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Estado de Minas RIO DE JANEIRO

Para bailarino brasileiro, deixar Bolshoi de Moscou foi escolha difícil, mas 'óbvia'


14/05/2022 11:46

No dia em que a Rússia anunciou a invasão da Ucrânia, o bailarino brasileiro David Motta, solista principal do Teatro Bolshoi, só se faz uma pergunta: 'como' deixar o país onde havia passado metade de sua curta vida e onde se tornou uma promessa do balé.

Desde o fatídico 24 de fevereiro, este jovem de 25 anos já assinou contrato com o Staatsballett de Berlim, mas antes se deu ao luxo de se apresentar em casa, para o público do Rio de Janeiro, que o verá neste sábado no papel do príncipe Sigfrido em "O Lago dos Cisnes", obra icônica criada precisamente no Bolshoi de Moscou.

Com belas feições e silhueta longilínea, Motta explica serenamente como tomou a decisão "mais difícil" de sua vida, após secar o suor ao final do ensaio geral no Teatro Municipal.

"Hoje eu me sinto mais calmo porque os acontecimentos trouxeram um turbilhão de emoções (...) Fiquei dias sem dormir, sem saber por onde ia recomeçar", explica Motta, ainda vestido com as meias brancas e o traje de veludo com bordados dourados de seu personagem.

Embora Motta tenha sido um dos primeiros, "todos" os bailarinos estrangeiros do lendário balé do Teatro Bolshoi, nas mãos do governo russo, acabaram deixando o país.

"A gente tinha que sair, obviamente", em solidariedade com o povo ucraniano; a questão era "como", explica o jovem.

Diante do temor de um fechamento das fronteiras, ele elaborou "uma rota de fuga": reservou um primeiro voo de Moscou a Istambul e dali voou para Milão, antes de viajar para o Brasil.

- Russos culpados pela guerra de Putin -

Embora não se arrependa, Motta lamenta que a guerra deixe os artistas, cuja vocação é unir culturas e países, em uma posição de fogo cruzado, e castiga especialmente os russos, que foram vetados em uma série de eventos no exterior, assim como seus esportistas.

"Infelizmente, os russos são culpados pelo que uma pessoa no governo está fazendo", acrescenta, em alusão ao presidente russo, Vladimir Putin.

Mas Motta não se excede: "Falar mal jamais porque é um país onde cresci, onde tive um aprendizado muito grande e levarei sempre comigo no coração".

Natural de Cabo Frio, litoral norte do Rio de Janeiro, Motta descobriu muito cedo sua paixão pelo balé e depois de se destacar em um concurso internacional em Nova York, conseguiu uma bolsa para a Academia do Bolshoi custeada pelo Itamaraty.

Com apenas 12 anos, trocou as praias tropicais de sua cidadezinha pelo frio da capital russa.

"Fui sozinho. Lembro todo desse momento: minha chegada na escola, era inverno, estava tudo branco, muito frio", explica com certa saudade sobre o país onde acabou tendo uma segunda "família".

Motta formou-se em 2015, ano em que ganhou o primeiro prêmio no Concurso de Jovens Bailarinos da Rússia. Foi galgando posições no Bolshoi até chegar ao posto de solista principal, apenas abaixo do primeiro bailarino, protagonizando clássicos como "Dom Quixote" e "O Quebra-nozes".

- "O ar que respiro" -

"O balé significa tudo (para mim). É o ar que respiro. A gente dorme pensando no balé (...) A gente está sempre procurando evoluir e nunca parar", admite.

Na estreia deste sábado, quando as luzes se apagarem e a orquestra começar a tocar as primeiras notas de "O Lago dos Cisnes", Motta admite que sentirá uma emoção especial pela presença de seus pais.

"Para minha família é a oportunidade para me ver dançar depois de todo o esforço que foi feito para que me formasse no Bolshoi. Poder mostrar o fruto do meu trabalho, acho que não tem preço", explica este bailarino que só se apresentará três noites no Teatro Municipal, antes de se mudar no fim do mês para Berlim.

No Staatsballett alemão, ele entrará já como bailarino principal, embora ainda não saiba com qual obra vai estrear. Na verdade, nem mesmo conhece a cidade, nem fala alemão. Mas isso não deveria ser um problema para um brasileiro que aos 12 anos aprendeu russo a 11.000 km de casa.


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