Conhecido como 'dólar blue', a taxa de câmbio paralela fechou o dia em 1.010 pesos, contra os 945 da véspera, enquanto a cotação oficial está em 365 pesos.
A volatilidade no mercado cambial coincide com a recomendação do candidato ultraliberal Javier Milei, favorito nas pesquisas, de não renovar prazos fixos em pesos argentinos.
"Jamais em pesos, jamais em pesos. O peso é a moeda emitida pelo político argentino, portanto, não pode valer nem excremento, porque essas porcarias não servem nem como adubo", disse ele.
No fim do dia, Milei declarou que "tentar responsabilizar o único candidato que não exerceu qualquer função pública e que vem defender uma mudança completa de modelo para eliminar a inflação para sempre, é uma canalhice".
Em meio a temores de saques em massa, a Associação de Bancos emitiu um comunicado exortando os candidatos a agirem com responsabilidade.
"Devem evitar fazer declarações infundadas que gerem incerteza nas pessoas e volatilidade nas variáveis financeiras", afirmou.
No meio dessas turbulências, os cambistas de rua habituais que oferecem o 'dólar blue' para turistas no centro de Buenos Aires desapareceram.
Em contraste, a polícia realizou novas operações de busca nas instalações, conhecidas como 'cuevas', onde essas transações são realizadas.
O ministro da Economia e candidato presidencial da coalizão União pela Pátria (peronismo de centro-esquerda) afirmou, durante um fórum da Câmara de Comércio, que prenderá "aqueles que estão especulando contra a poupança das pessoas, mesmo que isso" custe a ele a eleição.
Em resposta à situação, os investidores apostam na bolsa para se proteger de uma desvalorização.
O índice Merval da bolsa de Buenos Aires registrou nesta terça-feira uma forte alta, de 10,03%.
- Dólar em alta, clientela em baixa -
O governo oficializou nesta terça-feira uma unificação de várias taxas de câmbio em vigor para turismo e poupança, aos quais são aplicados impostos para desencorajar a compra de moeda estrangeira.
Os argentinos, que passaram por inúmeras crises econômicas e se acostumaram a economizar em dólares, sabem que cada variação na taxa de câmbio se refletirá nos preços, mesmo dos produtos mais simples.
"Quando o dólar sobe, a clientela diminui porque todos os preços sobem. Os fornecedores, principalmente de produtos para impressoras, cobram no 'dólar blue'", explicou à AFP Abel Ledesma, proprietário de uma papelaria.
Desde 2019, a Argentina tem implementado controles de câmbio devido ao forte declínio das reservas internacionais, que, segundo as autoridades, fecharam em 26,2 bilhões de dólares (cerca de R$ 132 bilhões) na segunda-feira. No entanto, segundo os analistas, as reservas realmente disponíveis do Banco Central estão zeradas.
Com uma inflação anualizada de 120% até agosto, a taxa de juros para depósitos a prazo está em território negativo, em 118% ao ano.
"A escassez de reservas internacionais e o excesso de oferta de pesos poderiam gerar esse cenário", considerou o economista Martín Kalos, diretor da consultoria EPyCA.
O especialista se refere à emissão de moeda para financiar os gastos públicos na Argentina, que está excluída dos mercados internacionais de crédito.
"A frase 'o peso não vale nada' é irresponsável, porque ele (Milei) como economista sabe das consequências disso na economia", disse à AFP.
A Argentina mantém um acordo de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 44 bilhões de dólares (222 bilhões de reais), no qual se comprometeu a uma forte redução do déficit fiscal.
A Argentina sofreu uma hiperinflação em 1989, mas o maior trauma ocorreu em 2001, quando o país declarou o default de sua dívida soberana, desencadeando a pior crise social e política da história recente, com uma corrida bancária e retenção de depósitos que causou 39 mortes.
Em 14 de agosto, após as primárias nas quais Milei foi o candidato mais votado com 29,8% dos votos, o governo desvalorizou a moeda em 20%, fixando-a em 365 pesos por dólar, e o paralelo subiu para 685 pesos naquele dia.
As eleições presidenciais serão realizadas em um primeiro turno em 22 de outubro. Se nenhum candidato obtiver 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado, haverá um segundo turno em 19 de novembro. O próximo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro.
BUENOS AIRES