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Estado de Minas

CPI da Covid: debate sobre prisão em flagrante de Fabio Wajngarten domina sessão da comissão

O ex-secretário das Comunicações Fabio Wajngarten depõe nesta quarta (12), na CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo no combate à pandemia.


12/05/2021 22:24 - atualizado 12/05/2021 22:31

Fabio Wajngarten na CPI nesta quarta; senadores se queixaram de falta de objetividade das respostas do ex-secretário(foto: Edilson Rodrigues-Ag Senado)
Fabio Wajngarten na CPI nesta quarta; senadores se queixaram de falta de objetividade das respostas do ex-secretário (foto: Edilson Rodrigues-Ag Senado)

O depoimento do ex-secretário de Comunicação do governo Fábio Wajngarten, nesta quarta (12/05), foi o mais conturbado até agora na CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo durante a pandemia.

Demitido do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em meio a suspeitas de corrupção, Wajngarten era um dos nomes mais aguardados desde que deu uma entrevista à revista Veja acusando o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de incompetência nas negociações de compra de vacinas.

No entanto, o ex-secretário deu respostas evasivas e foi em diversos momentos acusado de proteger o presidente e de mentir diante dos senadores, o que é crime. Isso levou a um pedido, pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), reforçado por outros senadores, de que Wajngarten fosse preso em flagrante.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz, negou dar voz de prisão a Wajngarten. Segundo ele, a comissão não pode atuar como um tribunal. Depois de pausa na sessão motivada por uma uma discussão entre Calheiros e o senador Flavio Bolsonaro, Aziz afirmou que iria encaminhar o depoimento de Wajngarten para análise do Ministério Público Federal. O órgão deve analisar se houve crime de falso testemunho.

Antes de sua demissão, havia rumores de que Wajngarten estaria se envolvendo em assuntos do Ministério da Saúde, mesmo sem ser da área, por interesses pessoais. Na entrevista, o ex-secretário afirmou que seu envolvimento na compra de vacinas aconteceu porque o processo estava "sofrendo entraves" no Ministério da Saúde.

No entanto, durante a CPI, Wajngarten evitou responder diretamente diversas perguntas de Calheiros disse na CPI, por exemplo, que nunca fez parte das negociações e que apenas teve uma reunião com a Pfizer "para ajudar". À Veja, Wajngarten afirmou que havia se envolvendo nas discussões com a empresa após a Pfizer não receber resposta do ministério da Saúde.

Wajngarten também negou que estivesse se referindo a Pazuello quando falou à revista Veja. "Eu entendi que ele ocupou um espaço diante da saída do dr. Teich, que eu lamentei muito. O ex-ministro Pazuello foi corajoso em assumir uma pasta no pior momento do Brasil", disse Wajngarten à comissão.

A Veja publicou um áudio do trecho da entrevista em que Wajngarten faz essa declaração, afirmando que ele mentiu à CPI. A revista disse que o entrevistado foi questionado especificamente se haveria sido incompetência ou negligência a forma como o governo, especialmente o Ministério da Saúde, agiu para haver tantas dificuldades na compra de vacinas, ao que Wajngarten teria respondido categoricamente: "Incompetência".

Confrontado com o áudio da entrevista, Wajngarten disse não ter negado em nenhum momento que havia acusado o Ministério da Saúde de ter sido incompetente.

Questionado sobre quem orientou o presidente Bolsonaro sobre as diversas declarações contrárias à vacina e ao isolamento social, Wajngarten disse que não poderia responder a pergunta. "Pergunte ao presidente", afirmou, o que levou a uma reação dos senadores, pedindo para que ele respondesse a questão.

Renan Calheiros confrontou Wajngarten pedindo que ele respondesse aos questionamentos dos senadores(foto: Jefferson Rudy - Ag Senado)
Renan Calheiros confrontou Wajngarten pedindo que ele respondesse aos questionamentos dos senadores (foto: Jefferson Rudy - Ag Senado)

Wajngarten então afirmou que nunca discutiu as falas públicas do presidente com ele, mesmo sendo ex-secretário de Comunicações, e que não poderia responder sobre o aconselhamento do presidente. Disse também que nunca aconselhou o presidente sobre políticas de saúde e disse que não sabe identificar quem eram as pessoas.

Na falta de respostas diretas, os senadores pediram diversas vezes para que o ex-secretário respondesse objetivamente, de forma clara, em vez de procurar defender Bolsonaro. "O senhor só está aqui por causa da entrevista à Veja, se não fosse isso a gente nem lembrava que o senhor existia", afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

A insistência levou os senadores governistas a interromperem o depoimento em defesa de Wajngarten. "Ninguém veio aqui para ser humilhado", disse o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI).

A isso se seguiu uma discussão e a CPI foi interrompida por alguns momentos. No retorno, o presidente da CPI alertou que Wajngarten poderia sofrer consequências se não respondesse objetivamente.

"Se o senhor não foi objetivo nas suas respostas, vamos dispensá-lo e quando chamarmos vossa excelência de novo não vai ser como testemunha", afirmou Aziz.

Polícia Federal abriu inquérito sobre atividades de Wajngarten(foto: Alan Santos/PR)
Polícia Federal abriu inquérito sobre atividades de Wajngarten (foto: Alan Santos/PR)

Campanhas de comunicação e ataques a jornalistas

Sobre a falta de campanhas amplas do Ministério da Saúde para prevenção da covid, Wajngarten disse que foram 11 campanhas do ministério e da Secom sobre a pandemia. "A gente fez todas as campanhas possíveis e a gente abasteceu o presidente com todas as informações", disse Wajngarten.

O ex-secretário entrou em contradição algumas vezes durante seu depoimento. Inicialmente, por exemplo, afirmou que a Secom não tinha contratado influenciadores bolsonaristas para fazer campanha sobre "tratamento precoce" promovendo uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus

No entanto, contraposto com uma reportagem da Agência Pública mostrando que a agência Calia, contratada pelo governo, pagou R$ 23 mil a influenciadores digitais para falar sobre os medicamentos, Wajngarten confirmou o valor e disse que eles foram contratados por "terem muitos seguidores".

Disse também que a Secom contratou outras três agências e que foram gastos R$ 285 milhões em 14 meses de pandemia com contratos do tipo.

Disse também que em campanhas digitais foram gastos 35% desse valor no Google Ads.

O ex-secretário também afirmou que todas as contas pessoais do presidente da República pertencem a ele e não são coordenadas pela Secom (secretaria de Comunicações) mas não respondeu quem faz a administração das contas.

Disse também que falava "muito pouco" com o vereador Carlos Bolsonaro. "O número de vezes que falei com Carlos Bolsonaro cabe em uma mão", afirmou. Afirmou também que se tornou mais próximo de Flávio Bolsonaro e que ele não tinha "nenhuma função" no governo.

Questionado sobre os ataques feitos pelo presidente e seus filhos à jornalistas foram 460 somente em 2020, onde as mulheres foram as mais atacadas e se esses ataques eram parte da estratégia de comunicação do governo, Wajngarten disse que "nunca teve participação e nem a Secom".

O ex-secretário não respondeu se concordava ou não com os ataques: disse que era preciso analisar caso a caso, porque é "muito difícil reagir quando você tem uma inverdade publicada por um jornalista".

Wajngarten (esq.) era um interlocutor bem próximo a Bolsonaro(foto: Reuters)
Wajngarten (esq.) era um interlocutor bem próximo a Bolsonaro (foto: Reuters)

Vacina da Pfizer

O ex-secretário disse que se envolveu nas discussões com a Pfizer ao tomar conhecimento, em novembro de 2020, por meio de Marcelo de Carvalho, dono da emissora Rede TV, que teria uma apresentadora casada com um gerente da farmacêutica, que havia uma carta da empresa a seis destinatários do governo incluindo o presidente, o ministro da Economia e o vice-presidente que ainda não tinha sido respondida quase dois meses depois do envio.

Wajngarten disse que mandou um e-mail para a sede da empresa em Nova York e que, em seguida, recebeu contato do então presidente da empresa no Brasil, Carlos Murillo, que irá depor na CPI na quinta-feira (13/05).

O ex-secretário também disse que procurou Bolsonaro para falar do assunto e cobrar que o assunto avançasse. Afirmou ainda que sae encontrou com o presidente durante uma reunião dele com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Guedes teria falado no telefone com Murillo. Enquanto isso, Bolsonaro teria escrito em um papel a palavra "Anvisa", indicando que compraria vacinas aprovadas pela agência ponto que o ex-secretário reiterou diversas vezes.

Wajngarten afirmou também que houve duas reuniões com representantes da Pfizer em que procurou "ajudar" e fazer pontes nesse contato. Também disse que procurou pessoas públicas e empresários para tentar viabilizar a compra de doses desta vacina. "Tenho muito orgulho disso."

Apesar de sua entrevista à Veja em que afirmou que as negociações atrasaram por "entraves" no ministério da Saúde, Wajngarten disse à CPI que "não houve procrastinação porque não havia segurança jurídica".

Afirmou novamente que havia três cláusulas no contrato da Pfizer que o governo considerava problemáticas e que não poderiam ser modificadas contratos de vacinas com outras empresas continham cláusulas parecidas entre elas uma que determinava que a União e não a empresa se responsabilizaria por reações adversas da vacina.

Questionado por que motivo o governo federal não editou uma medida provisória (MP) para resolver essa questão, Wajngarten se limitou a responder: "Boa pergunta".

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou em seguinte seguida que, ao finalmente editar uma MP para regular a compra de vacinas, em 6 de janeiro, não havia termos nela que tratassem desse problema. "A MP continha o dispositivo que dava segurança jurídica da Pfizer e o governo mandou retirar", frisou Rodrigues.

O senador destacou então que foi ele o autor de uma emenda, apresentada no final de fevereiro, durante a votação de uma nova MP que facilitaria a compra de vacinas. Esta emenda autorizou a União a assumir a responsabilidade por efeitos colaterais, que seria uma exigência da farmacêutica para vender as doses ao governo.

Acusações de mentiras e pedido de prisão

O ex-secretário foi questionado se teria tomado cloroquina quando teve covid-19 e disse que não o fez porque o medicamento não era cogitado em tratamentos contra a doença em março. "Se não ia submeter ao meu médico", afirmou Wajngarten.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) citou uma série de notícias desmentindo o ex-secretário e que mostravam que já naquela época a Organização Mundial da Saúde alertava para a falta de comprovação de sua eficácia e que, no mesmo mês, Bolsonaro mandou os laboratórios do Exército aumentarem a produção do medicamento.

Em seguida, Carvalho acusou Wajngarten de mentir diversas vezes outras no depoimento. "O senhor disse que nunca negociou nada com a Pfizer. O senhor particpou de negociação com a Pfizer. O senhor disse que seus encontros com representartes da Pfizer tinham sido registrados. Não há informações no site do governo."

O senador acrescentou então que Wajngarten disse que estava afastado da secretaria em março de 2020 e então mostrou um vídeo de uma transmissão ao vivo feita com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em que o ex-secretário dizia que estava trabalhando. "Vossa excelência mentiu nesta oitiva", disse Carvalho.

Wajngarten tentou se manifestar neste momento, mas o senador disse que não era a vez de ele falar, que ele estava ali na condição de testemunha e que não sendo questionado nada a ele, mas sendo afirmado.

O ex-secretário também foi questionado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre a campanha do governo federal "O Brasil Não Pode Parar", contrária ao isolamento social, através de um vídeo que circulou em março de 2020, no início da pandemia. O vídeo foi difundido por diversos ministros do governo Bolsonaro.

"Eu não tenho certeza se ele é de autoria da Secom, posso confirmar. O que eu tenho absoluta convicção é que em março (de 2020) o governo fez uma campanha sobre prevenção e sintomas", disse Wajngarten.

O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou que a Secom emitiu um comunicado depois da divulgação da campanha dizendo que a campanha "tinha caráter experimental". A campanha também foi publicada no Instagram da secretaria.

Wajngarten disse mais tarde que, durante um intervalo da CPI, lembrou-se melhor do episódio e disse que a campanha foi divulgada em grupos de mensagens de ministros, de onde teria vazado ao público. "De fato, as peça foram concebidas e estavam em fase de avaliação. Em nenhum momento, ela foi autorizada", disse o ex-secretário.

Em reação a esta declaração, Calheiros apontou que a campanha havia sido postada na internet por meio de canais oficiais do governo federal. "Vossa senhoria mente mais uma vez", disse o senador.

"Vou pedir a prisão de vossa senhoria porque o espetáculo de mentiras que vimos aqui não vai se repetir nem vai servir de precedente. Vossa excelência não vai desprestigiar essa comissão parlamentar de inquérito mentindo", disse Calheiros.

Randolfe Rodrigues, substituindo Aziz no comando da condução da CPI após o presidente da comissão se ausentar, disse que o pedido seria apreciado até o fim do depoimento.

Quando Aziz retornou, Calheiros reiterou seu pedido, mas o presidente da CPI pediu cautela, ressaltou que o ex-secretário estava ali como testemunha, que não cabia à comissão julga-lo e que Wajngarten poderia depois ser indiciado caso tenha mentido de fato.

O presidente da CPI afirmou, então, que não pediria a prisão de Wajngarten. "Não serei carceireiro de ninguém."

"Estou salvando a CPI tomando essa decisão", complementou Aziz.

Antes que a sessão fosse interrompida, por causa das atividades no plenário do Senado, Humberto Costa pediu que o depoimento de Wajngarten fosse enviado imediatamente ao Ministério Público para ser investigado.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicano-RJ) havia chegado à comissão àquela altura e interveio defendendo que todos os depoimentos feitos até agora à CPI deveriam ser enviados e acusou o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de mentir também.

Flávio Bolsonaro disse então que Calheiros queria usar a CPI para se promover. "Imagina, um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros", disse o filho do presidente.

"Vagabundo é você que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete", retrucou Calheiros, em meio a protestos de outros senadores contra a fala de Flávio Bolsonaro.

"Quer aparecer. Vai ser f...", respondeu o filho do presidente.

Aziz repreendeu então Flávio Bolsonaro, dizendo que "agressões não levariam a lugar algum", encerrou a sessão e disse que ela será retomada após o fim das atividades no plenário.

*colaborou Paula Idoeta e Rafael Barifouse, de São Paulo.


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