meses de idade:
Genillson cria a jiboia desde que o réptil tinha seis meses de idade: "Ele é muito tranquilo, nunca me picou. Só vai reagir caso se sinta ameaçado" (foto: Edilson Rodrigues/CB/DA Press)

Imagine a situação: você está na fila, em uma padaria. Olha para trás e vê uma jiboia. Com 1,80m e 4,2kg, ela está pendurada no ombro de um homem tranquilo. O susto é imediato, para boa parte das pessoas. Afinal, a cena é inusitada. Para o psicólogo Genillson de Pulcinely, 57 anos, morador da Asa Norte, a presença da cobra não tem nada de assustador. Aos olhos dele, o animal é um inofensivo bicho de estimação, uma serpente do tipo boa constrictor do rabo vermelho. Os dois vão juntos a todo lugar.

Há dois anos, Genillson é o dono da jiboia macho, que ganhou o nome de Volupto. O réptil passa boa parte do tempo em um amplo cercado, feito de tela de nylon, onde há uma lâmpada específica para aumentar o calor. Como precisa de 20 minutos diários de sol para se manter saudável, Volupto é levado para passear com frequência pelo dono. Vai à padaria, ao bar e até para o trabalho de Genillson, que passa as tardes na Casa da Mãe Joana, consultório oracular na Asa Norte.

A presença da cobra já gerou problemas para o dono. Em um bar, o garçom se recusou a servir a mesa na qual Genillson estava, por conta do animal. “Pessoas em outras mesas me convidaram para me sentar com elas, disseram que não tinha problema nenhum com a cobra”, lembrou. As reações são diversas. A dona de uma cervejaria próxima ao consultório do psicólogo adora Volupto. “Ele é lindo demais. O contato com ele é como uma massagem. É uma delícia. Se você perder o medo e permitir que ele se enrole em você, percebe o quanto é bom”, disse a empresária e bióloga Paula Figueiredo, 29 anos.

Frequentadores de um bar vizinho ao trabalho de Genillson também não se incomodam com a presença de Volupto. “A gente conhece a cobra desde que ela era pequenininha. Já se acostumou. Mas para quem a vê pela primeira vez, deve ser um susto e tanto. A coisa complica”, admite o corretor de imóveis Cláudio Estrela, 55 anos.

Rotina

Mas o que não falta é quem tenha pavor a cobras. “Um rapaz ficou catatônico uma vez. Não conseguia se mexer de tanto medo. Em outra ocasião, uma senhora correu muito, assustada com o Volupto. Mas, em geral, a recepção é boa. As pessoas querem vê-lo de perto, tocá-lo”, afirmou o psicólogo. Recentemente, uma emissora de televisão que também mantém um site publicou sem autorização de Genillson fotos dele e da cobra durante um passeio.

“Eles (a equipe de reportagem) ouviram um especialista que me achou exibicionista. O cara errou o peso da serpente, não sabia explicar muita coisa. Não me deram direito de resposta. Mostraram a foto na televisão e na internet.” O incidente alterou a rotina de passeios. “Agora, saímos menos de casa. Estou com um processo na Justiça contra a emissora. Depois desse dia, passaram a me gritar na rua, chamar de homem da cobra. Ficamos meio deprimidos, eu e Volupto, e estamos mais reclusos.”

Volupto foi comprado por Genillson de um criador autorizado, em Pernambuco. Em 2008, o bicho veio para Brasília, com seis meses de vida, pois seria útil em trabalhos espirituais. “Na minha crença, serpentes são sagradas, capazes de identificar males do corpo e ajudar no processo de cura”, explicou. Volupto deixou de participar das sessões e passou a ser uma companhia preciosa para o dono. Genillson joga tarô, é adepto da numerologia e da astrologia. Com a ajuda dos números, chegou ao nome e sobrenomes ideais para a serpente de estimação: Samael Volupto. “Samael quer dizer anjo caído. Na mitologia grega, Volupto é filho de Eros e Psiquê, representa o erótico”, explicou.

Mansidão

Segundo o dono, Volupto nunca atacou ninguém. “Ele é muito tranquilo, nunca me picou. Só vai reagir caso se sinta ameaçado”, disse Genillson. Durante a entrevista, Volupto se esparramou sobre o corpo do dono, entrelaçou-se em frestas da cadeira de madeira, passeou no chão e quis entrar debaixo da estante. Depois de tudo, dormiu com a cabeça em cima da mesa e o corpo no colo de Genillson. “Tá vendo como ele é calmo?”, ressaltou o psicólogo, que abraça e beija Volupto constantemente. “Eu tinha medo de cobra até ganhar duas em um pote de formol, bem antes do Volupto. Passei a encará-las e isso desapareceu.”

A cobra tem suas preferências gastronômicas. A cada 15 dias, alimenta-se de um coelho inteiro. A refeição é servida viva. A cobra “abraça” o outro bicho até matá-lo. Depois, engole-o por inteiro. São necessários dias até que a digestão se complete. Nesse período, Volupto fica quieto, recluso. Genillson discorda da afirmação de biólogos sobre a falta de capacidade das cobras de interagir com humanos. “Volupto reage diferentemente com cada pessoa. Ele abraça quando está contente e mostra quando não quer ser pego”, garantiu o psicólogo.

Ressalvas
Entre especialistas, há dúvidas e controvérsias sobre o hábito de passear com uma serpente de estimação pelas ruas. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a autorização dada a criadores é para o ambiente doméstico e não para exibição. “Há uma sequência de normas que nos fazem chegar a essa conclusão. Temos vários problemas com a criação de serpentes, como fuga e abandono. Uma jiboia de tamanho médio é capaz de comer um bebê. É questão de bem-estar”, afirmou o coordenador de Fiscalização e Operações do Ibama, Roberto Cabral.

O Ibama, a pedido do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), deve lançar em breve uma lista com os animais considerados domésticos. Cobras não estarão entre eles. Genillson rebate a afirmação. “A lei não é clara. Diz somente que não pode haver maus-tratos, e isso, com certeza, não há com Volupto. A legislação não especifica o que é mau-trato. Tenho autorização para criar. Mesmo assim, ficaremos em casa, para evitar problemas.”


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