Segundo o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, Prigozhin chegou ou estava prestes a chegar a Belarus, principal aliado da Rússia no conflito com a Ucrânia.
"Vejo que Prigozhin já está viajando de avião. Sim, efetivamente, hoje está em Belarus", disse Lukashenko em uma declaração ambígua à agência oficial de notícias Belta, sem que se saiba o momento no qual o líder da milícia pisará em território bielorrusso.
Prigozhin estava desaparecido desde o anúncio do fim de sua rebelião no sábado à noite, depois de 24 horas de caos nas quais seus homens tomaram bases militares e marcharam do sudoeste da Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia, em direção a Moscou, antes de desistir repentinamente.
Nesta terça, Vladimir Putin agradeceu aos militares que, segundo ele, impediram uma "guerra civil".
"Vocês se opuseram a estes distúrbios, cujo resultado teria sido, inevitavelmente, o caos", afirmou o presidente russo durante uma cerimônia com militares em Moscou.
Com ar sério, o presidente russo pediu um minuto de silêncio aos militares mortos em ataques durante o motim quando "cumpriam seus deveres com honra".
As autoridades russas asseguraram que a crise interna não mudaria em nada sua determinação de prosseguir com os objetivos da intervenção militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
- Restaurante bombardeado -
Também nesta terça, dois foguetes atingiram um restaurante popular na cidade ucraniana de Kramatorsk (leste), deixando ao menos três mortos e 42 feridos, segundo as autoridades de Kiev.
Um jornalista da AFP viu uma importante movimentação de ambulâncias, policiais e militares, assim como vários moradores reunidos em frente ao Ria Pizza, o restaurante bombardeado.
Coberto de poeira, o cozinheiro Roslan, de 32 anos, disse que, no momento do ataque, "havia bastante gente" no restaurante e apontando para si próprio, afirmou: "Tive sorte".
Kramatorsk, cidade de 150 mil habitantes antes da guerra, é o último grande centro urbano sob controle ucraniano no leste do país e fica a cerca de 30 km da linha de frente.
Com apoio financeiro e de equipamento militar enviado pelas potências ocidentais, a Ucrânia lançou há algumas semanas uma contraofensiva para tentar recuperar territórios tomados pela Rússia.
Também nesta terça, os Estados Unidos anunciaram um pacote adicional de US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,4 bilhões na cotação atual) em armamento para reforçar a contraofensiva de Kiev, que incluiria cerca de 50 veículos blindados e munições de precisão para os sistemas de defesa antiaérea Patriot e de artilharia Himars.
O enviado do papa Francisco para a paz na Ucrânia, cardeal Matteo Zuppi, vai viajar na quarta e na quinta-feira a Moscou, segundo o Vaticano.
- Desarmar o Grupo Wagner -
O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta terça "preparativos para transferir ao Exército os equipamentos militares pesados do Grupo Wagner às unidades ativas das Forças Armadas".
A medida parece ter como objetivo neutralizar o Grupo Wagner, uma milícia que, até agora, atuava sob instruções do Kremlin em Ucrânia, Síria e vários países africanos.
Apesar de as autoridades russas terem negado diversas vezes qualquer relação com o Grupo Wagner, Putin afirmou nesta terça que o Estado havia "financiado completamente" esse exército privado, pagando-lhe no ano passado mais de 1 bilhão de dólares (aproximadamente R$ 5,2 bilhões na cotação da época).
Na segunda-feira, o presidente russo havia denunciado a "traição" deste grupo, ao mesmo tempo em que assegurou que seus combatentes poderiam se unir ao Exército, retornar para suas casas ou seguir para Belarus.
Em uma crítica velada a Putin, Lukashenko considerou que a rebelião foi resultado da má gestão das rivalidades entre o Grupo Wagner e o Exército russo, que aumentaram consideravelmente desde o início do conflito na Ucrânia.
"A situação fugiu do controle", afirmou o líder bielorrusso.
Vários líderes e analistas ocidentais acreditam que Putin saiu da crise muito fragilizado.
Com sua ofensiva na Ucrânia, "Putin também está pondo em perigo a segurança do seu próprio país", disse, nesta terça, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.
Mas, segundo o Kremlin, a rebelião, ao contrário do que se esperava, levou a população a "se consolidar em torno do presidente". "O Exército e o povo não estavam ao lado" dos amotinados, segundo Putin.
Ainda nesta terça, O Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo) da Rússia anunciou a retirada das acusações contra o Grupo Wagner por "rebelião armada", um sinal de um possível acordo entre Prigozhin e o Kremlin.
Segundo o opositor russo preso Alexei Navalny, a rebelião do Grupo Wagner demonstra que o poder de Putin é uma "ameaça à Rússia". "É tão perigoso para o país que até mesmo o seu inevitável colapso representa uma ameaça de guerra civil", disse Navalny no Twitter.
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