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Estado de Minas WASHINGTON

Cadeia de comando na Venezuela sabe das torturas de opositores, diz relatório


11/03/2022 21:14

A cadeia de comando da Venezuela está a par das torturas de opositores no país, revelou nesta sexta-feira (11) um relatório do Instituto Casla apresentado em Washington na presença do secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

"A hierarquia da ditadura sabe o que acontece nos centros de interrogatório", denunciou Almagro.

Ao menos 55 pessoas, 32 civis e 23 militares, dos quais 43 são homens, 10 mulheres e dois menores, foram vítimas de detenções arbitrárias, desaparecimento forçado temporário, torturas físicas psicológicas, torturas brancas e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, atos "de repressão sistemática por motivos políticos executados pelo Estado venezuelano" em 2021, afirma o instituto no relatório intitulado "Licença para matar".

Casla, um centro de estudos sobre a América Latina com sede em Praga, estima que haja muito mais vítimas. Uma delas, afirma o instituto, denunciou ter sido detida junto com 30 pessoas pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM).

O relatório se baseia em testemunhos de vítimas, oficias e funcionários de Inteligência da ativa, entre eles um general, e outros no exílio.

- Linha direta com Maduro -

"Toda a cúpula militar e civil é conhecedora do planejamento, da indução e do cometimento dos crimes", afirmou nesta sexta Tamara Sujú, diretora do Casla, que envia um relatório ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em apoio às denúncias feitas junto a esta instância.

"Obtivemos informação sobre como funcionários e oficiais têm linha direta com (o presidente venezuelano) Nicolás Maduro para a aprovação, atuações e procedimentos falsos de perseguição sistemática contra opositores civis e militares", acrescenta a advogada, cujo relatório também menciona o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, entre outros funcionários "apontados".

"Absolutamente nada ocorre quanto ao planejamento e a execução da repressão sem que Maduro e seus altos comandos saibam", observa.

O instituto denuncia o uso de novos métodos de tortura como açoites com barras de metal e cabos elétricos, submeter a vítima em um ponto fixo de madeira que, caso tente se sentar, se asfixia, mergulhá-la nua em um poço gelado, introduzir uma colher no nariz e nas orelhas, uso de substâncias que causam queimaduras, injeções que provocam alucinações e colocar uma pistola dentro da boca.

Algumas vezes, os algozes fazem jogos de guerra e simulações de fuzilamento ou brincam de roleta russa com as vítimas "enquanto os demais funcionários observam, sorridentes".

Algumas vítimas levam surras violentas, como Luis Lugo Calderón, que o relatou em um vídeo divulgado durante a apresentação: em 2014 "me aplicaram asfixia mecânica (...) queimaram os joelhos com um objeto metálico quente" e em 2015 me bateram "com um objeto contundente a ponto de fraturar meu esterno, levei descargas elétricas nas axilas e quando soltaram meus braços das correntes, vários funcionários começaram a me chutar e pular sobre meus testículos e minhas pernas".

Entre os centros de tortura, o Casla destaca o de La Mariposa, em Caracas, onde "as vítimas são levadas amarradas, encapuzadas e nuas por áreas de selva (...), as amarram nas árvores, as ajoelham simulando que vão fuzilá-las, brincam de roleta russa com elas, as submergem em poços lamacentos".

No escritório do DGCIN em Caracas há um quarto com sofá, TV e cafeteira, em cujo interior fica à vista uma "célula" de apenas 1,5 por 2 metros "onde torturam as pessoas", enquanto os funcionários levam uma vida normal, acrescenta.

"Os crimes contra a humanidade continuam aí, a tortura sistemática continua aí, as execuções extrajudiciais continuam aí, os presos políticos continuam aí. E enquanto isso, a enorme maioria do povo venezuelano passa fome, (vive na) miséria, se transforma na maior crise migratória do mundo", denunciou Almagro.

- "Execução" de mineiros -

"O relatório deixa em evidência que a hierarquia da ditadura sabe o que acontece nos centros de interrogatório e tortura" e também "a participação do regime cubano", afirma o secretário-geral.

Segundo o Casla, os oficiais cubanos se ocupam sobretudo de doutrinar e ministrar cursos "informando até que ponto têm que chegar", onde está o limite entre a vida e a morte.

"Os cubanos descem às celas de tortura e observam, quando veem que os funcionários não conseguem tirar nada, entram no quarto e começam a fazer perguntas à vítima" e se esta não responde, "eles mesmos pegam o objeto para torturar".

Na apresentação interveio a mãe de Mattew John Heath, um ex-marine americano detido há 18 meses na Venezuela, acusado de espionagem. Ela contou, chorando, que vive atormentada, perguntando-se: "Terá comido hoje? Está sendo torturado de novo?".

O Instituto Casla denuncia, ainda, "a execução de pelo menos 27 mineiros" nas mãos da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB).


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