"Já começaram os preparativos" para organizar um próximo voo, disse aos deputados a ministra do Interior, Priti Patel, determinada a encontrar uma forma de implementar seu programa.
"Não aceitaremos que não temos direito de controlar nossas fronteiras", afirmou, garantindo que o Reino Unido é "um país generoso, cuja capacidade de acolhida se vê ameaçada por aqueles que chegam ilegalmente e furam a fila porque têm recursos para pagarem os traficantes".
E, destacando que "a inação não é uma opção", mencionou a possibilidade de "reformar o sistema". Não deu detalhes a respeito.
Na sessão semanal de perguntas no Parlamento, Johnson se limitou a defender "as pessoas que estão aqui de forma segura e legal".
Ontem, porém, havia acusado os advogados de migrantes clandestinos de "instigarem o trabalho dos grupos criminosos" de tráfico de pessoas.
"Será necessário mudar algumas normas para nos ajudar a avançar? É muito possível que sim. Todas estas opções estão em constante revisão", acrescentou.
O programa eleitoral que em 2019 deu a Johnson o melhor resultado do Partido Conservador britânico em 40 anos incluiu o compromisso de "atualizar a Lei de Direitos Humanos e a lei administrativa para garantir que haja um equilíbrio adequado entre os direitos das pessoas, nossa segurança nação vital e um governo eficaz".
E, nesta quarta, levantaram-se vozes pedindo a saída da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, em cuja elaboração no início dos anos 1950 o avô materno de Johnson - James Fawcett - contribuiu. Totalmente independente da União Europeia, ela está gravado na legislação britânica desde 1998.
"Vamos nos retirar do Tribunal Europeu de Direitos Humanos e pôr fim a sua intromissão na legislação britânica", tuitou a deputada conservadora Andrea Jenkyn.
- Guinada dramática no último minuto -
As travessias marítimas de migrantes para a Inglaterra com saída da costa francesa não parar de aumentar: na terça foram registradas 444, e já são mais de 10.000 desde o início do ano.
Buscando desestimulá-los, Patel anunciou em abril um acordo com Ruanda, país africano a 6.500 km de Londres, para que acolhesse migrantes e solicitantes de asilo que tenham chegado ao Reino Unido de forma ilegal. O acordo prevê o pagamento de US$ 157 milhões por parte do governo britânico.
As Nações Unidas, a Igreja Anglicana, as ONGs de defesa dos refugiados e dos direitos humanos denunciaram esta política como "ilegal" e "imoral", e várias associações tomaram medidas legais para impedi-lá.
O primeiro voo, fretado junto à companhia espanhola Privilege Style, deveria partir na noite de terça-feira.
Mais de 130 imigrantes - sírios, afegãos, albaneses e egípcios, entre outros - foram notificados de sua expulsão para um país com um histórico preocupante em termos de direitos humanos, segundo a ONG Care4Calais.
Alguns deles apresentaram recursos judiciais individuais, auxiliados por associações e advogados que também tentaram um bloqueio legal ao programa como um todo.
De sexta a segunda-feira, vários juízes britânicos rejeitaram os argumentos gerais, dando razão ao plano do governo, mas aceitaram casos específicos reduzindo gradualmente o número de passageiros para o primeiro voo, totalizando apenas sete na manhã de terça.
Patel afirmou que, apesar de tudo, o avião - com um custo estimado pela imprensa em 250.000 libras (US$ 300.000) de dinheiro público - decolaria para estabelecer o "princípio" da política "dissuasiva".
Em uma reviravolta de última hora, porém, um dos sete imigrantes, procedente do Iraque, conseguiu que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, bloqueasse sua deportação temporariamente até que sua legalidade fosse totalmente analisada.
Isso causou uma inesperada aprovação em cadeia de congelamentos para os outros seis e o voo acabou sendo cancelado após as 22h locais (17h de Brasília), para raiva e humilhação de um governo britânico que desde o Brexit vem tentando distanciar-se da justiça europeia a todo o custo.
Um dos principais argumentos para a saída britânica da União Europeia, decidida em 2016, mas efetivada apenas a partir de janeiro de 2021, foi o controle migratório.
E o plano de expulsar as pessoas sem documentos para Ruanda é muito popular entre grande parte dos eleitores conservadores de Johnson. Atormentado por múltiplos escândalos, este último busca retomar sua popularidade e reconquistar o eleitorado, de olho nas eleições de 2024.
LONDRES