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Estado de Minas MORTE DA RAINHA

Sem Elizabeth II, monarquia terá de se reinventar para atrair juventude

Com morte da rainha, especialistas avaliam urgência de a realeza superar crises, se modernizar e tornar-se menos dispendiosa para conquistar súditos jovens


09/09/2022 04:00 - atualizado 09/09/2022 12:09

O príncipe britânico William, duque de Cambridge (E) e o príncipe britânico Harry, duque de Sussex, diante da estátua de sua mãe, a princesa Diana, no Palácio de Kensington, Londres, em 1º de julho de 2021, que seria seu 60º aniversário
O agora herdeiro imediato do trono William, duque de Cambridge (E), e o irmão, príncipe Harry, duque de Sussex, diante da estátua de sua mãe, a princesa Diana: conciliar as duas casas será uma das missões do novo rei (foto: DOMINIC LIPINSKI/AFP)

 

“É o fim de uma era. A morte de Elizabeth II terá um impacto de longa duração sobre o Reino Unido. A rainha era a matriarca da nação, que está perturbada por seu falecimento.” A avaliação é do britânico Mark Borkowski, especialista em relações públicas e em questões da imagem da realeza britânica.

Mais que isso, ele acredita que a estrutura da monarquia será remodelada com a ausência da soberana. “A monarquia, sob o rei Charles III, será forçada a mudar e a responder aos anseios das gerações mais jovens. Nós temos vivido em um reino por sete décadas. Durante esse tempo, o mundo sofreu mudanças culturais significativas. Charles III também terá que reduzir o grande custo da monarquia para o país, algo repleto de anacronismo”, avaliou Borkowski, morador de Londres, em entrevista à reportagem.

 

De acordo com ele, a monarquia precisa lidar, ainda, com as consequências de transtornos entre as Casas de Sussex – à qual pertencem o príncipe Harry e sua esposa, a ex-atriz americana  Meghan – e de Cambridge, da qual fazem parte o irmão e também príncipe William (agora herdeiro imediato do trono) e sua mulher, Kate Middleton. “Isso fraturou o futuro da monarquia. No entanto, Elizabeth II orientou profundamente a instituição durante essas turbulências. Isso deve ter sido doloroso para ela”, admitiu Borkowski. Harry e Meghan chegaram a acusar a família real de racismo e se mudaram para os Estados Unidos, em 2020.

 

Questionado pela reportagem se o rei Charles III conseguirá “consertar” os danos causados à monarquia pela crise entre as Casas de Sussex e de Cambridge, Borkowski avalia que, por enquanto, não existe resposta. “Muitos se perguntam até que ponto o novo monarca poderá remodelar a monarquia, de maneira que ela se torne relevante, no século 21, para uma ge- ração que não deseja estabelecer profundas conexões com a tradição. Muitas nações da Commonwealth (Comunidade Britânica das Nações), sem dúvida, buscarão a própria identidade. Suspeito que essas nações não queiram ter Charles como chefe de Estado constitucional.”

Prestígio e carisma as turbulências

Já o especialista em família real britânica Sean O'Grady, jornalista do The Independent, afirmou à reportagem que Elizabeth II tinha tanto prestígio e carisma que conseguiu mantê-los mesmo em tempos de profundas mudanças sociais, desde 1952. “Nos anos 1960, e depois da morte da princesa Diana, em 1997, os súditos questionavam a monarquia. No entanto, Elizabeth II a adaptou, recebeu conselhos de seus primeiros-mi- nistros e manteve a Casa de Windsor em segurança. O sentimento republicano sempre esteve presente em cerca de um quinto da população britânica, mas os monarquistas fanáticos são muito mais numerosos”, explicou.

 

O'Grady lembra que, enquanto várias instituições do Reino Unido estiveram sob pressão nos últimos 70 anos, a monarquia resistiu e funcionou. “Exceto por uma década, nos anos 1600, a monarquia tem durado mais de mil anos”, comentou. No entanto, ele destacou que uma das grandes e perenes questões é sobre como a monarquia conquista a fidelidade dos súditos mais jovens. “A questão aqui é que a geração mais jovem é mais apática e menos comprometida com a realeza – mas também muito menos envolvida politicamente. A instituição provavelmente perdeu com o exílio de Harry e de Meghan.”

 

Professor emérito da Universidade de Buckingham Anthony Glees concorda, e ressaltou que não houve um momento em que o Reino Unido não foi comandado por um monarca. “No entanto, é um segredo aberto que Charles estava muito ansioso em ser rei e suceder à sua mãe. Ele não tem o mesmo sorriso maravilhoso da rainha; ele ri, mas não sorri, como Elizabeth II sempre fazia. É impossível imitá-la”, disse à reportagem.

 

Por sua vez, Cele Otnes, professora emérita da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (Estados Unidos), espera que Charles III “enxugue um pouco” a monarquia. “O teste real será o tipo de cerimônia de coroação que o novo rei realizará em alguns meses. Provavelmente, ela não ocorrerá antes do próximo ano, a fim de permitir um tempo de luto adequado pela rainha”, explicou, por e-mail. “Não sei até que ponto ele será uma figura unificadora. Monarcas não têm poder político. Então, Charles III precisará ser um unificador baseado somente no carisma. Existe um sentimento de que, como um rei de 73 anos, ele terá dificuldades para manter o brilho da coroa, por assim dizer”, concluiu Otnes, autora de “Royal fever: The british monarchy in consumer culture” (“Febre real: A monarquia britânica na cultura do consumo”).

Palavra de especialistas

Uma nova definição de monarquia

 

“Nós olhávamos para a rainha Elizabeth II como se fosse uma rocha, uma mulher com grande integridade para cumprir um papel importante de Estado. Ela trabalhou de forma incrivelmente dura, com altruísmo e sabedoria. Agora, começa outra era e uma nova definição de monarquia, a qual precisará reinar para as gerações mais jovens. Veremos outra mudança depois que o rei Charles III passar a coroa para o filho William.”

 

Mark Borkowski, especialista em relações públicas e em questões da imagem da realeza britânica

 

Importante demais para desaparecer

“Sem dúvida, a monarquia continuará a ter futuro no Reino Unido. É uma instituição cultural importante demais para desaparecer. As novas famílias – William, Kate e os filhos, George, Charlotte e Louis – são incrivelmente populares. Os súditos se envolveram em acompanhar o crescimento das crianças. Sem dúvida, elas terão papel central em ajudar a monarquia a continuar atraindo uma população mais jovem.” 

 

Cele Otnes, professora emérita da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (Estados Unidos) 


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