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Estado de Minas

Covid-19: 'quem ignora regras de isolamento tem sangue nas mãos', diz médico intensivista britânico

Hugh Montgomery atribui o aumento de casos e mortes ao comportamento das pessoas e não à nova variante do vírus.


31/12/2020 18:29

Pessoas que não seguem regras de distanciamento social ou não usam máscaras "têm sangue nas mãos", criticou um médico intensivista no Reino Unido.

Em entrevista à BBC Radio 5 Live, Hugh Montgomery afirmou que os hospitais estão enfrentando um "tsunami" de casos da covid-19, e ele teme que a situação piore após a noite de Ano Novo.

Ele fez um apelo para as pessoas aceitarem que vai ser uma virada de ano "infeliz" e não se reunirem em grupos.

Isso reforça a recomendação oficial e da Organização Mundial da Saúde, de ficar em casa e não dar festas.

Cerca de 44 milhões de pessoas na Inglaterra estão vivendo agora sob o nível mais severo de restrições, o chamado nível quatro, por conta da pandemia.

Mais 50.023 novos casos de covid-19 foram registrados no Reino Unido na quarta-feira, e 981 mortes (ocorridas em um prazo de 28 dias desde que o paciente testou positivo pela primeira vez) mais do que o dobro do total do dia anterior.

No Brasil, pela primeira vez desde agosto, o número diário de mortes por covid-19 chegou ao patamar de 1,2 mil na última quarta-feira (30/12), e especialistas afirmam que o avanço do coronavírus está em alta em todas as partes do país, gerando uma sobrecarga nos serviços de saúde.

'Raiva'

Montgomery, que trabalha em unidades de terapia intensiva (UTIs) no Whittington Hospital, em Londres, e lidera um grupo de pesquisa na University College London (UCL), acrescentou:

"Estamos com muitos problemas nos tratamentos intensivos no Reino Unido agora."

"Há simplesmente um número enorme (de pacientes) dando entrada. Sou solidário também aos nossos serviços de emergência, que estão recebendo um tsunami de casos nas últimas semanas. Todos estão trabalhando no limite máximo."

Ele disse ainda que é errado atribuir o aumento de casos e mortes à nova variante do coronavírus, que é, segundo ele, apenas "ligeiramente" mais transmissível e causa os mesmos sintomas.

"Na verdade, isso me deixou com muita raiva, porque as pessoas estão colocando a culpa no vírus - e não é o vírus, são as pessoas. As pessoas não estão lavando as mãos, não estão usando máscaras", declarou.

'Pessoas vão morrer'

Segundo ele, todos aqueles que não se distanciam socialmente ou não seguem as regras "têm sangue nas mãos".

"Eles estão espalhando este vírus. Outras pessoas vão espalhar, e pessoas vão morrer. Eles não saberão que mataram pessoas, mas mataram."

"Estou vendo famílias inteiras serem dizimadas aqui, e isso tem que parar", acrescentou.

Montgomery, que estava de plantão ao dar a entrevista, afirmou que era "um grande mito" a ideia de que os hospitais estão lotados de idosos.

"As pessoas que estamos recebendo são, como na primeira onda, da minha idade. Tenho 58 anos, e eu diria que metade dos pacientes é mais jovem do que eu. São pessoas de meia-idade ou um pouco mais velhas que estamos recebendo."

Ele contou, por exemplo, que havia ido para casa tomar banho depois de um plantão e foi chamado de volta porque uma paciente grávida havia piorado.

E fez um apelo às pessoas que estavam pensando em celebrar o ano novo com festa:

"Eu realmente sinto muito que este réveillon seja infeliz, mas tem que ser. Por favor, não se reúnam em multidões. Não façam disso o último canto do cisne."

O alerta de Montgomery reforça a recomendação do professor Stephen Powis, diretor médico do NHS, sistema de saúde público do Reino Unido, que disse em uma entrevista coletiva na quarta-feira: "Covid adora uma multidão, então, por favor, deixem as festas para depois".


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