Consumo de álcool, manobras perigosas e excesso de passageiros podem transformar um passeio pelo Lago Paranoá em uma atividade perigosa. Essas são algumas das irregularidades mais comuns cometidas por pilotos de lanchas e barcos que circulam pelo espelho d’água, especialmente nos fins de semana. Condutores de embarcações cobram mais fiscalização para evitar novos acidentes fatais, como os registrados no último domingo e em maio do ano passado. A fim de coibir abusos e barrar outras tragédias, a Marinha garante que vai reavaliar o esquema de fiscalização do Lago Paranoá, por onde circulam quase 2 mil embarcações.
Os militares pretendem transformar a delegacia fluvial em uma capitania, com mais barcos e a ampliação do número de funcionários. Apesar de estudar as mudanças, a corporação garante que o efetivo atual é suficiente para monitorar a navegação no Lago Paranoá. O delegado fluvial de Brasília, Rogério Leite, explica que é preciso também conscientizar os pilotos. “As normas existem, mas é necessário mudar a mentalidade das pessoas. Não adianta manter fiscalização 24 horas por dia se os pilotos não tiverem a consciência de que não podem beber e de que necessitam circular com todos os equipamentos de segurança”, explica Rogério.
Depois do acidente que matou as irmãs Liliane e Juliana Queiroz de Lira, em 22 de maio do ano passado, a Marinha aumentou o número de fiscais e de operações no Lago Paranoá. Além de realizar o teste do bafômetro, os funcionários verificam a documentação do condutor, a presença de coletes salva-vidas e o sistema de iluminação.
Diretor náutico da Associação Brasiliense das Agências de Turismo Receptivo (Abare), Edmilson Figueiredo Guimarães relata que a segurança do Lago Paranoá precisa melhorar. “A Marinha tem papel determinante, mas sabe que a estrutura (de fiscalização) é limitada”, ressalta. Desde 2003, Edmilson mantém a Barca Brasília — especializada em turismo educativo e cultural no lago brasiliense. “Na semana passada, fui fiscalizado. Eles são muito rigorosos e têm fiscalização competente. Mas precisam dar um passo à frente”, comenta.
Operações de rotina
Um médico, que preferiu não se identificar, pratica esqui aquático no Lago Paranoá. Segundo ele, entre sexta-feira e domingo, o movimento de pessoas em busca de diversão a bordo de lanchas aumenta. Ele perde as contas de quantas latas de cerveja vê em cada uma das embarcações. “A convivência é perigosa. A maioria das pessoas, inclusive os pilotos, está sob o efeito de álcool e só anda em alta velocidade. A coisa mais difícil é ver algum tipo de fiscalização. Deveria haver postos por toda a orla, em lugares de maior risco, como o Pontão e a Ponte JK”, sugere. O médico acrescenta que a escuridão da noite indica mais uma ameaça. “As luzes são muito discretas, são só uma lâmpada no alto do mastro. A chance de alguém de te ver, mesmo você estando em outro barco, é mínima”, descreve.
Já o presidente da Federação Náutica de Brasília, Marcos Carraca, elogia o trabalho de fiscalização da Marinha e garante que o controle da circulação de barcos aumentou muito desde maio do ano passado. “Ela ficou bastante incisiva, quase exagerada. Eles param muita gente e verificam coletes, rádio e outros equipamentos. É uma coisa necessária”, comenta Marcos. “Se endurecer mais a fiscalização, vai ser como colocar um quebra-molas no meio do lago. Vai acabar inibindo o lazer”, acredita.
Capitania à vista
A Marinha mostra um aumento do total de operações de fiscalização realizadas no Lago Paranoá. De acordo com a corporação, a quantidade de embarcações inspecionadas cresceu 88% no primeiro quadrimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2010. Já a de notificações aumentou 59% e o total de barcos apreendidos pela Delegacia Fluvial de Brasília, 350%. Entretanto, a Marinha não quis divulgar os números absolutos e revelou apenas os percentuais.
De acordo com os militares, algumas ações foram voltadas para a conscientização dos pilotos. Eles participaram de um seminário, em agosto do ano passado, com especialistas de todo o Brasil, que deram dicas para evitar acidente e noções de primeiros socorros.
A reavaliação anunciada pela Marinha sobre a fiscalização no DF pode levar à criação da 24ª capitania do Brasil. Hoje, a instituição tem 23, 15 delegacias fluviais e 19 agências de fiscalização. Se a delegacia de Brasília mudar de status poderá ganhar mais funcionários e embarcações, o que vai facilitar as operações de monitoramento.