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Estado de Minas

Após 'fuga', capital estrangeiro volta ao Brasil - mas país está entre últimas opções dos investidores

De acordo com o Institute of International Finance (IIF), boa parte do dinheiro que circulou no mundo em novembro foi parar em mercados emergentes da Ásia e do Oriente Médio. Atratividade do Brasil é prejudicada por fatores que vão das contas públicas à política ambiental.


04/12/2020 15:49

Pandemia gerou forte aversão a risco no primeiro semestre entre investidores estrangeiros, que tiraram recursos de mercados emergentes(foto: Getty Images)
Pandemia gerou forte aversão a risco no primeiro semestre entre investidores estrangeiros, que tiraram recursos de mercados emergentes (foto: Getty Images)

Após meses consecutivos de saída de capital estrangeiro do Brasil, as notícias mais promissoras sobre o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 animaram os investidores, que voltaram a olhar para mercados considerados mais arriscados.

Depois de voltar a registrar saldo positivo de investimento estrangeiro em outubro, a bolsa teve um resultado robusto em novembro, quando entraram mais de R$ 30 bilhões em capital estrangeiro, o maior volume em mais de duas décadas.

O Brasil, entretanto, não é um caso isolado. Mercados emergentes assistiram, de maneira geral, a um ingresso recorde desse tipo de investimento.

Isso porque, além das perspectivas mais animadoras em relação à vacina, o mundo vive um momento de grande liquidez (ou seja, dinheiro disponível), diante dos pacotes de estímulos implementados em diversos países, e juros muito baixos.

Essa combinação de fatores aumentou o apetite por risco dos investidores, que olham para os mercados emergentes em busca de maior rentabilidade.

Nas contas da consultoria Capital Economics, que divulgou um relatório recentemente sobre o assunto, o chamado investimento em portfólio nesse grupo de países está no maior nível desde 2014.

O investimento em portfólio é aquele feito em ações, fundos de investimento ou títulos de dívida, por exemplo. É mais volátil do que o chamado investimento direto no país, que contabiliza o fluxo de capitais no setor produtivo, como a participação direta em empresas. Os dois tipos de investimentos são acompanhados pelo Banco Central nas estatísticas do balanço de pagamentos.

Fim da fila

Apesar de o mercado financeiro brasileiro ter voltado a atrair capital estrangeiro, ele ainda está no fim da fila quando comparado com outras economias emergentes - por razões regionais e internas.

A pedido da BBC News Brasil, o economista do Institute of International Finance (associação que reúne 450 bancos e fundos de investimentos em 70 países) Jonathan Fortun analisou os dados de investimento em portfólio e verificou que o país está longe das prioridades dos investidores entre as 28 economias emergentes acompanhadas pela instituição.

"O Brasil está no último terço, com outros países da América Latina."

Até novembro, conforme os dados coletados pelo IIF, o fluxo de investimento em portfólio em "equity" (palavra em inglês usada no jargão do mercado como sinônimo de patrimônio líquido, e que engloba o investimento em ações) ainda está 7,7% abaixo do verificado em janeiro - um saldo negativo de US$ 9,2 bilhões.

Investimento em portfólio por não residentes. Perdas acumuladas entre janeiro e novembro - em %.  .

No mercado de dívida, com dados até outubro, a defasagem é ainda maior: o fluxo acumulado desde janeiro é negativo em 8,8%, US$ 3,9 bilhões.

Investimento em portfólio por não residentes. Perdas acumuladas entre janeiro e outubro - em %.  .

Os favoritos dos investidores: Ásia e Oriente Médio

Para muitos dos países no topo da lista, o ingresso de capital em outubro e novembro já foi suficiente para recuperar as perdas observadas desde o início da pandemia. É o caso, por exemplo, de alguns emergentes asiáticos e do Oriente Médio.

"Além da China, que é um caso à parte, vimos um fluxo grande de investimentos para mercados como Indonésia, Malásia, Tailândia e Cingapura", ilustra Fortun.

Esses são países que desenvolveram bastante seus respectivos mercados financeiros nas últimas décadas e, ao contrário da América Latina, que é predominantemente exportadora de commodities, têm uma participação relevante em cadeias globais de produção, com uma participação expressiva da indústria na economia.

As perspectivas de vacinação de parte da população global em 2021 geraram a expectativa de que a demanda internacional por produtos se recupere mais rápido - o que poderia beneficiar diretamente o setor produtivo desses países.

Notícias positivas sobre vacina contra a covid e ambiente de liquidez global levaram investidores a mercados emergentes(foto: Getty Images)
Notícias positivas sobre vacina contra a covid e ambiente de liquidez global levaram investidores a mercados emergentes (foto: Getty Images)

Já no Oriente Médio - na região conhecida como MENA (acrônimo para "Middle East and North Africa", que inclui também os países do norte da África -, a preferência tem sido pela compra de títulos da dívida soberana, especialmente de países como Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes.

Brasil, as contas públicas e o meio ambiente

"O Brasil tem aproveitado as oportunidades (que o cenário global apresenta), mas não na mesma extensão", avalia o economista.

A questão da dívida pública, ele exemplifica, é justamente um dos fatores que têm afastado investidores estrangeiros.

Ainda antes da pandemia de covid-19, o país assistia a um aumento contínuo do endividamento, que se aprofundou com a adoção do chamado "orçamento de guerra" para fazer frente à crise causada pelo novo coronavírus.

O país adotou estratégia semelhante à da maioria dos países, que também abriram os cofres para tentar proteger as populações mais vulneráveis dos efeitos econômicos negativos - a questão é o que viria posteriormente, o fato de o Brasil não vir mostrando de forma clara como vai reequilibrar as contas depois que esse momento passar.

"Os investidores hoje estão olhando mais para as especificidades de cada país antes de decidirem onde vão colocar o dinheiro", ressalta Fortun.

Apesar de ser um investimento atrativo no momento para capital estrangeiro, Brasil perdeu oportunidades, avalia economista do IIF(foto: Getty Images)
Apesar de ser um investimento atrativo no momento para capital estrangeiro, Brasil perdeu oportunidades, avalia economista do IIF (foto: Getty Images)

Para ele, o país também perde uma oportunidade quando não sinaliza seu compromisso com a preservação do meio ambiente.

Os emergentes asiáticos, acrescenta, abraçaram o chamado ESG, sigla para "environment", "social"e "governance" (meio ambiente, social e governança), o mundo dos ativos que também miram a sustentabilidade. Parte dos papéis que os investidores estão comprando neste momento nesses mercados estão nessa modalidade.

"O ESG vai ser o que as microfinanças (instrumentos de crédito e outros serviços financeiros voltados às populações mais pobres, muitas à margem do sistema bancário) foram algum tempo atrás."

Covid-19 e América Latina

De um lado, a preocupação com o lado fiscal afeta a atratividade de investimentos em vários países da América Latina, assim como o fato de que a região ainda se vê bastante afetada pela pandemia, com uma incidência elevada da doença.

De outro, contudo, a perspectiva de recuperação da demanda global tende a elevar os preços de commodities, trazendo ganhos para os países latino-americanos.

No caso específico do Brasil, a ingresso relativamente mais modesto de dólares frente a outros emergentes mantém o real subvalorizado (em torno de 20%, nas contas do IIF) - o que torna o país, por sua vez, um investimento barato.

Fortun pondera ainda que, apesar de o saldo do investimento em portfólio no país ainda ser negativo no ano, o do investimento direto segue positivo o suficiente para cobrir essas perdas.

O acumulado até outubro, segundo os dados do Banco Central, é de US$ 31,9 bilhões - quase metade, entretanto, do registrado no mesmo período de 2019, US$ 57,6 bilhões.

O estoque de reservas internacionais, por sua vez, também segue em nível elevado, com US$ 354,5 bilhões até outubro - o que deixa o país menos vulneráveis a crises cambiais como a que viveu recentemente a vizinha Argentina.


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