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Estado de Minas KIEV

Ucrânia denuncia novo 'muro' na Europa após três semanas de invasão russa


17/03/2022 11:45

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou nesta quinta-feira (17) que a Rússia está criando um novo "muro" na Europa, "entre a liberdade e a escravidão", depois que seu governo acusou Moscou de bombardear um teatro que abrigava civis refugiados e no qual estava escrita a palavra "crianças", visível do céu.

"Não é um muro de Berlim, é um muro na Europa Central entre a liberdade e a escravidão, e este muro fica maior a cada bomba lançada sobre a Ucrânia", disse Zelensky em uma mensagem de vídeo exibida na Câmara Baixa do Parlamento alemão.

Zelensky discursou aos parlamentares da Alemanha um dia depois de falar ao Congresso dos Estados Unidos, cujo governo anunciou um bilhão de dólares em ajuda militar, incluindo mísseis terra-ar Stinger, como os que eram usados contra as forças soviéticas no Afeganistão.

"Querido sr. chanceler (Olaf) Scholz, derrube este muro. Dê à Alemanha o papel de liderança que merece", afirmou ao chefe de Governo alemão, ao evocar o apelo feito durante a Guerra Fria pelo então presidente americano, Ronald Reagan, em Berlim.

Nesta quinta-feira, Kiev, onde o cerco das tropas russas é cada vez mais intenso, saiu de um toque de recolher de 35 horas.

Durante a manhã, após um ataque russo, jornalistas da AFP observaram um homem, desesperado, agachado ao lado de um corpo ensanguentado diante de um prédio de apartamentos atingido por um foguete.

Em outras áreas do país, os bombardeios não dão trégua, segundo as autoridades ucranianas. Em Merefa, uma cidade próxima de Kharkiv, no nordeste, ao menos 21 pessoas morreram e 25 ficaram feridas em um bombardeio que atingiu uma escola e um centro cultural, anunciou o Ministério Público regional.

- "Crianças" -

O ministério russo da Defesa negou ter atacado o teatro na cidade portuária de Mariupol, sul da Ucrânia.

As informações chegam a conta-gotas e, às vezes, são contraditórias.

De acordo com as autoridades locais mais de mil refugiados estavam no teatro. A ONG Human Right Watch (HRW), que destacou a falta de dados, cita a presença de pelo menos 500 pessoas.

Moscou afirma que o edifício foi alvo de um ataque de militantes do grupo ucraniano de extrema-direita Batalhão Azov, o que foi negado pelos países ocidentais, que acusam a Rússia de gerar desinformação.

Para Zelensky, o ataque demonstra que a "Rússia virou um Estado terrorista".

O deputado ucraniano Sergyi Taruta afirmou no Facebook, sem citar fontes, que alguns sobreviventes começaram a ser retirados dos escombros - ao que parece o refúgio resistiu ao ataque.

O MP da Ucrânia afirmou que é "impossível estabelecer o número exato de vítimas porque acontecem bombardeios constantes".

De acordo com imagens de satélite do teatro captadas em 14 de março pela empresa privada Maxar, na frente e nos fundos do prédio, no chão, a palavra "crianças" estava escrita em russo.

As autoridades publicaram uma foto do edifício, com a parte central completamente destruída.

"A única palavra que descreve o que aconteceu hoje é 'genocídio', genocídio de nossa nação, de nosso povo ucraniano", denunciou o prefeito de Mariupol, Vadim Boyshenko.

Mais de 1.200 pessoas morreram em ações violentas em Mariupol desde o início da guerra, segundo fontes ucranianas.

As pessoas que conseguiram fugir da cidade descrevem uma situação humanitária crítica e relataram que tiveram que beber neve derretida e fazer fogo para cozinhar a pouca comida disponível.

"Piorava a cada dia. Não tínhamos energia elétrica, água ou comida. Não era possível comprar nada, em lugar nenhum", disse à AFP uma mulher que se identificou apenas como Darya.

Após o bombardeio, o presidente americano, Joe Biden, chamou Putin de "criminoso de guerra", o que provocou uma grande indignação no Kremlin.

Nesta quinta-feira, funcionários do governo ucraniano afirmaram que a Rússia aceitou nove corredores humanitários, incluindo um para que os civis consigam sair de Mariupol.

- "Puramente econômico?" -

Zelensky também criticou a Alemanha, que durante anos resistiu a romper os laços econômicos, em particular no setor de energia, com a Rússia.

"Caro povo alemão: como é possível que, quando dissemos que o Nord Stream 2 (gasoduto entre Rússia e Alemanha, cuja entrada em operação foi finalmente suspensa por Berlim) era uma forma de preparar a guerra, ouvíamos em resposta que 'era puramente econômico'?", questionou.

O chanceler alemão aplaudiu as "palavras contundentes" do presidente ucraniano, mas não respondeu diretamente aos pedidos de Zelensky.

"Estamos vendo: a Rússia continua a cada dia com sua guerra cruel, com perdas terríveis", escreveu no Twitter.

A Otan rejeitou os pedidos da Ucrânia de envolvimento direto no conflito, pelo temor de provocar a Terceira Guerra Mundial entre beligerantes com enormes arsenais nucleares.

Até o momento os países ocidentais forneceram ajuda militar. Joe Biden anunciou que os Estados Unidos também apoiarão a Ucrânia para adquirir novos sistemas de defesa antiaérea.

Apesar do cenário, Putin repetiu em uma reunião do governo que a operação é um "sucesso".

O chefe de Estado russo também condenou as sanções impostas pelos países ocidentais em resposta à invasão, depois que Moscou foi excluído da maior parte do sistema financeiro ocidental e afirmou que as medidas fracassaram.

Nesta quinta-feira, o Kremlin rejeitou a ordem da Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal da ONU, para interromper imediatamente a invasão da Ucrânia.

O ministério russo das Finanças afirmou que pagou juros de 117,2 milhões de dólares pela dívida externa e evitou, no momento, o default.

A nível global, a guerra pode custar um ponto percentual ao crescimento mundial ao longo de um ano caso os efeitos sobre os mercados de energia e financeiros perdurem, advertiu a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

A Europa será a região mais afetada pelas consequências econômicas da ofensiva, segundo a organização.

- "Modelo ucraniano" -

Mais de três milhões de pessoas fugiram do país, a maioria mulheres e crianças, segundo a ONU.

Zelensky afirmou nesta quinta-feira que 108 crianças morreram na guerra.

As duas partes conversaram por videoconferência em várias ocasiões esta semana.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a delegação russa está "fazendo grandes esforços e está disposta a trabalhar dia e noite, mas que os ucranianos não mostram tanto afinco".

Na quarta-feira, ele afirmou que um "compromisso" poderia ser alcançado para acabar com o conflito se a Ucrânia aceitar virar um país neutro, com base nos modelos da Suécia ou Áustria.

Mas o negociador ucraniano, Mikhailo Podolyak, destacou que o modelo da Ucrânia neste momento "só pode ser ucraniano".

Zelensky destacou nas últimas horas que as prioridades nas conversações são "claras: fim da guerra, garantias de segurança, soberania, restabelecimento de nossa integridade territorial, garantias reais para nosso país, proteção real para nosso país".


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