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Estado de Minas PARIS

Serebrennikov joga luz sobre esposa de Tchaikovsky em Cannes


18/05/2022 18:25

Com "Tchaikovsky's Wife", exibido no Festival de Cannes nesta quarta-feira (18) e que disputa a Palma de Ouro, o "enfant terrible" do cinema russo, Kirill Serebrennikov, joga luz sobre Antonina Miliukova, a mulher com quem o famoso compositor se casou para esconder sua homossexualidade.

Até agora, a versão quase oficial da vida de Piotr Ilich Tchaikovsky é baseada na biografia soviética de Igor Talankin (1969), uma referência na Rússia, onde a homossexualidade do compositor é colocada nas entrelinhas, e também no filme "Delírio de Amor", de Ken Russell (1971).

O filme de Serebrennikov narra em 2h23 a vida e o sofrimento de Miliukova, na pele da atriz Alyona Mikhailova.

A produção tem um tom muito mais clássico e menos carregado que "Petrov's Fever", que disputou a Palma de Ouro em 2021, mas sem chegar ao entusiasmo de "Leto" (na disputa em 2018), sobre o rock soviético.

"É um filme sobre alguns episódios de sua vida e sobre uma mulher obcecada por ele", disse à AFP Kirill Serebrennikov, em abril em Berlim, onde mora atualmente.

"Mostra sua versão dos fatos e é interessante já que Antonina Miliukova é uma personagem totalmente esquecida", afirmou o diretor, para quem este filme foi o "início de uma grande viagem" no universo do compositor do "Lago dos Cisnes".

- "Desconhecido" -

Há alguns anos, quando Serebrennikov buscava financiamento público para este longa, o então ministro russo da Cultura Vladimir Medinski (atualmente chefe da delegação russa nas negociações com a Ucrânia), "queria que seguíssemos a versão soviética" da vida do compositor, explicou.

Na Rússia, "Tchaikovsky é um monumento que não sofreu, que não teve vida privada", afirmou. Segundo ele, sua vida íntima segue sendo "desconhecida para os russos, como as de Dostoiévski e Tolstói".

Serebrennikov, que se baseou nas obras do especialista russo-americano Alexander Poznanski, afirma que sua vontade era mostrar como esta tumultuada relação foi também fonte de "inspiração para suas extraordinárias criações".

Ainda que a homossexualidade do compositor seja conhecida há tempos, fragmentos de cartas de Tchaikovsky publicados sem censura pela primeira vez em 2018 revelam que ele sofreu por amor e tinha atração por homens.

"Encontrei um homem de beleza avassaladora (...) Depois de uma caminhada, ofereci-lhe dinheiro, que ele recusou", escreveu em 1880 ao irmão Modesto, também homossexual e libretista de sua ópera "A Dama de Espadas".

No mesmo ano, descreve seu assistente, Alexei Sofronov, seu amante mais fiel, como "uma criatura angelical", de quem gostaria de ter sido "escravo, brinquedo, propriedade".

Estas passagens foram censuradas após sua morte, primeiramente por seus irmãos e depois pelo regime soviético.

"Inclusive agora, muita gente não acredita e considera que é uma tentativa de arruinar a reputação do melhor compositor russo", afirma à AFP Marina Kostalevski, professora de russo do Bard College em Nova York, que copublicou uma compilação de cartas.

- "Ser normal" -

Segundo ela, Tchaikovsky se casou com Antonina Miliukova, ex-aluna do Conservatório de Moscou, que lhe escreveu uma carta de admiração, pois "queria ser normal aos olhos da sociedade", mas também para proteger seu entorno dos rumores.

"Quero me casar ou ter um relacionamento público com uma mulher para calar a boca de toda essa escória, cuja opinião não importa para mim, mas que faz sofrer as pessoas próximas a mim", escreveu o compositor a Modesto em 1876.

Mas o músico "rapidamente percebeu seu erro (...)" e depois "descreveu ao irmão Anatoli a tortura que era estar com ela e como ele tinha medo de que ela tentasse se aproximar fisicamente dele", explica Marina Kostalevski. Ele ainda tentou cometer suicídio em um rio congelado.

E Antonina Milyukova? Por muito tempo, os biógrafos atribuíram a ela o sofrimento de Tchaikovsky, chamando-a de louca - ele mesmo disse que ela era uma "víbora" -, mas atualmente os pesquisadores são menos categóricos.

Em "Antonina Tchaikovskaya: História de uma vida esquecida", de Valery Sokolov, a autora "tenta provar que ela não era esse monstro descrito por alguns biógrafos", diz a professora Kostalevski.

A vida de Antonina, que terminou em um hospital psiquiátrico, "foi totalmente destruída".

Embora tenham vivido juntos por muito pouco tempo - nunca se divorciaram - é nessa época que o compositor criou uma de suas obras-primas, a ópera "Eugene Onegin", baseada no famoso romance de Pushkin e influenciada por esse relacionamento impossível.


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