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Estado de Minas BUCHA

O que se sabe dos 'crimes de guerra' em Bucha


29/04/2022 10:15

A Ucrânia e os países ocidentais acusam a Rússia de cometer "massacres" e "crimes de guerra", após a descoberta de dezenas de corpos em várias cidades da região de Kiev ocupada pelas forças russas em março.

Tudo começou em 2 de abril, em Bucha, onde jornalistas da AFP encontraram 20 corpos na rua Yablunska.

Desde então, a AFP entrevistou dezenas de testemunhas, teve acesso a uma lista de corpos encontrados nesta cidade - às vezes com detalhes sobre as circunstâncias da morte - e a certidões de óbito de dez pessoas.

A seguir, o que se sabe até o momento sobre esses eventos, que provocaram condenação mundial e novas sanções contra a Rússia.

- Cidade devastada -

Bucha, uma cidade pacífica de 37.000 habitantes a 30 quilômetros de Kiev, foi - como outras localidades ao redor da capital - palco dos combates mais violentos desde o início da guerra, em 24 de fevereiro.

O Exército russo entrou em Bucha em 27 de fevereiro, mas a batalha durou vários dias, com as tropas russas sofrendo pesadas perdas.

Várias operações para a retirada de civis foram realizadas até 12 de março, quando as autoridades disseram que não tinham mais controle, ou acesso à cidade, onde cerca de 4.000 pessoas estavam presas.

Os combates em torno de Bucha não pararam e, no fim de março, as tropas russas se retiraram da cidade.

Em 1º de abril, o prefeito Anatoli Fedoruk anunciou que 31 de março entraria para a "história" da cidade como "o dia de sua libertação".

- Primeiras descobertas -

Uma equipe de jornalistas da AFP entrou em Bucha em 2 de abril e viu prédios e casas arrasados, carcaças de carro e ruas cheias de escombros.

Caminhando pela rua Yablunska, uma das mais longas de Bucha, os jornalistas da AFP descobriram, espalhados por centenas de metros, os corpos de 20 homens em trajes civis.

Um deles estava deitado sobre sua bicicleta, outro tinha sacos de provisões ao lado. Outro tinha as mãos amarradas atrás das costas. Pelo menos dois corpos apresentavam grandes ferimentos na cabeça. A aparência dos cadáveres sugeria que estavam ali há vários dias.

- Quantos mortos? -

Durante a ocupação russa, várias valas comuns foram cavadas pelas autoridades locais, pois os três cemitérios da cidade, dentro do alcance dos tiros russos, ficaram inacessíveis.

Após a retirada das tropas de Moscou, cerca de 410 corpos foram encontrados, seja nessas sepulturas, em quintais, ou simplesmente ao ar livre, segundo o chefe de polícia local, Vitaly Lobass.

"A maioria morreu de forma violenta" por tiros, disse Lobass, em 20 de abril.

No total, mais de 1.000 corpos civis foram encontrados na região, de acordo com a vice-primeira-ministra ucraniana, Olga Stefanishyna.

- "Cena de crime"

Nos dias que se seguiram à descoberta dos corpos, imagens de outros cadáveres em Bucha foram publicadas em pátios, jardins, ou no porão de um sanatório, alguns com as mãos amarradas nas costas.

E os primeiros depoimentos começaram a surgir.

"Eles atiraram na minha frente em um homem que ia comprar comida no supermercado", contou à AFP Olena, que viveu com seus dois filhos, por um mês, em um porão sem eletricidade.

Em visita a Bucha em 13 de abril, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), o britânico Karim Khan, descreveu a Ucrânia como "cena de crime" e anunciou que uma equipe médico-legal trabalharia na cidade.

Em 25 de abril, Khan informou que seus investigadores se juntaram à equipe conjunta de investigação sobre crimes de guerra na Ucrânia, formada em março por Lituânia, Polônia e Ucrânia com o apoio da Eurojust, a agência da União Europeia (UE) para cooperação judiciária.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet, declarou em 22 de abril, durante uma missão em Bucha, que seus investigadores "documentaram o assassinato, incluindo execução sumária, de cerca de 50 civis".

- Negação russa -

Moscou imediatamente negou que suas tropas tivessem cometido um massacre. Horas após a publicação das fotos dos corpos na rua Yablunska, o Exército russo disse se tratar de "falsificações" e de uma encenação.

Para justificar essa suposta "encenação", citaram um cadáver que teria movido a mão em um vídeo, ou outro que foi visto se levantando no espelho retrovisor de um carro.

No local desde 3 de abril, uma equipe da AFP fotografou esses dois corpos imóveis exatamente no mesmo local e na mesma posição do vídeo, o que põe a alegação de Moscou em xeque. Além disso, uma análise da AFP, com um vídeo de melhor qualidade do que o usado pelo Exército russo, mostra que os corpos não se movem.

Vladimir Putin falou de uma "provocação grosseira e cínica" de Kiev. A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, mudou seu ângulo de ataque. Segundo ela, ou Kiev executou os civis em Bucha, ou transportou cadáveres para o local em uma encenação.

Imagens de satélite da empresa americana Maxar Technologies e análises de fotos tiradas pela AFP confirmam, porém, que vários corpos estavam ali há pelo menos três semanas.

- Busca pelos culpados -

Apesar das negações russas, a Ucrânia e seus aliados ocidentais afirmam ter "provas" de que as forças russas são responsáveis pela maioria das mortes de civis em Bucha.

Na quinta-feira (28), o Ministério Público ucraniano anunciou que dez soldados russos da 64ª Brigada de Fuzileiros Motorizados estavam sob investigação por supostos crimes em Bucha ligados ao "tratamento cruel de civis e a outras violações da lei e dos costumes de guerra".

De acordo com comunicações de rádio de soldados russos interceptadas pelos serviços alemães de Inteligência, membros do grupo de mercenários russos Wagner - já implantados no conflito no Donbass ucraniano em 2014 e, depois, na Síria e na África - também participaram dos supostos crimes.


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