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Estado de Minas REINO UNIDO

Família chilena não consegue voltar para casa devido às restrições da COVID

Desde 15 fevereiro, os viajantes que chegam à Inglaterra vindos da América do Sul precisam se isolar em hotéis a um custo proibitivo para muitos


01/03/2021 17:49 - atualizado 01/03/2021 18:42

Carla Banfi, Mauricio Díaz e Leonor foram ao Chile para passar o Natal com a família, mas não conseguem retornar ao Reino Unido(foto: Carla Banfi)
Carla Banfi, Mauricio Díaz e Leonor foram ao Chile para passar o Natal com a família, mas não conseguem retornar ao Reino Unido (foto: Carla Banfi)

A família de Carla Banfi deixou Londres rumo ao Chile em 5 de dezembro. Como a qualquer pessoa que mora no exterior, o Natal lhes parecia ser a época perfeita para voltar à terra natal e rever parentes e amigos.




Mas a viagem de retorno se tornou uma dor de cabeça para Carla, o marido, Mauricio Díaz, e a filha de 3 anos dos dois, Leonor. O casal continua pagando aluguel em Londres, uma das cidades mais caras do mundo para se viver, e, no entanto, não consegue voltar para casa.

O motivo é a regra que começou a valer no Reino Unido no dia 15 de fevereiro, que determina que residentes que cheguem do exterior vindos de uma lista de 33 países considerados de alto risco para a covid-19 façam quarentena de 10 dias em hotéis autorizados pelo governo.

Na "lista vermelha" estão todos os países da América do Sul, diante do temor gerado pelo surgimento de uma variante mais contagiosa do coronavírus no Brasil, identificada em janeiro.

A conta do isolamento compulsório chega a 1.750 libras (cerca de R$ 13,3 mil), custo proibitivo para muitas pessoas.

Esse é o caso de Carla, que contou sua história à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.


Meu marido Mauricio, minha filha de 3 anos e eu moramos em Londres desde setembro de 2018.

Uma vez por ano, tentamos rever amigos e familiares, geralmente no Natal. Foi isso que fizemos no fim do ano passado.

Foi um ano diferente — meu pai morreu em abril de 2020 de um derrame.

Marcamos a viagem sabendo que posso trabalhar em casa e que meu que marido poderia continuar seus estudos.

Assim, havíamos decidido ficar dois meses no Chile.

Mas então toda a questão da quarentena em Londres surgiu, e nosso voo de volta foi cancelado.

O governo impôs a quarentena em hotéis, o que torna praticamente impossível nosso regresso, por causa do pagamento das diárias.

O aluguel da nossa casa em Londres custa 2.000 libras (cerca de R$ 15,5 mil) por mês — e é um drama, porque obviamente continuamos pagando.

Aqui no Chile, felizmente, estamos na casa da minha mãe, e por isso não estamos tendo que pagar o aluguel em dobro.

Mas as contas de Londres não se limitam ao aluguel. Os boletos de luz, água, o imposto local e a internet continuam chegando.

Também há um peso emocional de tudo. Não sabemos o que fazer, se vamos para outro país ou esperamos.


A família vive em Londres desde 2018(foto: Carla Banfi)
A família vive em Londres desde 2018 (foto: Carla Banfi)

Não podemos ir diretamente para Londres porque não podemos arcar com os custos.

Acho o preço do hotel uma loucura, inclusive o fato de que os viajantes têm que arcar com esses custos. Minha percepção é que você recebe uma espécie de multa e uma sentença de prisão não tendo feito nada que justificasse uma penalidade.

Especialmente para quem vem do Chile, onde praticamente não há contágio da cepa brasileira, e mesmo assim foi colocado na lista vermelha.

'Todos os países no mesmo saco'

Nesse sentido, a inclusão do Chile, um país que não deveria ser considerado de alto risco, me faz pensar que eles não se deram ao trabalho de fazer um estudo a sério e colocaram todos os países no mesmo saco.

Aqui no Chile, por exemplo, existem "residências sanitárias" (locais destinados àqueles diagnosticados com covid-19 que não conseguem fazer um isolamento adequado em casa ou que não esteja em sua cidade natal) pagas pelo Estado, algo raro neste país tão liberal.

Então, a imposição de uma restrição desse tipo deveria ser pelo menos parcialmente custeada pelo governo.

Você não tem chance de reduzir um pouco o custo.

Essa situação também tem um custo psicológico. O que vou fazer com minha filha por 10 dias trancada sem suas coisas, seus brinquedos?


Em janeiro, a família visitou o Parque do Bicentenário em Santiago do Chile(foto: Carla Banfi)
Em janeiro, a família visitou o Parque do Bicentenário em Santiago do Chile (foto: Carla Banfi)

Imagine o quanto é difícil para mim trabalhar aqui tendo que cuidar dela, não quero nem imaginar ficar trancada em um quarto de hotel. Pior ainda.

Não quero nem pensar como seria estar com todas as malas dentro do hotel, onde colocar tudo, como organizar.

É diferente de fazer a quarentena em casa.

São vários quartos, há uma televisão para entretê-la um pouco, seus livros, seus brinquedos, tudo.

Essa falta de segurança é um fardo emocional muito grande.

Não há certeza de nada. Nada pode ser decidido porque não sabemos o que vai acontecer.

A outra coisa é que, como em qualquer relacionamento, de repente há atritos.

Não estamos em nossa casa. Queremos estar em nosso espaço.

Minha filha também sente falta de casa e diz explicitamente que quer voltar.


Leonor tem três anos e nasceu em Madri(foto: Carla Banfi)
Leonor tem três anos e nasceu em Madri (foto: Carla Banfi)

Creche

Também corremos o risco de perder o depósito que fizemos na creche.

É difícil trabalhar remotamente com uma criança em casa, mas nossa filha também está perdendo um tempo valioso em que poderia estar compartilhando experiências com outras crianças, para se desenvolver.

Estamos prevendo que vamos demorar mais um mês para voltar à Inglaterra, pelo menos, pensando que o período de quarentena pode acabar no dia 31 de março.

Também pensamos em ir para a Espanha, mas li que talvez eles tenham colocado o Chile na lista vermelha também.

Por enquanto, descartamos o pagamento do hotel, mas há ainda o risco de perdermos nossa residência. Vamos ver como fazer — seria um caso extremo.

Se entendi bem, não posso ficar afastada por mais de seis meses da casa que alugamos — até agora, só estivemos fora por dois meses e meio.


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