Após 17 meses de conflito, a quantidade de órfãos na Ucrânia transbordou o sistema de adoção - que necessitava de uma grande reforma mesmo antes da guerra.
De acordo com os serviços sociais ucranianos, mais de 9 mil crianças ficaram órfãs devido ao conflito.
O pai e a mãe de Karina morreram quando a família tentava fugir da atacada região de Chernihiv, no norte do país, logo após o início da ofensiva em 2022.
O carro explodiu possivelmente por uma mina ou projétil e apenas Karina sobreviveu, apesar de ter sido arremessada pela janela do veículo e ter tido uma concussão, segundo sua tia, Ruslana Nosenko.
"Nas costas (...) ela tinha queimaduras roxas. Não cicatrizaram totalmente", acrescentou a mulher de 22 anos que cuida de Karina desde que ela deixou o hospital.
"Fisicamente, acho que ela teve muita sorte, mas psicologicamente sofreu muito", acrescentou ela.
- Acordar chorando -
Antes da invasão, mais de 100.000 crianças já viviam em orfanatos na Ucrânia. É o maior número do continente europeu, atrás apenas da Rússia, outro país onde essa questão se tornou um problema social.
Atualmente, as autoridades ucranianas tentam colocar crianças órfãs em abrigos e com famílias, em troca de uma compensação financeira para quem aceitar cuidar delas. Eles também tentam facilitar o processo de adoção.
Apesar de todas essas medidas, a adoção continua impossível para a tia de Karina. "Precisa declarar renda, o que não é o meu caso. Não posso adotá-la porque ainda sou estudante", explica Ruslana, mãe de uma criança.
Na ausência de adoção, a tia atua como tutora de Karina e a hospeda em seu apartamento em Kiev, onde a menina aprende a tocar piano.
Ruslana conta que foi ela quem teve que anunciar a morte do pai e da mãe para a menina, um mês depois do ocorrido.
"Estava muito nervosa e chorava muito" disse a tia, que lembra das noites que Karina acordava em prantos no meio da noite.
A primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, disse recentemente que proteger as crianças das consequências psicológicas da guerra é um desafio para a Ucrânia. Ela se mostrou preocupada com o "grande número de crianças que, como os adultos, sofrem de transtornos de ansiedade".
KIEV