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Estado de Minas

CPI da Covid vai responder quantas vidas teriam sido salvas se Bolsonaro 'tivesse acertado a mão', diz Renan Calheiros

Em entrevista à BBC News Brasil, provável relator da CPI da Covid diz que o governo federal deveria aproveitar para convencer as pessoas de que não errou. 'Se não conseguir, paciência, vai ampliar o desgaste na população', afirma.


22/04/2021 21:52 - atualizado 22/04/2021 21:52

Renan Calheiros: Governo Bolsonaro tem que convencer as pessoas de que não errou e, se não conseguir, vai ampliar desgaste na população(foto: AFP)
Renan Calheiros: Governo Bolsonaro tem que convencer as pessoas de que não errou e, se não conseguir, vai ampliar desgaste na população (foto: AFP)
A primeira resposta a ser dada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid é quantas vidas poderiam ter sido salvas no Brasil se o governo do presidente Jair Bolsonaro "tivesse acertado a mão", de acordo com o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

 

Calheiros deve ser oficializado, segundo acordo entre senadores, como relator da CPI que vai investigar "ações e omissões" do governo federal diante da pandemia de coronavírus.

 

"A primeira resposta (a ser dada pela CPI) é se houve materialização da tese da imunização de rebanho. A CPI vai dizer se houve ação ou omissão do governo e se isso pode ter agravado as circunstâncias. Em outras palavras: se o governo tivesse acertado a mão, quantas vidas poderiam ter sido salvas no Brasil?", disse o senador em entrevista à BBC News Brasil.

A primeira reunião da comissão está marcada para terça-feira (27/04), quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) deve ser escolhido como presidente do colegiado.

 

Calheiros disse que a CPI também vai investigar "se o governo se omitiu, deixou de fazer pré-contratos quando laboratórios produtores estavam ofertando, se estimulou aglomeração, se minimizou o papel da máscara".

 

"A CPI precisa cumprir o seu papel. Precisa colaborar no sentido da agilização da vacinação e caminhar no rumo da investigação para responsabilizar ou não. Se o governo tem convicção de que acertou a mão em todos os momentos, não precisa ter preocupação, nem sobressalto, e a CPI será oportunidade para que demonstre o contrário."

'Meio ridículo'

Calheiros, que está sob forte pressão de aliados do presidente, diz que "não há predisposição contra ninguém". "O presidente da República não é nosso inimigo.

 

A nossa inimiga é a pandemia. São os porões da pandemia que vamos investigar."

 

O fato de Calheiros ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho, tem sido apontado por aliados do Palácio do Planalto como o que deveria ser um impeditivo para que o senador assuma a relatoria, visto que a CPI também investigará repasses a Estados e municípios de verbas federais para saúde.

 

"O fato que alegam, de não poder participar da CPI por ser pai de um governador, é meio ridículo. O governador não está sendo investigado e, se for - ninguém estará isento de investigação -, a comissão designará sub-relator para fazer qualquer investigação, com total responsabilidade."

 

A deputada governista Carla Zambelli (PSL-SP) anunciou em redes sociais que ingressou com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Calheiros assuma a relatoria.

 

"Acabamos de ingressar com ação na Justiça para barrar @renancalheiros na relatoria da CPI. A presença de alguém com 43 processos e 6 inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa. Outros parlamentares também ingressarão com ações", escreveu a deputada em sua conta no Twitter.


Deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse que ingressou com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Renan Calheiros assuma relatoria da CPI(foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse que ingressou com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Renan Calheiros assuma relatoria da CPI (foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

 

Calheiros diz que a judicialização antes de a CPI começar "só fortalece o trabalho da comissão".

 

No entanto, o senador admite a possibilidade de designar sub-relatores para cuidarem de temas específicos.

 

"A alternativa a isso (sub-relatorias) seria fazer investigação sobre amigos próximos, o que me deixa nessa zona da suspeição, e sobre familiares também.

 

O prudente, para de logo afastar essa possibilidade, é designar sub-relatores e reafirmar que não decidirei monocraticamente nada, absolutamente nada."

 

E afirma que poderia aceitar deixar na mão de aliados do Palácio do Planalto a linha de investigação que interessa mais a Bolsonaro, que é a aplicação de recursos originados da União e enviados a Estados e municípios.

 

"Em havendo necessidade da indicação de sub-relatores, vamos indicar de acordo com a pluralidade da comissão. Não vamos indicar apenas pessoas da nossa corrente."

 

Questionado se, assim, a sub-relatoria relativa aos Estados poderia ficar com um senador alinhado ao Planalto, respondeu: "Se for necessário, sim".

 

A apuração da aplicação de recursos por Estados e municípios, incluída posteriormente como objeto da CPI, foi defendida por Bolsonaro, inclusive em áudio divulgado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

Desgaste

Calheiros diz que o governo federal está tratando a CPI de forma equivocada.

"Se o governo aproveitar melhor o espaço na CPI para demonstrar o contrário do que a sociedade pensa, será melhor. Será muito mais produtivo do que o governo arrastar a instalação da CPI, que deveria ter sido instalada em fevereiro", diz.

 

"O governo está tratando equivocadamente esta questão, tem que aproveitar a oportunidade para convencer as pessoas de que não errou, de que fez tudo certo, na hora certa. Se não conseguir, paciência, vai ampliar o desgaste na população."

 

Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em março mostra que 54% dos entrevistados avaliam como ruim ou péssimo o desempenho de Bolsonaro na gestão da pandemia e 22% consideram ótimo ou bom.


Calheiros diz que não tomou cloroquina, defendida por Bolsonaro: 'Não tomei porque entre a crença e a ciência, sigo a ciência'(foto: Reuters)
Calheiros diz que não tomou cloroquina, defendida por Bolsonaro: 'Não tomei porque entre a crença e a ciência, sigo a ciência' (foto: Reuters)

 

A importância do tema da CPI e o fato de ela acontecer um ano antes da próxima eleição levam a comissão a ser considerada a principal vitrine política dos próximos meses.

 

Calheiros diz que a tentativa de atrasar os trabalhos da CPI aproxima ainda mais os resultados da comissão às eleições de 2022.

 

"Na medida em que o governo delonga a instalação da CPI, colabora para que desfecho vá para diante. Teremos no próximo ano eleição nacional e, na medida em que os trabalhos da CPI cheguem mais próximos das eleições, é evidente que isso, de uma forma ou de outra, vai impactar."

 

E o senador tomou cloroquina, defendida pelo presidente Bolsonaro, em algum momento?

 

"Não tomei porque entre a crença e a ciência, sigo a ciência. Não tive coronavírus, tomei a primeira dose da vacina, estou pacientemente aguardando a segunda dose, mas nunca me expus a pré-tratamento exatamente para não complicar minha situação."


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