Esta especialista em imagens de computador, que desenvolve algoritmos para observar fenômenos distantes, ajudou a criar o programa que levou à divulgação da primeira imagem de um buraco negro em uma galáxia distante, em 2019.
Rapidamente, ela se tornou uma espécie de superestrela mundial da ciência e foi convidada para dar palestras sobre seu trabalho.
Agora, voltou a desempenhar um papel-chave na criação de uma imagem inovadora do buraco negro supermaciço situado no coração da nossa galáxia, a Via Láctea, um corpo cósmico conhecido como Sagitario A*.
Seu grupo de trabalho na Event Horizon Telescope Collaboration, que revelou sua imagem impressionante nesta quinta-feira, teve o trabalho de reconstruí-la a partir da massa de dados compilados por telescópios de todo o mundo.
Bouman falou com a AFP pouco após o grande anúncio.
Pergunta - Como se compara esta descoberta com a de 2019?
Resposta - A primeira foi muito emocionante porque foi a primeira e poder ver um buraco negro pela primeira vez foi espetacular. Mas acho que o santo graal do Event Horizon Telescope sempre foi a imagem de Sagitario A*.
A razão é que temos muito mais informação de outras observações sobre como esperávamos que Sgr A* se parecesse. E ao poder ver uma imagem disso, é muito mais fácil para nós ver como coincide com o que se esperava das observações prévias e da teoria.
Sendo assim, penso que embora seja a segunda imagem que mostramos, na realidade é muito mais emocionante por essa razão, podemos usá-la para realizar mais testes sobre nossa compreensão da gravidade".
P - Por que foi mais difícil obter uma imagem do "nosso" buraco negro, que do M87*, situado muito mais longe?
R - Recompilamos os dados de M87* e Sgr A* na mesma semana de 2017, mas demoramos muito mais a fazer uma imagem de Sgr A* que de M87*.
Sgr A* tem várias outras coisas que tornam muito mais difícil para nós captar uma imagem. De fato, estamos observando o buraco negro através do plano da galáxia. E isso significa que o gás na galáxia na verdade dispersa a imagem. Faz com que pareça que estamos olhando o buraco negro através de uma janela esmerilhada, como em um chuveiro. Isso é um desafio.
Diria, no entanto, que o maior desafio que enfrentamos é o fato de que o buraco negro está evoluindo muito rápido. O gás em M87* e Sgr A* se move aproximadamente na mesma velocidade.
Mas enquanto leva dias ou semanas para fazer uma órbita completa ao redor de M87*, para Sgr A* está evoluindo minuto a minuto.
P - O que são e por que os buracos negros fascinam?
R - Rompem com o que sabemos na Terra. Nem mesmo a luz pode escapar deles e distorcem o espaço-tempo ao seu redor. São essa coisa misteriosa e acho que capturam nossa imaginação. O que é mais genial que trabalhar sobre os buracos negros? E poder tirar uma foto disso, de algo que não se deveria poder ver... Acho que é fascinante.
P - O que mais espera? Filmar um buraco negro?
R - Acho que isso é só o começo. Agora que temos esses laboratórios de gravidade extrema, podemos melhorar nossos instrumentos e algoritmos, para que possamos ver mais deles e fazer mais experimentos científicos.
Fizemos uma primeira tentativa de conseguir um filme e progredimos muito, mas ainda não estamos no ponto de poder dizer "é assim que Sgr A* se vê minuto a minuto". Então, vamos tentar adicionar novos telescópios no mundo, compilar mais dados para poder mostrar algo que saibamos com segurança.
WASHINGTON