Faltando menos de dois meses para as eleições nas quais buscará um novo mandato, Bolsonaro voltou a criticar publicamente os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e questionou a confiabilidade do sistema de votação por urna eletrônica, alimentando temores de que pode não reconhecer uma eventual derrota.
"Após 200 anos de independência do Brasil deveríamos estar pensando em nosso futuro, em como resolver problemas graves, por exemplo da educação, saúde, da economia, mas estamos voltados a impedir retrocessos", disse o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Carlotti Junior, ao abrir uma solenidade na instituição que reuniu cerca de 800 advogados, professores, empresários, dirigentes sindicais e ONGs.
Nas últimas semanas, mais de 900 mil representantes da sociedade civil assinaram um manifesto "em defesa da democracia" lançado pela USP, que foi lido em um vídeo por artistas como Caetano Veloso, Anitta e Fernanda Montenegro.
Do lado de fora da universidade, milhares de pessoas agitaram bandeiras e ergueram faixas contra Bolsonaro.
"Nosso presidente já deu indícios de que fará tudo possível para impedir que haja eleições", disse à AFP a arquiteta Sabrina Cunha, de 62 anos.
Bolsonaro, que chamou o manifesto de "cartinha" e criticou seus signatários, voltou a ironizar o tema nesta quinta-feira. "Hoje, aconteceu um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro: a Petrobrás reduziu, mais uma vez, o preço do diesel", escreveu em suas redes sociais.
Com exceção do presidente, vários candidatos à presidência nas próximas eleições de outubro assinaram a carta. Entre eles, seu principal rival, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que tuitou: "Nosso país era soberano e respeitado. Precisamos recuperá-lo".
As manifestações se replicaram em cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Recife, com atos em universidades.
"Foram quatro anos de muito sofrimento (...) agora é o momento de nos organizarmos para não deixar (Bolsonaro) vencer e eleger um governo de esquerda, democrático e popular", disse Mayrla Silvam, uma estudante da Universidade de Brasilia que se juntou ao protesto na capital.
O manifesto também foi lido na prestigiosa universidade britânica King's College London.
- Manifestos pró-democracia -
Outras cartas semelhantes foram publicadas por importantes associações empresariais, incluindo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), algo visto por muitos observadores como um revés para Bolsonaro, já que grande parte do empresariado o apoiou nas eleições de 2018.
O Brasil vive um "momento inédito em que capital e trabalho se juntam em defesa da democracia", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias ao ler o manifesto divulgado na semana passada pela Fiesp intitulado "Em defesa da democracia e da justiça".
Os participantes do evento na USP traçaram paralelos com um evento realizado em 1977, quando um manifesto em defesa da democracia foi lido na mesma universidade em um momento de ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Para Adriano Laureno, gerente de análise da consultora Prospectiva, "a carta tem pouca importância do ponto de vista eleitoral", sem grande "impacto" nos eleitores.
Mas, após ter nascido como uma iniciativa de uma elite econômica e acadêmica, passou a abranger sindicatos, movimentos sociais e associações estudantis.
Isso, acrescentou Laureno, poderia ser interpretado como "uma semente de uma frente ampla contra Bolsonaro", embora "os que estavam ali hoje defenderam uma candidatura específica".
Na última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em 28 de julho, Bolsonaro aparece 18 pontos percentuais atrás de Lula, o favorito para vencer a eleição (47% contra 29%).
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SÃO PAULO
Atos 'em defesa da democracia', a semanas das eleições no Brasil
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