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Estado de Minas MADRI

Diretora do serviço secreto espanhol demitida após espionagem de políticos


10/05/2022 09:47

A diretora do serviço secreto da Espanha, Paz Estebán, foi demitida, na esteira do escândalo do caso de espionagem dos telefones celulares do primeiro-ministro Pedro Sánchez e de vários integrantes do movimento separatista da Catalunha - informou a ministra da Defesa, Margarita Robles, nesta terça-feira (10).

"O governo acertou hoje a mudança na direção do CNI (Centro Nacional de Inteligência)", declarou a ministra, em entrevista coletiva depois do conselho de ministros, admitindo que "há deficiências, há falhas".

O governo também anunciou que, após a conclusão das análises dos aparelhos de todos os integrantes do Executivo, o smartphone do ministro do Interior, Fernando Grande Marlaska, também foi objeto de espionagem com o software israelense Pegasus, assim como os de Sánchez e da própria Robles.

O "caso Pegasus" - pelo qual o movimento de independência catalã, chave para a estabilidade parlamentar do governo do socialista Pedro Sánchez, havia exigido cabeças - tem sua primeira grande vítima.

A secretária de Estado de Defesa, Esperanza Casteleiro, substituirá Paz Esteban à frente do CNI.

- 'Não é suficiente' -

A destituição de Esteban não aplacou a revolta dos separatistas catalães e indignou a oposição.

"Não é suficiente", disse à imprensa a porta-voz do governo catalão, Patricia Plaja, que exigiu a renúncia de Robles nos últimos dias.

"Sánchez acaba com o grotesco e oferece a cabeça da diretora do CNI aos separatistas, enfraquecendo o Estado, mais uma vez, para buscar sua sobrevivência", tuitou Alberto Núñez Feijóo, líder do primeiro partido de oposição, o conservador Partido Popular (PP).

Na última quinta-feira (5), Esteban compareceu perante uma comissão parlamentar para dar explicações, mas não convenceu os parlamentares aliados do governo, a extrema-esquerda e os separatistas catalães e bascos.

Ainda não se sabe quem espionou o governo e, em relação aos separatistas catalães, como se soube após uma comissão parlamentar, o CNI admitiu ter vigiado 18 dirigentes com mandado judicial. Entre eles, está o presidente regional catalão, Pere Aragonés, quando era vice-presidente.

O escândalo explodiu antes disso, em 18 de abril, quando a organização canadense Citizen Lab identificou mais de 60 pessoas da órbita separatista catalã, cujos telefones celulares teriam sido infectados entre 2017 e 2020 com o software de espionagem israelense Pegasus. Este programa permite acessar dados, ou ativar câmeras e microfones de um telefone, remotamente.

Tanto o Pegasus quanto a empresa israelense que o criou, NSO, foram criticados depois que o Citizen Lab revelou, no ano passado, que o software foi usado para espionar centenas de políticos, jornalistas, ativistas de direitos humanos e empresários.

- E quem espiona o governo? -

O assunto deu uma reviravolta, quando o governo anunciou, na semana passada, que Pedro Sánchez e a ministra Margarita Robles também foram espionados, por meio do mesmo programa de computador, em maio e junho de 2021.

O governo assegura que a invasão dos telefones de Sánchez e dos ministros da Defesa e do Interior foi produto de um "ataque externo", sem dar mais informações a respeito. Já a imprensa espanhola especule que o Marrocos, com quem Madri acabou de encerrar uma crise diplomática de quase um ano, pode estar por trás da ofensiva.

Pedro Sánchez é o primeiro chefe de governo que anunciou ter sido espionado pela Pegasus.

Formada em Filosofia e Letras e especialista em História Antiga e Medieval, Paz Esteban, de 64 anos, tornou-se a primeira mulher a liderar os serviços de Inteligência em 2020. Ela começou a trabalhar nesta agência há quase 40 anos.

Em seu discurso de posse há dois anos, prometeu "liderar o projeto de transformação digital" do CNI, para melhor adaptá-lo "à sociedade do conhecimento, em que vivemos, e ao que isso implica tecnologicamente".

- Escândalos dos serviços de Inteligência -

O CNI presta contas ao governo, ao Parlamento - a uma comissão de segredos oficiais - e ao Judiciário, ao qual deve solicitar permissão para grampear telefones.

Politicamente muito sensível, esse escândalo de espionagem tinha um potencial destrutivo para este governo de esquerdas.

Os independentistas catalães da ERC chegaram a exigir a renúncia da ministra Robles para continuar apoiando Sánchez, cujo mandato vai até o fim de 2023.

Vários partidos também puseram em xeque o momento exato em que o governo revelou a espionagem sofrida. Questiona-se se, na verdade, o Executivo já sabia destes ataques e decidiu torná-los públicos apenas para acalmar os separatistas catalães, mostrando-se, assim, como mais uma vítima do Pegasus.

Os serviços secretos espanhóis, que sofreram grandes reorganizações após a chegada da democracia em 1978, protagonizaram vários escândalos nas últimas décadas.

Em 1995, escutas telefônicas ilegais acabaram custando o cargo de dois antecessores de Robles e Esteban, Julián García Vargas e Emilio Alonso Manglano, respectivamente, assim como do vice-presidente do governo socialista na época, Narcís Serra.

Mais recentemente, o ex-diretor do CNI Félix Sanz Roldán foi acusado por uma ex-amante do rei emérito Juan Carlos I de tê-la assediado para que não revelasse segredos, o que ele negou.


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