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Estado de Minas MANÁGUA

Competição de 'drag queens', um desafio à discriminação na Nicarágua


25/07/2023 11:55
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É com as maquiagens e perucas que Marvin Reyes dá vida para Akeira Davenport, uma "drag queen" que desafia a discriminação sexual na Nicarágua.

"Eu faço drag há 11 anos", conta Reyes, chefe de cozinha em uma universidade particular de Manágua. Ele tem medo da aceitação social e conta que já suportou agressões verbais e físicas.

"Faço o que faço com Akeira por paixão, uma diversão, algo que eu gosto, às vezes sem precisar ganhar dinheiro porque eu gosto da arte, então essa é a diferença entre Akeira e Marvin", diz Reyes, de 31 anos, à AFP.

Uma "drag queen" é um artista que se veste com trajes considerados femininos.

- "Tudo acontece rápido" -

Akeira venceu recentemente um concurso contra colegas de países da América Central, realizado em um bar de Manágua.

Na competição, três participantes se maquiavam no palco do bar, diante de um público formado por membros da comunidade LGBTQIA+.

Os participantes viram como as "queens" se ajudaram a ajustar suas roupas, pôr as perucas e calçar os saltos ou botas de cano alto para vencer a segunda edição do concurso Mix Imperial Central American Tropical Drag Royale.

"Normalmente a drag é perfeita (...), tem uma porta e sai uma montada (...); aqui não tem tempo para elas trocarem de passarela, tudo acontece rápido", explica à AFP a organizadora do concurso, Lola Rizo, no Candyland by Teatro.

Cada competidora deveria trocar de roupa, fazer uma apresentação e se preparar para a próxima, enquanto a plateia grita o nome das participantes.

As concorrentes devem ter boa aparência, ter um bom desempenho e saber falar perante o júri, acrescenta Rizo, artista de 32 anos, para quem "este tipo de atividade não fala apenas da diversidade sexual e de gênero", mas também da realidade de cada país.

- "Vivo com medo" -

As discriminação e ataques nas ruas e nas redes sociais de Nicarágua são frequentes para membros da comunidade LGBTQIA+.

Por isso, são necessárias leis que penalizem a agressão, garante à AFP Ludwika Vega, de 40 anos, presidente da Associação Nicaraguense de Transgêneros.

O caminho do respeito à diversidade sexual tem sido difícil na Nicarágua.

O país registrou 43 situações de discriminação e violência contra mulheres trans, homossexuais e lésbicas em 2022, segundo o Observatório de violações de direitos humanos de pessoas LGBTQIA+.

Já durante o primeiro semestre de 2023, ocorreram 16 agressões verbais ou físicas e dois crimes de ódio que acabaram com a vida de duas mulheres trans, segundo o observatório.

A homossexualidade era crime desde a década de 1990, após a derrota eleitoral do governo da revolução sandinista (1979-1990). No entanto, após o retorno do atual presidente Daniel Ortega ao poder em 2007, a criminalização da homossexualidade foi abolida.

Em 2009, foi criada uma Procuradoria Especial da Diversidade Sexual, embora falte uma lei de identidade de gênero, diz Vega, que em 2019 foi agredida por desconhecidos que a abandonaram no local.

"Sou uma mulher trans que vive com medo, com a ansiedade de que possam fazer algo contra mim ou nos atacar por não sermos o que a sociedade quer que sejamos, com esses esquemas e papéis patriarcais que nos impõem", acrescenta Vega, graduada em Marketing.

Vega diz que sonha viver em uma sociedade "sem rejeição, sem exclusão, sem violência, onde possamos viver com a nossa família, com o nosso companheiro, sem que ninguém nos aponte e diga que não somos bem vistos, porque o fundamentalismo religioso tem um grande papel nisso".

- "Sou a mesma pessoa" -

Quando Akeira sai do palco, Marvin assume seu lugar na casa onde mora com a mãe e os irmãos, em um bairro movimentado de Manágua.

Dentro de casa, ele continua com suas outras paixões: cozinhar e tem um coelho e dois periquitos como animais de estimação.

Marvin explica que sua atuação como "drag queen" busca encorajar membros de minorias sexuais.

"Temos que ser uma pessoa e mostrar que, embora esteja de peruca ou usando maquiagem, sou a mesma pessoa, sempre", diz ele.

"Não precisamos ser preconceituosos com nós mesmos. Às vezes nos escondemos e não percebemos, e isso dói fisicamente, (e) também afeta seu coração", diz Marvin.


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