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Estado de Minas BOGOTÁ

Comissão da Verdade apresenta relatório duro sobre conflito colombiano


28/06/2022 20:30

A Comissão da Verdade que surgiu do acordo de paz com as Farc na Colômbia apresentou nesta terça-feira (28) um extenso e duro relatório sobre os horrores cometidos por guerrilheiros, paramilitares e agentes públicos ao longo de seis décadas de conflito interno.

Em um teatro em Bogotá, o padre Francisco de Roux, que preside a Comissão desde sua criação em 2017, apresentou o documento de 896 páginas, resultado do "diálogo social e a investigação" sobre o prolongado confronto.

Pelo menos 14 mil vítimas das guerrilhas de esquerda, paramilitares de extrema direita e agentes do Estado foram ouvidos pela Comissão de caráter extrajudicial, e cujas recomendações não vinculantes.

O presidente em fim de mandato, Iván Duque, crítico ferrenho da negociação com os rebeldes, não assistiu ao ato e enviou um delegado de seu governo.

Com este relatório, apoiado pelas Nações Unidas e a Igreja Católica, "fazemos um apelo à sociedade, ao Estado e à comunidade internacional" para a não repetição do conflito, acrescentou De Roux.

Desaparecimentos forçados, atos de violência sexual, massacres e torturas são alguns dos horrores mencionados no relatório, que conclui que os colombianos sofrem de "traumas coletivos" que passam "de geração em geração por décadas".

A Comissão da Verdade é uma das entidades que compõem o sistema de reparação às vítimas surgido do pacto de paz de 2016, junto com a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), o tribunal que investiga e pune os piores crimes, e uma unidade de busca de desaparecidos.

O relatório "Não há futuro se não há verdade" será publicado por capítulos nos próximos dois meses e a Comissão deixará de existir.

Ao menos nove milhões de vítimas entre deslocados (8,2 milhões), assassinados (1 milhão) e desaparecidos (109.000) foram registradas oficialmente na Colômbia.

- Recomendações -

Durante o evento, o sacerdote jesuíta entregou ao presidente eleito, o esquerdista Gustavo Petro, 19 recomendações para garantir o cumprimento do acordo que desarmou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Entre eles, avançar no processo de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha reconhecida no país; "acabar com a corrupção em todos os níveis" e assegurar as condições trabalhistas e de vida digna para os camponeses.

Acompanhado de sua vice-presidente, Francia Márquez, uma ambientalista negra que sofreu com o conflito na própria pele, Petro se comprometeu a atender estas recomendações, convencido de que "se tornarão eficazes na história da Colômbia".

"Há expectativas de paz, de uma paz grande, a paz integral, a possibilidade de passar para uma era de paz", acrescentou o ex-guerrilheiro do M-19 que deixou a insurgência em 1990 para fazer política na democracia.

Embora no início de seu mandato, Duque (2018-2022) tenha criticado o sistema de paz por considerá-lo demasiado frouxo com os ex-rebeldes, acabou apoiando-o frente à comunidade internacional.

Setores da direita têm criticado a Comissão, ao considerá-la tendenciosa contra as Forças Militares. Segundo o relatório, membros da força pública se aliaram a narcotraficantes e paramilitares "cujo fim era acumular poder e dinheiro".

Seis anos depois da assinatura da paz, a JEP acusou a cúpula das Farc por milhares de sequestros e comandos do exército pela execução de civis. Seus magistrados vão declarar as sentenças este ano.

Apesar do acordo com a maior ex-guerrilha das Américas, vários grupos armados que se financiam com o narcotráfico e outros negócios ilegais continuam ativos na Colômbia.


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