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Estado de Minas HONG KONG

Memória da repressão de Tiananmen se perde em Hong Kong


30/05/2022 08:51

Pela primeira vez em 33 anos, este ano não haverá em Hong Kong vigílias para recordar a repressão de Tiananmen (Massacre da Praça da Paz Celestial), apagando um dos últimos lembretes da resposta sangrenta da China aos protestos de 1989.

Desde que Pequim impôs em Hong Kong uma dura lei de segurança nacional em 2020 para reprimir as manifestações do movimento pró-democracia, vigílias à luz de velas que antes atraíam multidões foram proibidas, o Museu de Tiananmen foi fechado e estátuas memoriais foram derrubadas.

As missas católicas realizadas para recordar a tragédia foram a última ocasião para os habitantes de Hong Kong lembrarem em um evento público a repressão mortal lançada por Pequim em 4 de junho de 1989, quando o governo trouxe tanques para conter protestos pacíficos.

Mas este ano, esses ritos também foram anulados pelo medo.

"Achamos que o clima social atual é muito difícil", explicou o reverendo Martin Ip, capelão da Federação de Estudantes Católicos de Hong Kong, que era um dos organizadores.

"Não queremos infringir nenhuma lei", disse à AFP.

A Diocese, cuja Comissão de Justiça e Paz era co-organizadora, afirmou que seus membros da linha de frente estão preocupados que a lei de Hong Kong possa ser violada de alguma forma.

- Décadas apagadas em meses -

Qualquer discussão sobre a repressão de 1989 é proibida na China continental.

Mas no território semiautônomo de Hong Kong, esses incidentes eram estudados em algumas escolas e em grupos que defendiam o fim do domínio do Partido Comunista Chinês, algo que mudou com a nova lei de segurança.

Em apenas alguns meses, décadas de memória foram eliminadas quando as autoridades aplicaram uma lei que visa remodelar Hong Kong para se adequar à concepção autoritária de Pequim.

A Alliance, um dos mais notórios grupos de luta pela memória de Tiananmen que também organizava a vigília, está sendo perseguida após ser classificada como "agente estrangeiro" por incitação à subversão.

Em setembro passado, seus líderes foram presos, o Museu 4 de junho foi fechado após uma batida policial e todos os seus registros digitalizados da repressão foram eliminados por uma ordem policial para fechar o site e as mídias sociais do grupo.

Para outras organizações, a incerteza sobre a nova legislação é suficiente para fazê-las recuar.

Nesse clima, seis universidades retiraram monumentos relacionados à repressão de 4 de junho que estavam há anos em suas dependências.

O "Pilar da Vergonha" da Universidade de Hong Kong (HKU), uma escultura de seis metros do artista dinamarquês Jens Galschiot, foi desmontado, colocado em um contêiner e deixado em um terreno rural.

Na Universidade de Lingnan, uma parede em relevo projetada pelo artista Chen Weiming foi banida e colocada em um depósito.

Sua estátua "Deusas da Democracia" da Universidade Chinesa de Hong Kong foi enviada para um local secreto.

"Estão tentando apagar um episódio vergonhoso da história em que o Estado cometeu crimes contra seu próprio povo", disse Chen à AFP.

As universidades alegam que nunca consentiram com a presença das estátuas e que sua remoção se baseia nos riscos legais em que incorrem.

- Vigílias no exterior -

No local onde estava a Deusa, agora restam apenas marcas do pedestal.

"Em alguns anos, ninguém saberá o que aconteceu", disse Galschiot à AFP.

Nas bibliotecas públicas da cidade, 57 livros sobre Tiananmen não estão mais disponíveis, segundo uma contagem da Hong Kong Free Press.

Em vez disso, o espaço para a memória da repressão está ganhando espaço fora de Hong Kong. Dissidentes exilados estão montando seus próprios museus em lugares como Estados Unidos, e outros ativistas planejam reerguer "Pilares da Vergonha" em Taiwan.

Vigílias serão realizadas em todo o mundo em 4 de junho e a Anistia Internacional está coordenando eventos em 20 cidades para "pedir justiça e mostrar solidariedade a Hong Kong".

O sobrevivente de Tiananmen Zhou Fengsuo, que mora nos Estados Unidos, disse à AFP que nos últimos anos tem vido um número crescente de pessoas no Ocidente se juntar a esses eventos, incluindo imigrantes recentes de Hong Kong.

"Estou grato por Hong Kong ter carregado a tocha da memória da Tiananmen nos últimos 30 anos", comentou Zhou à AFP. "Agora é nosso trabalho fazê-lo fora de Hong Kong".


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