Seguem alguns dados do Vale do Javari, uma imensa reserva indígena perto da fronteira com o Peru cujo isolamento a torna um refúgio para o tráfico de drogas, a caça clandestina, a extração ilegal de madeira e a mineração de ouro.
- Maior que a Áustria -
Criada em 2001, a Reserva Indígena do Vale do Javari cobre 85 mil km², uma superfície maior que a da Áustria.
Localizada no Amazonas, em uma área próxima da fronteira com o Peru, a reserva abriga cerca de 6.300 indígenas.
É a segunda maior reserva indígena do Brasil, atrás do território Yanomami, de 96 mil km².
- Refúgio indígena -
Acredita-se que 26 grupos indígenas vivem na reserva, incluindo 19 que tiveram pouco ou nenhum contato com o mundo exterior.
É um dos últimos refúgios dessas comunidades.
"O Vale do Javari abriga um número maior de tribos isoladas do que qualquer outro lugar no planeta", segundo a ONG Survival International.
- Selva profunda -
É uma lugar remoto e selvagem.
"Estamos falando de uma floresta tropical densa", declarou à AFP Fiona Watson, diretora do Survival International.
"Tudo é selva tropical, com muitos rios que a atravessam", completou.
Watson se lembra das dificuldades que enfrentou durante uma viagem para a região na década de 1990, quando o barco que transportava seu grupo ficou sem combustível.
"Tivemos que descer o rio flutuando, mas levaria dias por causa das curvas sinuosas do rio. Então um de nossos guias indígenas decidiu cortar o caminho como os pássaros fazem, atravessando os meandros", lembrou.
O guia finalmente voltou com combustível, mas a região é de difícil acesso, completou.
"A operação para localizar Bruno e Dom é um tremendo desafio", completou.
- Objetivo das invasões -
O afastamento tornou esta região atraente para os traficantes de drogas, que aproveitam a ausência do Estado e uma fronteira pouco vigiada entre dois países-chave para o narcotráfico.
Nos últimos anos, o território também viu um aumento "enorme" na extração ilegal de madeira, na mineração de ouro e na caça clandestina, alertou a Survival International.
"As invasões de terra e a violência associada a essas atividades ilegais representam uma grave ameaça", afirmou.
O fato do desaparecimento ter acontecido nesse contexto "faz com que a situação seja ainda mais preocupante", alertou a WWF Brasil.
- Patrulhas e conflitos -
Ex-coordenador-geral de Índios isolados e de Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira dedicou boa parte da carreira a lutar contra essas invasões, o que o tornou um alvo frequente de ameaças.
Ele ajudou comunidades indígenas a coordenar patrulhas em suas terras e estava a caminho de uma reunião com um líder local para tratar do tema quando despareceu ao lado de Phillips, segundo ativistas nativos.
O escritório da Funai na região, estabelecido para proteger os indígenas, foi atacado diversas vezes nos últimos anos. Em 2019, um funcionário da agência foi assassinado a tiros.
BRASÍLIA