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Estado de Minas AEROPORTO DE PARIS-ROISSY

Militar russo pede asilo na França após denunciar invasão da Ucrânia


30/08/2022 20:43

O ex-paraquedista russo Pavel Filatiev ousou denunciar a guerra na Ucrânia e a corrupção no exército, mas logo compreendeu que o único que podia esperar era a prisão, razão pela qual decidiu esperar o asilo político na França.

O militar reformado, de 34 anos, que combateu por dois meses na Ucrânia, chegou no domingo a Paris através da Tunísia. Na tarde de terça-feira foi liberado e agora está disposto a pedir asilo político, disse à AFP sua advogada, Kamalia Mehtiyeva.

Sua situação teve uma reviravolta quando, no começo de agosto, publicou na rede social russa Vkontakte um relato de 141 páginas sobre o conflito, após ter servido no 56º regimento de tropas aerotransportadas, baseado na península da Crimeia.

"Quando soube que o comando pedia que fosse condenado a 15 anos de prisão por informação falsa (contra o exército russo), entendi que aqui não chegaria a parte alguma e que meus advogados não poderiam fazer nada por mim na Rússia", disse Pavel Filatiev à AFP, que o entrevistou na segunda-feira na sala de espera para os solicitantes de asilo do aeroporto Roissy-Charles de Gaulle de Paris.

Seu texto, intitulado "ZOV", que significa "chamada" em russo e que, ao mesmo tempo, lembra as letras pintadas nos tanques russos na Ucrânia, critica a ofensiva lançada em 24 de fevereiro.

"Não tínhamos o direito moral de atacar outro país, nem as pessoas mais próximas a nós", escreve o soldado, filho de outro soldado que serviu no 56º regimento.

- "Corrupção" -

Ele descreve um exército russo em frangalhos, equipado apenas, mas sem formação, "no mesmo estado em que se encontra a Rússia nos últimos anos".

"Ano após ano, a negociata e a corrupção são cada vez mais frequentes", explica Filatiev. "A corrupção, a desordem e o descuido passaram os limites do aceitável", acrescenta, relatando a rapidez com que se desencantou após assinar seu contrato.

"Nos primeiros meses fiquei em choque. Disse a mim mesmo, 'Isto não é possível' e, no fim do ano, me dei conta de que não queria servir em um exército assim", admite o soldado.

No entanto, não abandonou a tropa e foi parar na linha de frente quando foi implantado o que o Kremlin chamou de "operação especial". Com seu regimento, dirigiu-se primeiro a Kherson e depois a Mykolaiv, duas cidades ucranianas do Mar Negro.

"Se em tempos de paz o exército já era um desastre, corrupto e descuidado, é óbvio que em tempos de guerra, combates, isto ficará ainda mais evidente e a falta de profissionalismo ainda mais visível", disse, acreditando que o governo russo tinha desempenhado um papel importante "na destruição do exército herdado da URSS".

- "Difícil que vão embora" -

Após dois meses de combates, durante os quais afirmou que seu regimento não tinha participado de nenhuma ação contra civis ou prisioneiros, Filatiev foi evacuado devido a uma infecção no olho direito e hospitalizado em Sebastopol, na Crimeia.

Ele tentou deixar o exército por motivos de saúde, mas seus dirigentes lhe pediram que voltasse para o front, ameaçando abrir uma investigação contra ele caso não o fizesse.

No começo de agosto, deixou a Crimeia e publicou seu diário na Internet. Após vagar de cidade em cidade pela Rússia para evitar ser identificado, acabou deixando o país.

"Por que estou contando tudo isso em detalhes? Quero que as pessoas na Rússia e no mundo entendam como esta guerra surgiu, porque as pessoas continuam lutando", explica Pavel Filatiev. "Não é porque queiram lutar, é porque estão em tais condições que é muito difícil que vão embora".

"O exército, assim como a sociedade russa, está aterrorizado", afirma, estimando que apenas 10% dos militares apoiam a guerra e que a maioria dos soldados tem medo de falar abertamente. "Os que são contra a guerra têm medo de dizer, de partir, têm medo das consequências".

Se conseguir o status de refugiado, ele diz que quer agir "para que esta guerra termine". "Quero que o menor número possível de jovens russos vão para lá e se envolvam nisso, que saibam o que acontece ali".


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